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E no final da estrophe: « Que Dios vos aguarde de mala prision» determina-se nos o tempo das luctas de Dom João 1 com Castella. Quando Camões, nos Lusiadas exclama: Oh sordidos gallegos, duro bando,» (canto IV, st. 10) e mesmo Sá de Miranda empregava na sua endecha «Vilano, malo, gallego», achava-se apagado o conhecimento da unidade ethnica d'estes dois povos, e a fidalguia portugueza esquecia-se de que era na sua melhor parte oriunda de nobres familias de solares da Galliza. Estes factos não obstaram a que os dois excelsos poetas sentissem essa unidade, dando lhe a expressão nacional:

Do seu casamento com Maria Tenreira, foi primogenito Gonçalo Vaz de Camões, que não interessa immediatamente ao estudo do poeta. Do seu filho segundo João Vaz de

1 Apresentamos a genealogia do primogenito de Vasco Pires de Camões (1.o), para se conhecerem as homonymias que confundem a vida do Poeta:

2.0 Gonçalo Vaz de Camões, casou com Constança da Fonseca, filha de Antonio Vasques da Fonseca, Alcaide-mór de Moreira e de Marialva, e de sua mulher D. Mecia Lopes Pacheco; tiveram :

3.o Antonio Vaz de Camões, que succedeu no morgado de seu avô materno, Lourenço da Fonseca. Não se sabe com quem casou; teve:

Lopo Vaz de Camões;

D. Aldonça Annes de Camões, que foi mulher de Ruy Cacho ou Casco, Alcaide-mór de Avis.

4. Lopo Vaz de Camões, (1439-1449), casou com Ignez Gomes da Camara, filha de Diogo Affonso de Aguim, na ilha da Madeira, e de sua mulher Isabel Gonçalves da Camara, filha do descobridor da ilha da Madeira João Gonçalves Zarco; tiveram:

Antonio Vaz de Camões;

Camões é que seguiremos a linha de descendencia, que veiu extinguir-se em Luiz de Camões por essa fatalidade que faz que o genio se não perpetue pelo sangue mas pelas suas obras.

João Vaz de Camões, vassallo de D. Affonso v, tomou parte nas expedições guerreiras d'aquelle monarcha em Africa e Castella, conforme d'elle escreve Manoel Severim de Faria nos Discursos varios politicos: «Viveu na cidade de Coimbra, da qual foi benemeri

Simão de Camões da Camara;

Duarte de Camões.

5.o Antonio Vaz de Camões, casou com D. Isabel de Castro, filha de D. João de Castro, capitão de Evora, bastardo, e neta de D. Diogo de Castro e D. Francisca de Brito; tiveram :

Lopo Vaz de Camões;

D. Francisca de Castro, segunda mulher de Francisco de Faria Severim; terceira mulher de D. Martinho de Sousa e Tavora, Alcaide-mór de Alter do Chão. Fóra do matrimonio:

Luiz Gonçalves de Camões, que instituiu o Morgado da Torre, em Avis, que foi a Simão de Camões, filho de Duarte de Camões. Na Expedição de Tunis, á qual foi o Infante D. Luiz em 1535, escapando-se de Evora, appresentou-se-lhe para ir como pagem um LUIZ DE CAMÕES; cita este facto D. Carolina Michaëlis na sua edição das Poesias de Sá de Miranda, mostrando que não podia ser o poeta, que apenas contava onze annos de edade. Pela data do acontecimento, só quadra com o homonymo Luiz Gonçalves de Camões; teve elle uma filha, D. Bernarda, que em seu testamento mandou metter freira.

Diogo da Fonseca;

D. Antonio;

D. Isabel.

6.o — Lopo Vaz de Camões, (1498), senhor do Mor-. gado da Camoeira, em Evora, e dos que andavam jun

to cidadão, indo por Procurador ás Côrtes d'aquelles calamitosos tempos da creação delrei D. Affonso; teve o cargo de Corregedor d'aquella Comarca, officio de então de grande jurisdição, porque não havia mais de seis no reino, e ordinariamente eram fidalgos muito honrados, e não professavam letras como ainda agora se usa em algumas partes da Hespanha. Tudo isto consta do epitaphio de sua sepultura, que está em uma capella da crasta da sé de Coimbra, que o mesmo João

tos de seus paes e avós. Casou com D. Maria da Fonseca, filha de Gaspar Rodrigues Preto, Estribeiro-mór da Imperatriz D. Isabel e de sua mulher D. Mecia da Fonseca, filha de Diogo de Bolhões, corregedor da côrte; tiveram :

Antonio Vaz de Camões;

D. Anna de Castro, primeira mulher de Diogo Lopes de Carvalho, senhor do Couto de Negrellos e Abbadim;

Sebastião de Camões;

Gaspar da Fonseca;

D. Isabel;

D. Maria.

7. Antonio Vaz de Camões, senhor do Morgado da Camara; casou em Lisboa com D. Francisca da Silveira, filha de D. Alvaro da Silveira, e de sua mulher D. Brites de Mexia. (Nob. da Familia dos Silveiras, fl. 66, Ms. da Bibl. do Porto); tiveram :

Lopo Vaz de Camões; s. g. Era Collegial de San Paulo; metteu-se a frade da Piedade, d'onde saiu morrendo ao fim de dois mezes de doença.

