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Tendo-se collocado a gente em ordem, marcharam immediatamente para a frente; os dous botes grandes, cada um com um canhão, remavam perto da tropa, junto á praia, e atiravam sempre que era mister, causando grande damno ao inimigo.

As chalupas Nachtegael e Gijsselingh navegavam tambem junto á costa e tambem atiravam.

Antes que a nossa gente estivesse toda desembarcada, o inimigo veiu com duas companhias, de infantaria e de cavallaria, para repellir os nossos, mas teve que fugir apressadamente; de sorte que os nossos avançaram até uma trincheira, da qual rapidamente o expelliu, e logo depois de uma outra O inimigo retirou-se para o seu terceiro reducto, onde tinha tres canhões, e deu uma forte descarga sobre os nossos com as ditas peças e mosquetes; mas os nossos, atacando-o valentemente, tomaram o reducto com grande perda do inimigo, e atiraram os canhões para fóra do baluarte.

Os nossos marcharam em seguida para o mercado, onde o inimigo se fortificara mais, porque a esse vão dar seis ruas, e o encheram com um baluarte de cinco pés de altura e com setteiras; na praça estavam montadas 2 peças de bronze e 10 de ferro.

O inimigo pretendia resistir ahi; mas a nossa gente atacou-o com tanto valor, que apenas poude descarregar uma vez os canhões; manteve-se, entretanto, resistindo, até que foi repellido com piques e espadas, morrendo uma grande parte, e tambem alguns dos nossos, sendo, comtudo, de feridos a maior parte da perda soffrida pelos nossos. Alguns dos hespanhoes fugiram para cima de umas casas, que tinham sotéas, assim como para uma egreja que estava no meio da praça, e deram muito que fazer aos nossos, para tiral-os dalli. Segundɔ a declaração dos prisioneiros, havia na cidade, quando os nossos a atacaram, 350 hespanhoes, 50 mulatos e negros, além de uns 1.000 indios. Os nossos fizeram 20 prisioneiros, um dos quaes mandaram ao governador don Juan de Barros, que fugira da cidade para o convento de S. Francisco, situado fóra da cidade, para saber se queria resgatar a cidade, a fim de que não fosse incendiada; mas elle respondeu-que isso não lhe competia, e que a burguezia podia fazer o que achasse melhor.

Os nossos encontraram em frente á cidade 22 navios, barcas e fragatas, a maior parte vasios e alguns carregados com couro e cacáo; as fazendas encontradas foram reunidas na egreja. No dia seguinte, foi mandado novamente um emissario ao governador, mas não voltou; os nossos trouxeram depressa couros e madeiras para as barcas capturadas, afim de leval-as para bordo, assim como no dia seguinte embarcaram algumas caixas com cera e 11 peças ou colubrinas. No dia 16, enviaram novamente o secretario Jacob Davits ao governador, para tratar do resgate de fogo da cidade e da soltura dos prisioneiros. O governador recebeu-o muito cortezmente, mas respondeu, por missiva, que podiam fazer o que quizessem da cidade; que elle não daria um real, nem pela cidade, nem pelos prisioneiros. Segundo os prisioneiros disseram, havia prohibição, por parte do rei, sob pena de morte, de resgatar cidades, gente ou navios.

Os nossos, achando-se tão fracos de tropas em uma tal praça, e comprehendendo que facilmente poderia vir muita gente dos povoados circumvisinhos, sabendo tambem quão mal tripulados haviam deixado os navios grandes, não acharam prudente demorar-se mais tempo alli, e, conduzindo para bordo o que tinha algum valor, trataram de embarcar-se; no dia seguinte, levaram comsigo os prisioneiros e nove dos navios inimigos e incendiaram os restantes; á cidade não fizeram mal algum, nem lhes era facil fazel-o, porque eram casas fortes de pedra. Parece que o governador, notando o pequeno numero da nossa gente, procurava detel-a, até que, recebendo reforço de Merida e dos logares adjacentes, pudesse cahir sobre os nossos na cidade deserta. Foi um dos feitos mais ousados e praticado com tão pouca gente, pois, se os hespanhoes, quando os nossos os atacaram com tanto ardor no mercado, tivessem ido para cima da sotéa da egreja, teriam alli um parapeito de pedra e matariam os nossos atirando-lhes pedras de lá; mas não ousaram enfrentar por mais tempo a coragem dos neerlandezes. Foram, no entretanto, valentes no principio, não exceptuando os padres; quando a nossa gente desembarcou, elles poderiam facilmente repellil-a, mas tres dos seus chefes mais valentes cahiram mortos pelas balas dos canhões das chalupas, e isso produziu confusão e consternação entre elles.

