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seculo XVI e no epitaphio da sepultura de Camões, de 1594, se inscreveu que o poeta falecera em 1579. Este erro não proveiu da ignorancia do facto, mas do syncretismo dos dois annos de 1579 e 1580, em que a mesma peste grassou terrivelmente. Antes da descoberta do documento que fixa o falecimento de Camões em 10 de Junho de 1580, já se podia provar, que ainda vivia o Poeta em 24 de Dezembro de 1579:- Para receber a sua tença tinha Camões de provar a residencia na côrte ou ir pessoalmente recebel-a á thesouraria-mór como inscripto na Moradia dos fidalgos da Casa real. Tendo ficado por cobrar os quarteis que lhe pertenciam a contar do comêço de Janeiro a Junho de 1580, inferiu o Dr. Storck, que os 6$765 reis pagos a sua mãe, correspondem a 169 dias, (á razão de 15$000 por anno) e que portanto fôra pessoalmente receber o seu ultimo quartel em 24 de Dezembro de 1579. (Vida, 726.) A doença do poeta, como preso em sua pousada, segundo diz Falcão de Resende, aggravada pelos soffrimentos moraes no tempo das alterações, designação dos seis mezes que decorreram depois da morte do Cardeal Rei, mostra-nos por que ficou por receber o quartel da sua tença de janeiro a abril de 1580. Nas Satiras do tempo já se falla na tremenda peste e na importancia dada aos jurisconsultos, em vez de considerar os homens de guerra para a defeza da nação.

Entre as poesias que se fizeram dando expressão ao sentimento pela derrota de Alcacer Kibir e traições do partido castelhano contra a autonomia nacional, correu uma pa

rodia do Recuerd el alma dormida, com o titulo de Pranto sobre a Cidade de Lisboa:

Recuerda, ciudad dormida!
dexa el sueno y despierta
tu sentido!
Empieza a llorar tu vida,
pues los que guardan tu puerta
te han traydo!

Tu esfuerço, tu confiança
en tiempo que bien dormias
se cayó!

Tu Rey, tu sola esperança,
dormiendo tu muchos dias,
se perdió.

E referindo-se ás calamidades publicas que tanto quebrantaram os animos para a resistencia nacional, como foram a peste de 1579 a 1580 e a terrivel crise da fome:

Dexa pestilencia y hambre
que no te quieren dexar,
dexa guerra;

mas tu libertad y sangre
juntos se van derramar
por la tierra.

Muy presto te bolverás
esclava de un tyrano
simulado,

y lo que entonces verás,
jamás ningun pecho humano
lo ha provado.

Como para a questão da successão ao throno se recorreu á consulta de jurisconsultos, emquanto Philippe II se preparava militarmente para a occupação de Portugal, recla

mavam as trovas:

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E como já era bem conhecido o intuito traidor dos Governadores do Reino, terminava a trova:

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1 Ms. 609, (Fundo Azevedo.) Bibl. Porto. D. Carolina Michaelis, Recuerd el Alma dormida, p. 11.

O Cardeal Rei mandou reunir as segundas Côrtes, convocadas para Almeirim, fazendo-se o auto de abertura em 11 de Janeiro de 1580. Fez a Oração de abertura o castelhanista D. Antonio Pinheiro, bispo eleito de Coimbra, ao qual respondeu Phebus Moniz, procurador da Cidade de Lisboa e presidente das Côrtes. No seu discurso desvenda Phebus Moniz as traições planeadas:

«Mas levar negocios por caminhos não habitados e escuros, faz-me crêr que a justiça é nossa. Eu, Senhor, não sahi do meu buraco para fazer o que não devo: A liberdade do Reino em que nasci e que de mim confiou.E assim, não sei, Senhor, para que me fizestes cá vir, se quereis dar o Reino a Castella?

- Só eu vos parecia digno de me fazerdes ministro de tamanho estrago de Portugal? El Rey Filippe é christão e não quererá mover guerra entre christãos por uma cousa duvidosa contra a justa successão... e quando o quizer fazer, faremos o que sempre fizemos. Bem sabemos perder a vida pela liberdade; e postoque sejamos poucos e desarmados, e elle poderoso e apercebido, não seremos vencidos, pois levamos a verdade e a rasão por guia.

«Attonito estou de vêr, que sendo a justiça egual, e estando ainda o parecer de V. A. duvidoso, se incline antes para Castella. Como poderá V. A. extinguir uma nação, que os reis seus antepassados trabalharam tanto por enobrecer? Porque quereis que vos estale o reino nas mãos? Não vê V. A. a nodoa que põe no seu nome! Aonde se dirá com honra vossa, que se entregou este Reino a

ļ

E con

dor dos

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