Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

to do Obituario: Quarto nonas Januarii, obiit Benedictus, Presbyter S Crucis, qui fuit primus Generalis nostrae Congregationis. Como na refórma da Universidade transferida para Coimbra em 1537, os Priores de Santa Cruz eram simultaneamente Cancellarios da Universidade, D. Bento de Camões, que fôra eleito no primeiro Capitulo de 3 de Maio de 1539, foi nomeado por D. João III, por carta de 15 de Dezembro do mesmo anno, Cancellario da Universidade, acompanhando os trabalhos da recente installação. N'este alto cargo litterario é facil de reconhecer a influencia que exerceria na cultura do sobrinho, o prococe Luiz Vaz; mesmo o seu espi. rito mystico communicou ao poeta as lendas maravilhosas do primeiro rei de Portugal, que entraram nos Lusiadas. Memorando o passamento de D. Bento de Camões, escreve Jorge Cardoso: «Em Sancta Cruz de Coimbra, a morte do R. P. Dom Bento, varão em todo o genero de virtudes excellentes, a quem D. Fr. Braz de Bairros, (primeiro Bispo de Leiria), reformador d'esta Congregação entre todos aquelles religiosos escolheu por benemerito do Generalato; no qual procedeu com grande modestia e affabilidade. Estando pois um certo dia recitando algumas devoções (como costumava) diante do sepulchro do S. Rei D. Affonso Enriques, lhe appareceu glorioso, dando-lhe as graças de quam excellentemente se havia portado no cargo.

1 Juromenha, Obr., t. 1, p. 488, que cita o Diario Historico de D. Ignacio de N. S. da Boa Morte.

E já póde ser, lhe desse este aviso do tempo do seu transito, pois os cinco annos que lhe restaram de vida esgotou todos em tal perfeição, como se fôra cidadão do céo.» 1

Antes da refórma dos Conegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra em 1527, tomára D. Bento de Camões o habito, acceitando todo o rigor disciplinar da clausura, com o que muito comprazeu com D. João III. Por effeito de um terremoto que se sentiu em Lisboa em 1526, a Côrte fugiu para Coimbra; no anno seguinte de 1527, rebentou em Lisboa uma terrivel peste, que se propagou pelo Alemtejo. Dom João III e a rainha D. Catherina achavam-se então refugiados em Coimbra com os fidalgos da sua corte. No livro Curationum Medecinalium, de Amato Lusitano, falla se da peste continuando a devastar Lisboa e Santarem em 1527, 1528 e 1529. Gil Vicente falla d'esta peste e de doença em casa, residindo então em Santarem. Durante o tempo que a côrte se conservou em Coimbra, faltavam as distrações; queixavam-se de não poderem dar se ao prazer das bellas caçadas de Almeirim, e publicamente amesquinhavam Coimbra, cujos cidadãos arruinavam suas casas para os tratar com fartura á lei da nobreza. Sá de Miranda, que de pouco regressára

1 Agiologio lusitano, t. 1, p. 32. - Jorge Cardoso testemunha quanto deveu ao Chantre Manoel Severim de Faria de noticias para a sua obra. A incerteza ácerca da naturalidade de D. Bento de Camões, assim como o sentido ambiguo que Pedro de Mariz dá á de Simão Vaz de Camões, fazem suppôr que tivessem nascido em Lisboa.

da sua viagem á Italia, e tivera a honra de fazer a Falla de recepção do monarcha em Coimbra, em uma Carta em redondilhas a Pero Carvalho verbera esses parasitas cortezãos:

Fostes mal agasalhados?

Certo, não; que té as fazendas
Vos davam parvos honrados.
Pois que? Porque os privados
Tinheis longe vossas rendas.

