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elles em combater a influencia dos Portuguezes. A deputação de Veneza conseguiu alliar o sultão do Cairo com o rei de Calecut e algumas outras potencias italianas, para atacarem as frótas e as tropas de Portugal.» Antes d'estas odiosas intrigas dos Venezianos, que embaraçaram a liga das potencias christãs contra os Turcos, que dominavam no Mediterraneo, elles mandavam a Portugal agentes para escreverem o que ouviam d'aquelles que das taes navegações tornavam, — como refere o chronista Damião de Góes. Conhece-se hoje o systema da diplomacia da Republica de Veneza, e a importancia das Relações secretas dos seus embaixadores; em Portugal mantinha um serviço de informação tal, que muitos dos documentos mais reservados da côrte de D. Manoel, appareceram publicados em traducções italianas no principio do seculo XVI. Pedro Martyr de Anghiera, viajante milanez, relacionado com Colombo e Americo Vespucio, escreveu Relações, que fôram parar ás mãos do veneziano Angelo Trevigiano, empregado da embaixada da Senhoria em Castella. E Trevigiano, conhecedor das viagens de Colombo e tambem das de Pedro Alvares Cabral, forneceu noticias importantes ao almirante Malepiero, historiador de Veneza. Tambem por pedido de Trevigiano, o embaixador de Veneza em Lisboa, Matteo Cretico, traduziu-lhe para italiano a primeira descripção official do descobrimento do Brasil. As informações de Cretico eram fidelissimas;

1 Id., ib, p. 44.

pela sua astucia e soborno, o embaixador veneziano na côrte de D. Manoel, além de noticias secretas pôde alcançar a revelação de cartas particulares do rei D. Manoel a seu sogro o rei catholico Fernando, dando conta da empreza realisada por Pedro Alvares Cabral em cumprimento de ordens recebidas. Essa carta appareceu traduzida em italiano, em Roma em 1505, nos prelos de João de Besicken. E a Carta de Pero Vaz de Caminha, em que é relatado ao rei D. Manoel o descobrimento das Terras de Santa Cruz, acha-se em completa concordancia com o opusculo italiano coévo, Paesi nuovamente ritrovati, tendo a narrativa portugueza de Caminha ficado inedita durante tres seculos. As informações do embaixador Matteo Cretico vulgarisaram-se na collecção dos Paesi nuovamente ritrovati, onde em primeira mão figuram as duas Viagens de Cadamosto, ao serviço de Portugal, a Cabo Verde e Senegal, tambem em primeira mão a viagem de Vasco da Gama e a de Alvares Cabral, com a narrativa em italiano da Terceira Viagem de Americo Vespucio, tendo ainda reproduzidas em segunda edição as tres viagens de Colombo, Alonzo Niño e Pinzon.

O historiador Ranke fez sentir o alto valor historico das Relazioni dos embaixadores venezianos para o conhecimento da politica complicada da Europa, no seculo XVI; diz elle: << Veneza tinha estendido as suas relações muito longe, em paizes estrangeiros; possuimos as Relações sobre a Persia, sobre Moscou, e principalmente sobre a Inglaterra; mas espanta-me o não encontrar nas collecções al

