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mercê, dividida com o seu companheiro Alvaro Martins Homem, em carta de 2 de Abril de 1474, por terem descoberto a Ilha dos Bacalháos. Dá noticia d'este facto o Dr. Gaspar Fructuoso, nas Saudades da Terra, que ficaram ineditas até quasi ao fim do seculo XIX, d'onde o jesuita P. Antonio Cordeiro extractara para a Historia Insulana a affirmativa: < Alvaro Martins Homem não era de menos qualidade e fidalguia que seu companheiro João Vaz Côrte Real, pois egualmente a ambos tinha el-rey mandado a descobrir a Terra dos Bacalháos...» Eram estes os serviços allegados na carta de doação da Capitania por ambos requerida. Contra esta prioridade oppõem a falta de referencia nos chronistas Garcia de Resende, Antonio Galvão e Damião de Góes, e o não ser representada no Globo de Martim de Behaim, que viveu no Fayal de 1486 a 1490. Quanto a Behaim, havia certa reserva na vulgarisação de uma empreza apenas encetada; a omissão dos chronistas regios funda-se em que elles só narravam o que o poder real consentia, como se verifica com os textos de Damião de Góes. As explorações da costa africana, como mais seguras tornaram-se quasi exclusivas, attrahindo para ellas todo o interesse, como se vê pela elaboração do Mappa Mundi de Fra Mauro. A empreza iniciada por João Vaz Côrte Real, foi continuada pelo seu filho mais novo Gaspar Côrte Real á propria custa, o que significa o abandono do governo. Sabe-se pelo alvará de el-rei Dom Manoel, de 12 de Maio de 1500: «Porquanto Gaspar Côrte Real, fidalgo da nossa casa, os dias passados trabalhou

per sy e a sua custa, com navios e homens de buscar e descobrir e achar com muyto trabalho e despeza de sua fazenda e peryguo de sua pessoa algumas Ilhas e Terra firma.» Por outro alvará do rei D. Manoel sabe-se, que Gaspar Côrte Real fez uma segunda expedição á região do Noroéste, partindo de Lisboa em 15 de Maio de 1501. O que authenticamente se sabe d'estas duas expedições consta unicamente da Relação do embaixador de Veneza em Lisboa, Petro Pasqualigo á Senhoria; essa Relação é datada de 18 de Outubro, dez dias depois da chegada do primeiro navio, que regressou ao fim de tres annos. Por esta Relação se chega ao conhecimento de um facto, que authentíca a communicação com a America do Norte antes de Gaspar Côrte Real; ahi se lê, misturado com importantes descripções anthropologicas de tribus d'esse continente: «Elles trouxeram um pedaço de espada dourada, que parece ter sido fabricada na Italia. Uma das crianças tinha nas orelhas duas pequenas argolas de prata, certamente fabricadas em Veneza. Isto me leva a crêr que se trata de uma terra firme, porque não é provavel que um navio tivesse alli aportado, sem que se tivesse tido noticia.» Pasqualigo consigna a observação, que n'essa terra não são conhecidos os metaes, ou o ferro, tendo os selvagens armas de pedras lascadas; por tanto esses vestigios do fragmento da espada de ferro, e as argolas de prata são productos da industria e arte europêas, e provam que realmente ahi chegara um navio, que outro não era senão o de João Vaz Côrte Real em 1474, de que se ca

lára a noticia para que outra nação se não apoderasse d'essa empreza.

Quando chegou a Lisboa o terceiro navio de Gaspar Côrte Real, em 11 de Outubro, Pasqualigo não informou o governo de Veneza, mas o negociante italiano Alberto Cantino, que estava estabelecido em Lisboa como agente do Duque de Ferrara, deu-lhe parte do successo em uma minuciosa carta, com noticias geographicas e ethnographicas colhidas das conversas com Gaspar Côrte Real e seus companheiros e sob a impressão dos cincoenta selvagens americanos que trouxeram. Todos os conhecimentos das descobertas na America do norte que se encontram nos chronistas hespanhoes e portuguezes fôram tomados da Relação de Pasqualigo e da carta de Alberto Cantino. A noticia colhida por Gaspar Fructuoso nas memorias genealogicas açorianas, fonte de valor não desprezivel, fortifica-se com o facto referido por Pasqualigo, que documentou a viagem de João Vaz Côrte Real.