Simão Vaz de Camões, que tinha em Coimbra a casa ou solar herdado de seu avô João Vaz de Camões, não deixaria de acompanhar a côrte n'aquelle seu exodo; seria elle um d'esses parvos honrados que dispendeu a sua fazenda com os descontentes privados. Pelo menos podemos explicar assim sua pobreza, e a graça de cidadão de Lisboa, que lhe fez o rei em 4 de Outubro de 1829. Para distrahir a côrte foi Gil Vicente a Coimbra representar a Farça dos Almocreves, e a tragicome dia da Divisa da Cidade de Coimbra. Como o fundador do Theatro portuguez estava então residindo em Santarém, nada mais natural do que as suas relações pessoaes com o fidalgo coimbrão Simão Vaz, casado com uma mulher nobre, dos Macedos de Santarem. Na Farça dos Almocreves allude rapidamente a um Simão Vaz, bastante caloteado pelo Fidalgo pobre: «Peor voz tem Simão VazThezoureiro, e capellão...» De facto Simão Vaz tinha cargo administrativo nos Armazens da Guiné e India. Tambem se achava então em Coimbra Jorge Ferreira de Vasconcellos, que allude na sua Comedia Eufrosina a tel a

escripto «inda bem tenro» <á sombra dos ver. des cinceiraes do Mondego»; frequentaria alli os estudos menores de Santa Cruz, em 1527; o eschclar de Grammatica, inscripto nas Moradias da côrte de D. Manoel, foi mais tarde intimo amigo do auspicioso principe D. João, para quem escreveu as suas principaes obras. As palavras da dedicatoria das Rimas, de 1607, em que Domingos Fernandes, feitor da Livraria da Universidade, escreve: «n'essa Vossa cidade de Coimbra a vosso peyto como mãe natural o criastes tantos annos» entendem-se no rigoroso sentido historico ao tempo da infancia de Camões, desde 1527, que para alli se refugiara a côrte. Alli lhe decorreu a descuidada edade infantil, desligada de todas as preoccupações; assim o descreve na Canção IV:

Vão as serenas aguas

Do Mondego descendo,

E mansamente até o mar não param;

N'esta florida terra,

Leda, fresca e serena
Ledo e contente para mi vivia;

De um dia em outro dia,
O esperar me enganava;
Tempo longo passei,

Com a vida folguei,

Só porque em bem tamanho se empregava.

Estas recordações de uma vida paradisiaca apparecem-lhe no meio da sua vida tormentosa, como o revela na Canção x:

Oh, se possivel fosse, que tornasse
O tempo para traz como a memoria,
Por os vestigios da primeira edade!

E' tambem na Canção IV, que o seu temperamento erotico se denuncia em uma psychose amorosa fugitiva, mas que o impelle para a idealisação poetica:

Alli se me mostraram
N'este logar ameno,

Em que inda agora mouro,
Testa de neve e d'ouro;

Riso brando e suave, olhar sereno,
Um gesto delicado

Que sempre n'alma me estará pintado.

Esta paixão incipiente suscitada ao contacto de ingenuas formosuras, nasceu por aquelle motivo que o poeta reconheceu nos seus versos: «Conversação domestica affeiçôa. Em Coimbra vivia o terceiro ramo dos filhos de Vasco Pires de Camões; e são con

[ocr errors]

1 A linhagem do terceiro filho de Vasco Pires de Camões, é a que envolve as homonymias ácerca da paternidade do poeta, Simão Vaz de Camões, e do seu avô João Vaz de Camões:

Constança Pires de Camões, casou com Pedro Severim, natural do bispado de Senlis, em França, o qual veiu para Portugal, depois de ter estado em Ceuta com D. João 1; tiveram :

Maria Annes Severim;

Caetana de Camões, mulher de Alvaro do Tojal, de quem não teve filhos; nomeou em duas vidas umas casas em Mataporcos em Pedro Alves de Camões, filho de sua irmã Margarida de Camões e do licenciado Alvaro Pires.

- Margarida de Camões. (Vid. infra.)

Maria Annes Severim, casou com Gil Annes de Oliveira, de quem teve:

João Gil Severim;
Ascencio Severim;

Belchior Gil Severim.

João Gil Severim, casou com Isabel Gonçalves de

« VorigeDoorgaan »