A cidade de S. Francisco de Campeche é bem situada, porque os navios grandes, por ser a costa plana, não ousam approximar-se além de 3 ou 4 leguas; e é tambem bem construida, como se póde ver pela gravura. Tem tres egrejas, a saber: a egreja grande, a egreja de S. Romão e mais uma nova, que chamam de los Remedios, e fora da cidade um bello convento chamado de S. Francisco, do qual parece que a cidade tirou o nome; chamam-na geralmente de Campeche, por causa da madeira de tinturaria, que é agora bastante conhecida na Europa. A nossa gente poderia ter feito alli mais alguma cousa, se dispuzesse de mais forças; mas faltava-lhe agora o navio Zutphen, no qual havia 60 soldados, e que, como já foi dito, se perdera da esquadra.

No dia 18, chegaram aonde estavam os navios grandes, e a gente foi reembarcada, cada um no seu logar competente, e as fazendas capturadas tambem foram trasladadas para elles; ahi vieram alguns hespanhoes, para comprar as barcas trazidas, depois que fossem descarregadas, e ficaram com quatro e depois mais uma, e os prisioneiros foram soltos nas outras quatro, resgatadas por ultimo.

No dia 24, pela manhã, fizeram-se á vela, e tomaram o rumo do norte, tendo á noite vento da terra e de dia do mar; viram, ao meio-dia, que a latitude era de 20°, 45', e calcularam estar á tarde em Sisal. Mas, ainda que encontrassem na sondagem cinco e quatro braças de profundidade, não viram terra alguma; porque, segundo a observação dos hespanhoes, de Sisal se extende umas oito leguas pelo mar um recife, onde ha apenas tres pés de profundidade. No dia seguinte, acharam-se na latitude de 21°, 11', e seguiram pouco a pouco, encontrando sempre fundo até ao ultimo de Agosto.

No dia 10 de Setembro tinham a latitude de 26°, 20', ganharam depois disso a latitude para o sul, e no dia 15, estando na latitude de 26°, acharam

na sondagem 90 braças, no dia seguinte 60 braças e a latitude de 25°, 40', e no outro dia 40° e 36 braças:

No dia 18, pela manhã, avistaram Pan de Matança, oito ou nove leguas ao sul, e, ainda que desejassem passar em frente de Havana, para ver o que havia por lá, acharam que descahiram muito de lá, arrastados pela corrente. Julgaram prudente, portanto, navegar com os navios grandes para a Republica, pelo canal de Bahama, e mandar sómente o yacht Otter e as chalupas Nachtegacl ao cabo de Santo Antonio, para navegar pelo sul de Cuba para a Tortuga, situada ao norte de Hispaniola, e saber lá ao certo o que havia sobre a tomada da ilha de S. Martinho, como lhes fôra dito por um prisioneiro hespanhol, devendo depois fazer o que conviesse ao serviço da Companhia. A esquadra chegou a Texel, depois de alguma demora, por tempestade e mau tempo, no dia 11 de Novembro.

