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B) No Estudo de Artes e Humanidades nas Escholas
de Santa Cruz de Coimbra (1537 a 1542)

No fervor dos estudos que precedeu a creação da Universidade de Coimbra, destacaram-se entre as Escholas das Collegiadas, aquellas que sustentava o Mosteiro de Santa Cruz, merecendo do rei Dom Sancho I a doação de quatrocentos morabitinos «para sustentação dos Conegos do dito Mosteiro, que estudam nas partes de França...» Até certo ponto as doutrinas da primeira Renascença do seculo XIII acharam interesse especulativo nos seus escholares, como se vê pela lenda de San Frei Gil. Pelo influxo da segunda Renascença do seculo XVI, tambem pelos Conegos que iam estudar a Paris, foram reformados os Collegios de Santa Cruz, com um brilho que levou Dom João III a transferir a Universidade de Lisboa para Coimbra. Lisboa, pelo bulicio do seu vasto commercio dos novos Descobrimentos maritimos e conquistas, que pelo trafico e monopolio real dava á côrte uma opulencia ruidosa, tornava se impropria para a concentração e remanso do estudo. De mais, as pestes terriveis succediam-se quasi periodicamente, forçando os lentes a pedirem para se fechar a Universidade, como em 9 de Maio de 1525 em representação collectiva pela morte do lente de Philosophia moral Agostinho Micas. O proprio monarcha teve de fugir de Lisboa em 1526 para Coimbra, recrudescendo a peste ainda em 1527; para Dom João III Lisboa pareceu-lhe a ruidosa Coryntho, e Coimbra

uma nova Athenas. A permanencia do monarcha em Coimbra, fel-o planear a refórma do Mosteiro de Santa Cruz, obrigando os seus setenta e dous Conegos á vida da clausura, e apoderando-se de uma grande parte dos seus enormes rendimentos para a refórma da Universidade. Começou a refórma do Mosteiro em 13 de Outubro de 1527, sendo encarregado d'esta empreza, além do provincial dos hieronymitas, Frei Braz de Barros, que apparece á frente do governo do Mosteiro e dirigindo toda a reorganisação pedagogica. Os setenta e dous conegos cruzios, que viviam como princepes episcopaes, revoltaram-se, ficando apenas submissos á clausura vinte e dous Conegos, entre os quaes figura Dom Bento de Camões, que veiu a ser eleito Prior crasteiro no primeiro Capitulo geral de 1539, em 5 de Maio, e Cancellario da Universidade em 15 de Dezembro do mesmo anno. Separaram-se as rendas do PrioradoMór, que eram usufruidas pelos irmãos do rei, as quaes fôram em grande parte applicadas á construcção de Collegios e salarios de lentes; e aos Conegos, cujo quadro se preencheu, fôram arbitrados os rendimentos de um conto e mil duzentos e trinta e quatro reis. Em outubro de 1528 vieram de Paris em fórma de Universidade professores, que tornaram os Estudos do Collegio de Santa Cruz o ponto de convergencia dos filhos da principal nobreza; Frei Braz de Barros viu-se forçado em 1530 a proceder á construcção de dois Collegios defronte do Mosteiro, na rua da Sophia; um era para Theologos e Artistas, com nove Collegiaturas, e intitulava-se Colle

gio de Todos os Santos, e na linguagem do vulgo os Pardos, por causa do seu habito; e o Collegio de San Miguel para Canonistas com Theologos, com nove collegiaturas, chamado tambem os Roxos, pela côr da batina. Predominava o systema pedagogico francez, como o que se seguia no Collegio de Santa Barbara, que dirigia em Paris o Doutor Diogo de Gouvêa. De Paris tinham regressado em 1528 Pedro Henriques e Gonçalo Alvares, com Vicente Fabricio, florescendo enormemente o ensino do grego e do latim. Lê-se na Chronica dos Conegos Regrantes: «Mandou o Padre Reformador Fr. Braz de Barros vir Mestres da Universidade de Paris, por informação que lhe deu o P.o D. Damião, nosso Conego de Santa Cruz, que lá tinha estudado. Vieram por Mestres de Grammatica, de Grego e de Hebraico dous doutores pela Universidade de Paris, ambos portuguezes e mui versados nas ditas linguas, a saber Mestre Pedro Henriques e Mestre Gonçalo Alvares, que depois leram tambem nas Escholas publicas de Coimbra, como dissemos. Artes, começou a lêr o nosso conego D. Damião, que depois de ter lido tres annos por ordem do dito Reformador, tornou a Paris a receber o gráo de Mestre em Theologia, para vir lêr ao mesmo Mosteiro de Santa Cruz; Canones leu o P. D. Dionisio de Moraes, que era bacharel formado n'elles pela Universidade de Paris. Começaram a lêr estes Mestres aos Religiosos de Santa Cruz em Outubro de 1528, com tanto aproveitamento dos discipulos, que correu fama dos Estudos, que havia no dito Mosteiro, muitos fidalgos e nobres do Reino

