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D. Duarte de Lima, (morreu no Cerco de Chaul.)

D. Francisco de Lima, (Chantre de Evora, e bom letrado.)

D. João (morreu em Chaul, no tempo de D. Luiz de Athayde) 1

1

DONA CATHERINA DE ATHAIDE, que sendo Dama da dita Rainha, morreu no Paço môça.

D. Cecilia, freira no Mosteiro da Boa Vista. D. Joanna de Lima, que casou com Martim Affonso de Miranda, Camareiro-mór do Cardeal Infante D. Henrique.

D. Isabel de Lima, que foi freira na Boa Vista.

« A' margem do assentamento d'esta senhora, lê-se: = Em almeirim a vu de dez.ro de 1543 ouve certidão dona cateryna pera tirar seu casamento por fazer certo ser casada pera fazenda del Rey nozo senhor e por tanto foy riscada a qual certidão tirou aires de sousa porella.

Diante d'estes factos positivos, torna-se inadmissivel a hypothese dos seus amores com Luiz de Camões, que em 1542 frequentava ainda os estudos de Coimbra, e quando regressou a Lisboa em 1543, já Catherina de Athayde (de Sousa) estava casada com Ruy Borges vivendo proximo de Aveiro. (Collecção camoniana, pag. 75): «não se podem confundir (esses amores) com os da verdadeira Natercia, que conforme toda a probabilidade e as allusões do proprio poeta, foram os primeiros, e começaram cêrca do mesmo tempo. Se Natercia não fôra muito outra, como achar rasão plausivel para os subsequentes degredos? Como explicar as saudosas Canções que passados mais de dez annos, ainda Camões dirigia do Oriente á dama querida, que se apoderara de todos os seus affectos, e que elle julgava sempre viva?»

1

Couto, Decada viii, cap. 22, 32, 36, 37, 38.

9 Ms. da Bibliotheca do Porto, n.o 344, fl. 128 v. Este Nobiliario manuscripto existe na Torre do Tombo e na Bibliotheca nacional.

Vê-se por este excerpto genealogico que a familia era numerosa, vivendo de empregos do paço. D. Maria Bocca Negra veiu no sequito da Rainha D. Catherina para Portugal em 1525. Na Chronica de D. Francesillo de Zuñiga, bobo official de Carlos v, ao descrever a jornada da rainha D. Catherina para Portugal, vem a seguinte anedocta ácerca de D. Maria Bocca Negra: «Don Pedro d'Avila llevaba una bestia menor, que en romance se dice asno, y llevaba una moza de camara que se llamaba Boca Negra, y el requiebro que le decia era:

N'hora mala os conoci,

pues por Boca-Negra me perdi.
(Cap. XLI.)

Esta dama, que a rainha muito estimava, casou em 1528 com D. Antonio de Lima, tambem empregado da familia real, e dignatario; nasceram d'este consorcio quatro rapa. zes e quatro meninas, assim agrupados pelo linhagista, mas com certeza naturalmente entremeados. Muito proximo da verdade andaremos collocando o nascimento de Catherina de Athayde em 1531, porque falecendo môça em 1526 ainda não completara a maioridade ou os seus vinte e cinco annos. A sahida de Catherina de Athayde (de Sousa) pelo seu casamento em 1543, dera logar para a nomeação de uma outra dama da Rainha; n'esse anno D. Catherina de Athayde (de Lima) completava doze annos, e a Rainha que bem conhecia a necessidade de D. Maria Boca-Negra, (confessa-o no seu testamento) nomeou-lhe a filha para o cargo de sua da

ma, que já se tornava conhecida pela estremada formosura. Camões viu-a antes de ella pertencer ao paço; assim se deduz da tradição conservada nas Lembranças de Paiva de Andrade: Foi depois dama da Rainha D. Catherina, e continuando os amores com boa correspondencia... Fixada a entrada de Camões na côrte em 1544, como se infere de factos inilludiveis, a paixão amorosa irrompe manifestamente confessada logo em 1544. Esta data é verificada pelo Dr. Storck, interpretando a estrophe 2.a da Canção VII :

No Touro entrava Phebo, e Progne vinha,
O corno de Acheloo Flora entornava,
Quando o Amor soltava

Os fios de ouro, as tranças encrespadas
Ao doce vento esquivas,

Os olhos rutilando chammas vivas
E as rosas entre a neve semeadas
Co' riso tão galante,

Que um peito desfizera de diamante.