lemãs e nas de outros paizes, senão uma relação da embaixada veneziana ácerca de Portugal.» E' explicavel a omissão, por se usarem no principio do seculo XVI as Relações verbaes feitas pelos embaixadores ao conselho dos Pregadi: «A Republica não se contentava sómente com os despachos sobre os negocios correntes, que os seus embaixadores The expediam regularmente todos os quinze dias; mas, quando elles estavam de volta depois de dois ou trez annos de ausencia, eram obrigados a fazer um relatorio ao conselho dos Pregadi, em presença de homens que tinham encanecido nos negocios, que haviam desempenhado a mesma missão, ou que eram apoz chamados a exercel-a. Elles se esforçavam a fazer conhecer em particular o princepe junto do qual estavam acreditados, a sua côrte e os seus ministros, o estado das suas finanças, das suas forças militares, de toda a sua administração, as disposições dos seus subditos para com elle, finalmente as suas relações com as outras potencias. Estes relatorios continham ás vezes tão longas minucias, que a leitura não podia ser feita em uma só noite, e era frequente interromperem-se em meio ou de uma parte importante para descançarem. Eram geralmente feitos de memoria, pelo menos nos antigos tempos; começavam todos por uma allocução dirigida ao Doge e á assembleia. Sente-se, ao lêl-os, que o auctor tudo observara por si, e que a narrativa é a impressão fiel das suas impressões. Cada embaixador esforçava-se o melhor que podia diante de um auditorio digno de um homem de estado. Por outro lado, muitas ve

zes foi censurada a Republica por esta especie de autopsia das côrtes e dos estados estrangeiros. Os embaixadores venezianos, diziam, são zelozissimos quando se trata de descobrir o odio ou o amor, o favor ou o desfavor, as forças e os intuitos dos princepes, e muito generosos quando se trata de penetrar os segredos dos gabinetes. Seja como fôr, é innegavel, que os homens que tomam parte ou são iniciados nos negocios publicos possuem sobre a situação politica da sua epoca e sobre os acontecimentos precedentes, assim como sobre as circumstancias decisivas e os interesses dominantes, um conhecimento que se conserva occulto ao publico e que morre ordinariamente com elles. Ora, são estas noções que os embaixadores venezianos colligiam em quasi todas as côrtes da Europa, e que elles communicavam á sua Republica em Relações destinadas a serem cuidadosamente conservadas nos archivos do estado.» '

A reacção tremenda que Veneza suscitou contra a acção maritima dos Portuguezes, revela o conhecimento profundo que tinha dos seus planos de occupação e de exploração mercantil. «A Republica encarregou-se de enviar para o Egypto e para as costas da Arabia artifices para fundirem canhões, e calafates para construirem náos de guerra.» 0 sultão do Egypto, induzido a fazer a ameaça de destruir os Logares santos, aterrou por tal fórma o papa, que este se viu forçado a

1 Ranke, A Hespanha sob Carlos v, Prefac.
2 Michaud, Histoire des Croisades, p. 44.

pedir a Dom Manoel que a bem da christandade sustasse as suas novas conquistas. Bem aconselhado, o rei respondeu ao papa que não temia a ameaça do sultão, que pelo seu lado lhe queimaria Meca e Medina, abrindo um mais vasto campo na Asia á propagação da fé christã. O grande presente offerecido ao Papa pelo rei Dom Manoel foi um meio de dissiparThe estes terrores, ainda que pelo seu lado o sultão do Egypto não destruiria as egrejas de Jerusalem, que pelos tributos dos peregrinos eram uma pingue fonte de riqueza.

Vencidos os Arabes definitivamente em Hespanha pela conquista de Granada, os Turcos ou Osmanlis substituiram-se na lucta contra as potencias christans no Mediterraneo, tendo-se já apoderado da Hungria. Debalde o Papa chama para uma Cruzada os princepes da christandade. Veneza entende se com os Turcos, para fazer desempedidamente o seu commercio no Levante, e derrotar os emporios dos Portuguezes no Oriente. A França de Francisco I faz tratados com os Turcos; e a Inglaterra receiosa da França, não quer dispender os seus recursos em uma guerra improductiva como a Cruzada, que só interessaria as monarchias continentaes. A Allemanha, pela reacção da Refórma de Luthero contra Roma, pronunciava-se em Ratisbonne contra a cruzada feita aos Turcos.

Carlos v, reunindo a corôa real de Hespanha e a imperial da Allemanha, mostrou-se indifferente á queda da ilha de Rhodes em poder dos Turcos, mostrando audazmente o seu germanismo, atacando a Italia com a antiga furia gothica, e fazia o saque de Roma,

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