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tes Motes, observa o auctor da Arte de Galanteria: Glosas, solamente quando el Mote fuere de Dama, que no tiene el entendimiento todo el logar en esto modo de dezir, antes es atar el ingenio a cosas, que a vezes hará mal logar otras mayores, mas estoy de la parte de las Bueltas, que los antigos ivanse atrás los affeitos.» (p. 118.) «... el Mote no llevará retruecano, ni sentencia sin derivacion, ni cosa que huela a Romance, claro, elegante y agudo, decifrando de entre los terminos que se propone, haziendo proprio lo ageno, que aquel Mote será mas acertado que mayor affecto descubriere, y con mayor pureza le reprezentare...» (p. 143.) Em uma côrte em que se fallava exclusivamente o castelhano, Camões pela sua vasta leitura de traducções de obras classicas, escrevia perfeitamente versos castelhanos. Caminha, crescendo em rivalidade diante dos triumphos de Camões, avançava para o odio e para a calumnia. Certos Sonetos de Camões, que eram muito apreciados pela belleza da imitação petrarchista, Caminha refazia-os debalde, deixando patente a sua mediocridade. Não se podia ser galanteador no paço sem saber rimar de prompto sobre qualquer accidente e caso fortuito; dizia D. Francisco de Portugal: «Que hazer una Copla era entendimiento, y muchas es parte de necedad; se refiere de un buen juicio, (D. Juan de Silva) el galan no hade

1 Taes são: Soneto 102 de Camões, e o 75 de Ca

minha; o 2 para o 37; o 69 para 82; o 165 para 89; o 18 para o 138; o 167 para o 88; o 271 para o 44.

ser Poeta, mas hade hazer versos, aunque no sea mas que por no pedillos prestados... » E era preceito palaciano: «las Coplas castellanas son las mas proprias para palacio, por mas desnudas de arte...» (p. 105.) Camões brilhava pela elegancia da linguagem e agudeza do pensamento, improvisando sobre o que se passava entre as damas; revela-o em umas Voltas A D. Guiomar de Blaesfet, queimando-se com uma vela no rosto:

Amor, que a todos offende,
Teve, senhora, por gosto
Que sentisse o vosso rosto
O que nas almas accende.

Era esta dama filha de Francisco de Gusmão, Mordomo mór da Infanta D. Maria, e de D. Joanna de Blaesfet, que viera para Portugal no séquito da rainha D. Catherina em 1524; era por tanto D. Guiomar mais nova do que Camões. As Voltas agradaram, e Camões tratou de novo o mesmo caso, então na fórma mais considerada, em um Soneto:

O fogo que na branda cêra ardia

Vendo o rosto gentil que eu n'alma vejo.
So accendeu de outro fogo do desejo
Per alcançar a luz que vence o dia.

Namorain se, senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquella neve
Que queima corações e pensamentos

(Soneto XXX/X.)

Iria esta galanteria até á emoção amorosa? Camões escreveu um Mote que tem por epigraphe: A huma Dama com quem queria andar de amores, se ella não fôra afei

çoada ao outro. D. Guiomar de Blaesfet veiu a casar com D. Simão de Menezes, mais tarde morto em Alcacer Kibir. N'estas intrigas amorosas, Camões tornava-se o centro de conver. gencia de outros poetas, pela sua supremacia genial diante das damas. D. Manoel de Portugal, que tinha regressado de Italia em 1542, andava enamorado por D. Francisca de Aragão, que se mostrava fria para o terceiro filho do Conde de Vimioso. A proposito d'este amor, traz uma anecdota o auctor da Arte de Galanteria: «D. Manoel dezia, que no queria mas si nó licencia para poder con unos organos en el terrero del palacio, enternecer la señora Dona Francisca.» (p. 168.) Considerando a importancia que Sá de Miranda ligava a D. Manoel de Portugal, mimoso das Musas, comprehende-se melhor a sua amisade por Camões, então o intimo confidente, e como lume do paço seu guia nos serões da côrte. Commentando o verso do Soneto LXIII:

Escriptos para sempre já ficaes

Onde vos mostrarão todos c'o dedo,

Faria e Sousa escreve, que pessoa que tivera conhecimento intimo com Camões lhe dissera, que quando o poeta passava pelas ruas de Lisboa, paravam e o apontavam com admiração. Tudo isto devia suscitar invejas latentes, que tramavam a sua ruina, embaraçando-lhe a carreira social.