Este processo metaphorico de datar o acontecimento foi empregado por Camões nos Lusiadas, para. fixar chronologicamente o domingo de Paschoa de 1498, em 15 de Abril:

Era no tempo alegre quando entrava
No roubador de Europa a luz phebea,
Quando um e outro côrno lhe aquentava
E Flora derramava o de Amalthéa:

A memoria do dia renovava

O pressuroso scl que o céo rodêa,

Em que Aquelle, a quem tudo está sujeito,
O sêlo poz a quanto tinha feito.

(Cant. 11, st. 72.)

Vê-se portanto que ha um sentido chronologico na estancia 2.a da Canção VII, e o Dr. Storck precisou-o nitidamente pelo Calendario universal de Kesselmeyer, que a sexta-feira da Paixão, a que se refere o Soneto, cahira em 11 de Abril de 1544: «o que tudo corresponde melhor ás indicações metaphoricas que temos examinado.» (Vida, p. 227.) Na Canção VIII, que é uma remodelação da VII, refere Camões esta crise passional:

Eu vivia do cego Amor isento,
Porém tão inclinado a viver preso,
Que me dava desgosto a liberdade.
Um natural desejo tinha acceso
De algum ditoso e doce pensamento
Que me illustrasse a insana mocidade.
Tornava do anno já a primeira edade;
A revestida terra se alegrava,

Quando o Amor me mostrava
Os fios de ouro, as tranças desatadas
Ao doce vento estivo;
Os olhos rutilando lume vivo,
As rosas entre a neve semeadas;
O gesto grave e ledo,

Que juntos move em mi desejo e medo.

O local em que sentira esse abalo moral, foi por Paiva de Andrade e Manoel de Faria e Sousa determinado na egreja das Chagas, por uma tradição que serviu para interpretar o Soneto CXXIII, que começa:

1 Paiva de Andade interpreta em 19 ou 20 de Abril de 1542; e Faria e Sousa em 7 de Abril do mesmo anno, sendo a quasi concordancia dos dois seiscentistas proveniente da mesma tradição.

A chaga, que, Senhora, me fizestes,
Não foi para curar-se n'um só dia;
Por que crescendo vae em tal porfia,
Que bem descobre o intento que tivestes.

Chronologicamente, vê-se que o facto é inadmissivel; mas deve procurar-se o residuo de verdade que se encerra em toda a tradição inconscientemente transmittida.

Nas Lembranças ineditas de Diogo de Paiva de Andrade, sobrinho do celebrado orador, vêm algumas linhas tradicionaes e biographicas sobre Camões, anteriores aos trabalhos de Faria e Sousa; encontram-se em dados pontos os dois escriptores, que se não conheceram, signal que hauriram na mesma tradição. Ahi Paiva de Andrade, citando antes de Faria e Sousa o nome de Catharina de Athayde, declara: «principiou a inclinação em 19, ou 20 de Abril do anno de 1542, em Sexta-feira da Semana santa, indo ella á Egreja das Chagas em Lisboa, onde o poeta se achava. Isto repete Faria e Sousa; pura lenda, que as datas historicas dissolvem. Em 1542 é que Frei Diogo de Lisboa instituiu a Irmandade das Chagas de Christo, composta dos homens que versavam a carreira da India, tendo a sua séde no Convento da SS. Trindade. Dissidencias entre a Irmandade e os Frades, fizeram que erigissem uma egreja propria, obtendo a permissão do papa Paulo III, que lhe concedeu a cathegoria de parochia. A Egreja das Chagas foi erecta entre as parochias de Santa Catherina e dos Martyres, no alto sobranceiro ao Tejo, sendo sagrada em 30 de Novembro de 1552, transferindo-se para alli a Irmandade em 1553, no

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