Tambem a exploração da região Sudoéste acha-se implicita no testamento de João Ramalho, escripto pelo tabellião Vaz Lourenço, na capitania de S. Paulo, em 3 de Maio de 1580, no qual elle declara que tinha noventa annos de assistencia no Brasil, isto é, desde 1490, ou dous annos antes de Christovam Colombo ter chegado á região tropical da America. João Ramalho fôra para alli arrojado pelas tempestades, salvando-se com um

1 Luciano Cordeiro, L'Amérique et les Portugais.

seu companheiro Antonio Rodrigues, vivendo ambos entre os Tupinambas. Apontando este facto, escreve Gaffarel no opusculo Descobertas dos Portuguezes na America no tempo de Christovam Colombo: «A historia não se compõe sómente de factos registrados e reconhecidos, mas tambem de factos provaveis, embora ignorados. Não se conservaram os nomes, nem a memoria d'estes predecessores anonymos de Colombo, mas não bastará o estabelecer que poderiam ter existido?» As audaciosas emprezas realisadas ao Noroéste da America por João Vaz Côrte Real e continuadas por seus filhos, e ao Sudoéste occupada casualmente por João Ramalho e propositadamente por Pedro Alvares Cabral, levam a inferir com segurança que a região tropical a que se dirigiu Christovam Colombo fazia parte do plano integral dos Descobrimentos dos Portuguezes, e que o genovez, tendo-se orientado em San Jorge da Mina, que está debajo de la equinocial, o que não foi antes de 1483, é que pensou em ir n'essa direcção descobrir a Ilha de Cypango.

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No plano das Navegações portuguezas, a exploração da Costa africana para encontrar passagem para o Oriente não era menos activa do que a das regiões occidentaes. Com

1 Nas Côrtes de Evora, de 1482, diziam os procuradores dos Concelhos: os frorentiis e genovezes em estes regnos nunca fizeram proveitos salvo roubarnos de moedas d'ouro e prata e descobrir nossos segredos da Mina e ilhas... Foi de uma estação na Mina, que Christovam Colombo teve informações dos marinheiros portuguezes da America tropical.

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tudo os eruditos italianos, no principio do seculo XIX, tentaram attribuir aos Venezianos a direcção que seguiram os mareantes portuguezes, como escrevia em 1806 o Cardeal Zurla, mostrando que no Mappa Mundi de Fra Mauro, camaldulense, existe apontado o Capo di Diab, chamado depois de 1487 Cabo da Boa Esperança.

Sobre este ponto escreveu Frei Fortunato de San Boaventura, na sua Collecção de subsidios para se escrever a Historia litteraria de Portugal: «notei, e com que pasmo! que se forceja por attribuir aos Venezianos a gloria de nos terem ensinado um novo caminho para as Indias Orientaes; e que bastou um italino ha pouco falecido em Palermo, que pela sua immensa erudição honrava a purpura romana, para attribuir a um certo Fr. Mauro, leigo camaldulense, e Cosmographo incomparavel, por occasião de um Mappa Mundi que lhe encommendara el-rei D. Affonso v, a gloria de nos ter ensinado aquelle caminho...> Frei Fortunato de San Boaventura então homisiado de Portugal, refutou este asserto do Cardeal Zurla, citando as palavras do historiador veneziano Foscarini, que na sua Historia litteraria de Veneza (p. 419) reconhece que aos Pilotos portuguezes é que deveu Fra Mauro as indicações positivas do seu Mappa Mundi: «Traçou Fra Mauro melhor as Costas da Ethyopia oriental do que vem nas Taboas de Ptolemeu, e confessou que ajustara a situação d'aquella costa ao que lhe disseram os Pilotos portuguezes.» E ainda depois d'isto accrescenta Foscarini, — <que El-rei de Portugal deu primeiramente a

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