D. Maria da Silveira, herdeira dos Morgados por morte do irmão; casou com Antonio de Magalhães e Menezes, senhor da Barca, e em segundas nupcias com D. Pedro de Mascarenhas.

Frei Antonio da Silveira, religioso de Santo Agostinho; por morte da irmã succedeu nos Morgados. D. Brites.

Vaz de Camões mandou fazer, onde, á parte do Evangelho se vê um tumulo levantado de marmore, todo lavrado de figuras de meio relêvo, e nos cantos duas maiores, com escudos de suas armas nas mãos, e em cima do tumulo a figura do mesmo João Vaz armado ao modo antigo, com uma espada na mão, e aos pés um rafeiro deitado.» Severim de Faria escrevia por 1624, notando, pela degradação da capella: «porque como faltaram os

8.0 - Simão de Camões da Camara, filho de Lopo Vaz de Camões. Não se sabe com quem casou.

9. Duarte de Camões, filho de Lopo Vaz de Camões; casou com D. Isabel Lobo, filha de Ayres Tavares de Sousa, e teve:

Pedro Gonçalves de Camões;

Luiz de Camões. (E' a este que se refere o testamento de Duarte de Camões, de Evora, datado de 12 de Maio de 1553, em que apparece citado LUIZ DE CAMÕES Como seu filho segundo, que succederá no Morgado, no caso do falecimento do primogenito Pero Gonçalves de Camões, e no falecimento d'elle um sobrinho, filho de Antonio Vaz de Camões.) Documento do Livro 1.o da Provedoria de Evora. Publicado por A. F. Barata, na Commemoração gloriosa, pag. 8. Em 1576, assigna LUIZ DE CAMÕES em Evora um documento certificando o casamento de Pero Gomes em 6 de Maio d'esse anno. (Storck, Op. cit., p. 15, not. 4.)

D. Maria da Camara, que casou com Francisco de Faria Severim, Executor maior e Secretario de Fazenda de Philippe 11.

- Gonçalo Vaz de Camões. (Tambem poeta. Juromenha, Obr., t. 1, p. 502.) Casou com D. Margarida da Veiga, e teve:

Duarte de Camões;

D. Joanna Ferreira.

(Ha um Simão Vaz de Camões, que vestiu a roupeta de jesuita; nascido em 1531, sendo seus paes Antonio Vaz de Camões (talvez o 5.o) e D. Isabel Figueira da Costa. Era tambem poeta.)

descendentes do instituidor, ficou devoluta e sem haver quem a ornasse e tivesse cuidado d'ella.» João Vaz de Camões, que se achou com D. Affonso v na batalha do Toro, onde florearam muitos poetas palacianos que têm coplas no Cancioneiro de Resende, casou com Ignez Gomes da Silva, filha natural de Jorge da Silva, de que teve Antão Vaz de Camões.

Pelas noticias genealogicas sabe-se que Antão Vaz de Camões casou com D. Guiomar da Gama, da familia dos Gamas do Algarve, á qual pertencia o grande navegador. Este casamento explica a sua vinda para a côrte, e tambem o cargo de Capitão da Armada, que possuia seu avô Gonçalo Tenreiro, que elle exercera. Nas Lendas da India, de Gaspar Correia, cita se um: «Antão Vaz, que commanda uma caravella, era honrado e fidalgo cavalleiro.» (Op. cit., I, p. 530.) E’ tambem para inferir que seja este mesmo Antão Vaz aquelle que esteve com Affonso de Albuquerque na tomada de Gôa. Era muito frequente no seculo XVI dar os commandos das náos da India aos fidalgos cavalleiros, não pela sua competencia nautica, mas pela gerarchia do nascimento e parentesco. Deu isto causa a tremendas catastrophes narradas em emocionantes Relações de naufragios. Gil Vicente que conheceu todas as miserias da sociedade portugueza, satirisa este ruino

1 Na doação de D. Manoel em 1502 a Vasco da Gama, concede: «e se possam em diante chamar de Dom assy seus filhos e netos e todos aquelles que d'elles descenderem.» Ap. Roteiro do Vasco da Gama p. 178.

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