N'este tempo os Romances populares revivesciam no gosto da côrte por andarem postos em musica pelos compositores casteThanos Valderrabano, Salinas, Luiz Milan, Fuenllana, Pizador, e as damas compraziam

se em cantal-os com os mais seductores requebros. Contra esta fórma castelhana fallavam os poetas petrarchistas; toca esse antagonismo o auctor da Arte de Galanteria: « El Soneto logar tiene en todo: la maestria d'ellos guardase para los estudiosos, aunque séan muy buenos, se hagan tarde y quando la occasion pida salir a plaza, que las Damas no estan obligadas a saber la Poetica de Aristoteles, ni ay muger que apeteça versos sinó aquelles que tienen pocas syllabas, pensamientos vivos y mucho ayre, que son propriedades de Romance, cuyos desenfados parece que se hizieron solamente para ellas... (p. 114.) Os versos curtos ou de poucas syllabas eram os que melhor se punham em musica e cantavam. Camões intercalou versos dos mais vulgarisados, Romances da côrte nas suas Cartas, Autos e Satiras, sempre com graça, sabendo tambem tirar d'esta fórma velha relêvo para a expressão subjectiva.

N'este periodo rapido em que passou fulgurante pela côrte, teve Camões a emoção profunda que se apoderou de todos os seus sentimentos, os amores por uma dama da rainha; e ainda no paço a vista das Colgaduras do Triumpho da India representavaThe objectivamente os quadros que elle aspirava a tratar como um novo pensamento nos seus Cantos heroicos. Entre os livros que pertenciam á Livraria do rei D. Manoel, acha-se descripto: Outro, escripto em pergaminho, enluminado a lugares d'ouro, dos Treumfos da India, cuberto de veludo cremesym, com quatro brochas, sete cantos com duas rosas no meio esmaltadas, tudo de cobre dourado. >>

Sousa Viterbo faz a hypothese plausivel de que este livro contivesse os debuxos feitos por artista para serem passados ás tapeçarias, ou pannos de armar, que se acham descriptos em uma minuta, hoje publicada, dos vinte e seis assumptos que o rei D. Manoel mandara fazer representando o Descobrimento e conquistas da India. Estas descripções, feitas por mão do escrivão da puridade Antonio de Alcaçova Carneiro, já foram confrontadas com os quadros dos Lusiadas, por Joaquim de Vasconcellos, podendo se concluir pela sua concordancia, que o poeta fôra impressionado na sua idealisação por essas colgaduras. Celebrando esse amor com a dama do paço, liga o poeta a ventura d'esse sentimento ao exito do Canto heroico que elaborava mentalmente.

A côrte da rainha D. Catherina, máo grado a sua austeridade religiosa, continuava a tradição do esplendor dos Serões do paço, em que brilhavam os poetas e os apaixonados. Escreve D. Carolina Michaëlis, deslocando do palacio da Infanta D. Maria para o da rainha sua tia essas manifestações de poe. sia e galanteria, de que ficaram vestigios nos Cancioneiros do seculo XVI: « E' facto, que no paço da rainha viviam ou se reuniam as inspiradoras de fama. Foi dama sua aquella D. Maria Manoel, que havia enfeitiçado o velho Duque de Coimbra, como D. Anna de Aragão, a briosa defensora da independencia nacional; tanto a Natercia de Camões, como aquella gentil D. Margarida da Silva, por

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