Pues esta tal obra non es espantosa: E puesto que el fuego non puedo esperar, juntando las otras que son medianeras, Finida Assy qu'el fuego con agena friura Pela sua parte, tambem Vasco Pires de Camões dirigia perguntas a Fray Diego ácerca da creação do mundo. Em outra cantiga de Fray Diego, pergunta a Vasco Pires de Camões qual o motivo porque muitas vezes se dá um ai sem que nada nos dôa. O primeiro verso revela já as alternativas que o fidalgo gallego recebeu com a coroação de Enrique II, o bastardo fratricida; na terceira estrophe dá a conhecer que Vasco Pires de Camões era um grande sabio e bom conhecedor de medi 1 Cancionero de Baena, t. II, p. 176. - O Visconde de Juromenha, sabendo que Vasco Pires de Camões versejava, suppoz que os dois Sonetos n.o 290 e 291, em gallego, que andam nas Obras de Camões lhe pertenceriam; estes dois apocryphos são hoje reconhecidos como de Diogo Bernardes. cina: «Este Decir, como à manera de pergunta, fiso é ordonó el dicho fray Diego contra VASCO LOPES DE CAMÕES, Gallego: Vasco Lopes, amigo, Dios vos consuele, e mas vos ensalçe en onrra é bien... E vos, como sabio, dadme letuario (Ib., p. 187.) Pelos sacrificios pela causa do rei D. Fernando, recebeu Vasco Pires de Camões muitas doações importantes, que attestam o seu grande favoritismo; deu-lhe o rei por mercê a 15 de Março de 1373 a Quinta do Judeu, no termo de Santarem; por carta de 15 de Março de 1374, confere-lhe os bens de um tal Vasco Pires, do Chão de Couce, por que andava servindo na parcialidade do bastardo Enrique de Castella; em carta de 15 de Abril de 1378, concede-lhe o juro e herdade da Quinta de Gestaçó, Casaes e herdades em Evora Monte, Avis e Extremoz, que haviam pertencido á Infanta D. Beatriz; em carta de 28 de Fevereiro, faz lhe mercê de certas terras de Monte Mór-o-Novo, que pertenceram á mesma Infanta. Por decreto de 7 de Junho de 1380 é nomeado Alcaide mór de Portalegre, e em 1383 posto por Alcaide de Obidos, tendo já sido agraciado com o Senhorio do Castello de Alcanede, Villas do Sardoal, Pu nhete, Marvão e Amendoa. Pela sua parte D. Leonor Telles o nomeou aio de seu sobrinho D. Affonso, Conde de Barcellos. Todas estas liberalidades fôram causa de Vasco Pires de Camões seguir depois o partido do seu conterraneo o Conde Andeiro contra o Mestre de Avis. Chegou a tornar-se proverbial a medrança do fidalgo, e n'esse sentido apparece o seu nome em uma Carta em redondilhas de Manoel Machado de Azevedo a seu cunhado o poeta Sá de Miranda : Hade enfreiar sua penna (Est. 8.) A data d'esta Carta fixa-se pelo verso em que Sá de Miranda é tratado como: «Amigo, senhor e hirmão.» Aqui a palavra hirmão significa cunhado, parentesco estabelecido pelo casamento do poeta com D. Briolanja de Azevedo em 1536. A comparação ou parallelismo com João de Mena é tambem intencional, não pela relação do chefe da eschola poetica castelhana, mas por ser o poeta predilecto da côrte de Enrique II de Castella, o inimigo de D. Fernando de Portugal. Com Vasco Pires de Camões tambem veiu para Portugal um seu primo, Ayres Peres de Camões, ao qual allude o chronista Fernão Lopes: <Entonce ficou com elles Ayres Perez 1 Chancellaria de D. Fernando. Concelho por G. J. Carlos Henriques. Alemquer e seu de Camões, seu primo...» (Cap. 186, fl. 392, da Chronica de D. João 1.) Na sua Alcaidaria de Alemquer resistiu Vasco Pires de Camões contra o Mestre de Aviz; colligindo nas suas Chronicas as tradições coévas, Fernão Lopes retrata-o como um caracter venal, contratando com o Condesta vel a sua entrega por dinheiro: «E contado havemos como, jazendo o Mestre sobre Alemquer, preitejava com Vasco Pires de Camões, que lhe desse o logar com certas condições, em que se concordaram, recebendo entonce do Mestre soldo, elle e Gonçalo Tenreiro, seu sogro... e mandou Vasco Pires ao Mestre seu sogro - com recado sobre certas cousas, e quando tornou de Torres Vedras, parece que Vasco Pires nom foy contente da resposta ou por ventura tinha vontade de fazer aquello que fez, e buscou azo de o fazer mais sem prasmo.» (Cap. 186, fl. 391.) E accrescenta: «Fallando em esto de praça, o que lhe houverom por mal para fidalgo: - Olhay, que vos valha Deus, que boa preytesia fazia commigo o Mestre. Mandey lá meu padre Gonçalo Tenreiro com alguns desembargos, e nom me tornou nenhuma cousa, inda se me trouvera mil dobras emburilhadas em um trapinho, guardar-lhe ia preitesia; pois me me nom trouve nada, nom curo de lha guardar.» (Ib., fl. 393; e Cap. 17, fl. 34; Cap. 31, fl. 55.) Na Chronica do Condestavel, tambem se falla em Vasco Pires de Camões, que abraçara o partido de Castella: «Tendo Vasco Pires de Camões a Villa e o Castello de Alemquer por a rainha D. Leonor, e com muita gente de Castellãos e Portuguezes, o Mestre se partiu de Lisboa, e Nun'Alvares com elle, nam mais que com duzentas ou trezentas lanças e poucos homens de pé e bésteiros, e se foi a Alemquer sobre Vasco Pires. E fôram hy feitas muitas escaramuças da gente do Mestre com os que estavam na villa.» (Cap. 21.) Ficando vencedor o Mestre de Avis, confiscou-lhe grande parte dos seus bens: na carta de 15 de Março de 1384 dá o Mestre de Avis ao seu creado Gil Affonso parte dos bens que pertenceram a Vasco Pires de Camões; em 20 de Maio do mesmo anno, as casas que possuia em Lisboa, a um individuo de Alemquer. Ainda lhe deixou numerosas doações, taes como as herdades de Evora, Estremoz e Avis, de que fez varios morgados conhecidos pelo nome das Camoeiras. Em Evora dava-se o nome de Camoeiras ás casas do Recolhimento de Santa Maria Magdalena, assim chamadas por terem pertencido a descendentes de Vasco Pires de Camões; o morgado das Camoeiras, pertenceu a um seu bisneto Lopo Vaz de Camões, e no termo de Alemquer existiu outra propriedade com o titulo de Quinta de Camões. 1 Nas trovas de Fray Diego de Valencia, do Cancioneiro de Baena, allude-se á revolução de Portugal, e ao risco em que o poeta gallego estava de ser prezo: Mudamiento de rreyno, fambre, grandes daños, muertes muy esquivas, tiempos muy estraños, calores e frios, segunt que vos vedes. 1 Fonseca, Evora gloriosa, p. 233. |