mandaram a elle seus filhos. Para estes se fundou o Collegio de San Miguel, dentro do Mosteiro de Santa Cruz, e para Estudantes honrados pobres o Collegio de Todos os Santos; este tinha o seu dormitorio na casa grande do Terreiro da Procuração, a que chamavam o Galeão, e o outro tinha o seu dormitorio mais para cima, á parte do norte, junto das torres. Perseveraram estes Collegios dentro do Mosteiro até 1544...» (Op. cit., t. II, p. 400.) Fôram construidos mais dois Collegios para as Escholas maiores, o de San João Baptista e o de Santo Agostinho, para effectuar a mudança da Universidade para Coimbra. O conego D. Damião, que estudava em Paris, fôra encarregado por D. João III de contractar lentes para a nova Universidade; em carta de 1535 escrevia ao seu Prior: «Já agora lá serão, e começará a florescer essa Universidade... Não se agaste vossa Paternidade se dei grande partido aos Mestres, porque d'outra maneira não foi possivel movel-os a irem; mas como a Universidade fôr povoada se acharão outros muitos, e por menos estipendio; que quantos Mestres fôrem necessarios, logo os mandarei e contentarei por metade de quinhentos cruzados, que dei aos que lá vão; porque Mestres em Artes acham-se cá ás duzias, e todos pela maior parte doutos e idoneos para ensinarem.» Sobre este assumpto escrevia D. João III a Frei Braz de Barros: E quanto ao trabalho que dizeis que levastes em asentar co doutor Prado em a regra das Artes e os francezes, que vieram de Paris, eu creo que seria asy e folgarey que me screvaes quantos lentes sam, e

de que Faculdades. E asy quãtos escolares e estudantes já ouvem em cada ciencia ou arte.»> E em carta de 11 de Março de 1536, escripta de Evora, activa o rei a organisação da Faculdade de Artes, para serem chamados para Coimbra os bolseiros (Estudantes de El rei) que estavam em Paris:

«Padre Frei Braz de Barros. Eu el rei vos envio muito saudar. Vos avieis de poer no fim de Setembro d'este ano hum Mestre que lêa as Sumulas por entam fazer hum ano que agora lê o outro de Logica, e d'ahi a hum ano outro Mestre que lêa Filosofia, que sam os tres anos das Artes. E posto que atee ho dito tempo nam seja necessario ordenar os ditos Mestres por atee entam os Conigos nam terem necessidade delles, folgaria ordenardes de os poer logo e mandardelos buscar, que sejam pessoas pera isso sufficientes, asy como fizestes aos que agora temdes, porque queria que as Artes se nam leam mais em Lixboa, e mandar que os meus bolseiros de Paris se venham os que ainda ouvem as ditas Artes e nam passara á Theologia o que nam seria razam mandal-os revogar nam tendo asy os estudantes que as ouvem em Lisboa como os de Paris outro estudo honde se possam ouvir n'estes reinos, e perderiam o trabalho que tem nisso levado, pelo qual vos agradecerey fazerdel o logo. E como o tiverdes feito escrevedem'o pera logo mandar revogar os de Lisboa e mandar vir os de Paris. E isto de revogar de Lisboa folgarey que tenhaes em segredo porque nã queria que se soubesse ante de os mandar revogar, encommendo-vos muito que o façaes asy. Anrique

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