rc

Voltemos agora ao Brasil. Os srs. directores delegados, julgando certamente que, para fazer perder o credito em que o governador Albuquerque era tido no paiz, retirar-lhe a sympathia dos habitantes e levar a estes o desanimo, era necessario não sómente trazer por ataques continuos os soldados em alarma, e por multiplos damnos deixar os habitantes abatidos, mas tambem fazer o inimigo experimentar mais longe as nossas armas, para que finalmente não soubessem onde nos deviam aguardar, ou para onde se voltarem solveram fazer uma expedição ao sul e mandaram para ella os seguintes navios e yachts: Pernambuc, Eendracht (de Dordrecht), Naerden, Vos, Vleer-muys, Weseltjen, Arara, Ceulen, Licht-hart (com uma pequena chalupa a vela) e dous botes grandes; iam embarcados nelles 300 mosqueteiros e outros tantos fuzileiros, contando ao todo 600 cabeças, compondo-se das companhias dos srs. delegados, do major Cloppenburgh, dos capitães Gartsman e Picard, e 100 mosqueteiros, tirados de todas as companhias, sob o commando do capitão Wildt-schut. Com esses navios e força, o sr. Jan Gijsselingh e o coronel, com o conselheiro politico Servaes Carpentier, fizeram-se á vela no dia 11 de Outubro, e, chegando no dia seguinte á Barra Grande, ahi desembarcaram; todavia, não se demoraram, e partiram immediatamente para Porto Calvo, porque souberam que estava alli prompta uma grande partida de assucar. Chegaram á meia-noite à foz do rio, e mandaram forças para todos os lados em busca de assucar, como haviam feito antes; quando começaram a approximar-se do rio, mandaram o major Cloppenburgh com a sua companhia para certo ponto. Encontraram na foz do rio um navio, no qual havia 38 caixas de assucar, C avistaram um pouco mais acima do rio uma barca, á qual não podiam chegar, porque não haviam trazido botes, e os do inimigo estavam do outro lado do rio; mas, como não estivesse longe da margem, collocaram alguns soldados alli, afim de impedirem que o inimigo atravessasse para esse lado, para incendial-a, ou pol-a a pique. Nesse interim, chegou o major Cloppenburgh, o qual encontrara um armazem com 43 caixas de assucar.

Como já amanhecera, o sr. Gijsselingh prometteu algumas canecas de

vinho a uns soldados, que mandou para a barca a nado, levando um sabre pendurado ao pescoço; encontraram lá 44 caixas de assucar.

Os mesmos nadadores foram buscar os botes do inimigo, sem resistencia alguma, porque aquelle fugira antes, e não lhes appareceu ninguem.

Esses botes vieram para os nossos muito a proposito, pois os seus yachis e botes, só tendo partido de manhã da Barra Grande, não poderiam chegar antes da tarde.

Esse rio é chamado pelos portuguezes Porto de Pedras, e cerca de cinco leguas acima delle está a aldeia ou villa a que propriamente chamam Porto Calvo. Com esses botes foi mandada immediatamente alguma gente ao outro lado do rio, para procurar assucar e trazer agua fresca, do que havia falta no lado do norte (onde estava a nossa gente); cavaram, depois, alguns poços, donde tiraram agua regular.

Como pela tarde chegasse o commandeur com os pequenos transportes, o coronel e o commandeur com alguns soldados, subiram o rio duas ou tres leguas, encontrando um armazem com umas 200 caixas de assucar, segundɔ calcularam; mas foi incendiado pelo inimigo, de sorte que apenas conseguiram uma caixa, que se achava junto ao porto, para ser embarcada; mais adeante, estava uma barquinha com 11 caixas de assucar, a qual trouxeram comsigo, e voltaram assim, descendo o rio, sem ver inimigo algum.

Embarcaram o mais depressa possivel nos yachts o assucar apresado, e, depois de passarem para o outro lado do rio toda a nossa gente, incendiaram os barcos pequenos e botes, alguma provisão de mastros, lemes para navios e outras cousas mais, que não acharam valer a pena conduzir, assim como atearam fogo a um navio bem grande, que chegara de Angola com 300 negros á Barra Grande, e, vendo de longe os nossos, correram para alli, deixando aquella gente com a maior parte de seus bens. Depois que os nossos passaram ahi os tres ou quatro dias acima descriptos, marcharam em seguida para Camaragibe; como, em caminho, tinham de passar o rio Tatona Mansa, ordenaram á chalupa Duysent-been que fosse dalli por dentro do recife de pedra, para passar a gente de um lado para o outro e que seguisse no dia immediato os yachts pelo lado de fóra.

Chegando ao rio, viram que a chalupa calava muito e encalhou na vasante; após longa busca, encontraram finalmente o logar onde se podia atravessar a vau, com agua pela cintura.

Ahi passaram para o outro lado o sr. Gijsselingh e o coronel, com duas companhias; o resto da gente, como a maré enchia, devia ficar no mesmo lado, até que a chalupa fluctuasse novamente. Encontraram no outro lado do rio uma pequena egreja e algumas casas, mas os portuguezes haviam fugido, de modo que não conseguiram espolio algum.

Como toda a gente estava agora reunida no outro lado, o sr. Gijsselingh, o major Cloppenburgh e alguns soldados, subiram o rio com a chalupa, por umas quatro leguas, e encontraram lá dous barcos, um vasio e o outro com algumas fazendas que os fugitivos do navio de Angola levaram comsigo,

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