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«Tudo hade ter remedio; e quando outra cousa fôra, os Governadores fal-a-hão boa, se lhe obedecerem; por que de cinco temos quatro, como V. M. sabe, e por taes apontados; e o Arcebispo (D. Jorge de Almeida) disse-me hontem que lhe desse mais couraças... na Comarca de Lisboa temos de quatro Regedores (Vereadores) tres, contando o novo, que El Rei nomeou; e assim depois que elle entrou está aquillo melhor.»

Os cinco Governadores do Reino, mandaram em 4 de Fevereiro de 1580 embaixadores a Roma, Castella, França e Inglaterra a dar noticia do falecimento do Cardeal, resolvendo dirigirem-se ao Papa para interceder junto de Philippe II para que não entrasse em Portugal com mão armada, esperando pelo que elles Governadores e as Côrtes, que deviam reunir em Setubal, decidissem. As projectadas Côrtes foram dissolvidas em 15 de Março de 1580. Em 21 de Março foram procurados os Governadores e Defensores do no pelo Duque de Ossuna e Christovam foura, o principal agente de Philippe II isboa, e juntamente dois Letrados, que : «embaixadores de Castella fizeram uma ca, apontando algumas rasões por parte I Rei de Castella sobre a successão d'esReinos, e nos deixaram Apontamentos e Carta de S. M.» «Sobre a mesma subia fallaram e deram outra Carta e Apons aos Prelados, e outra aos Nobres... >> le Almeirim, de 24 de Março.) retexto de alterações da ordem puataram os Governadores Defensores no de afastar de Lisboa todos os in

Castella por temor de se defender do seu poder?

<< Pelas lagrimas dos orfãos ou pelo remedio dos fidalgos... pelas necessidades das viuvas... pela miseria dos pobres... peçovos, Senhor, que conserveis este Reino na liberdade em que os Reis vossos antepassados, a quem succedestes, o puzeram. Representae ante os vossos olhos, que todos commigo vos dão vozes : A quem nos deixaes? Porque nos cativaes? A quem nos entregaes? Onde nos trazeis? Clama o vosso povo; clamam as nossas consciencias; clama a nossa justiça ; clama a nossa rasão; e os nossos clamores hão de chegar ao céo.» Passava-se isto na sessão de 13 de Janeiro de 1580; em 21 de este mez reunia-se a Nobreza em Almeirim, depois de ter sido annullada uma primeira eleição por serem os Procuradores patriotas, e de se terem expulsado dos cargos publicos de importancia os que não eram por Castella. N'esta segunda votação, o Cardeal Rei mandou expulsar de Almeirim o Conde de Tentugal, o Commendador de Christo, e prender D. Manoel de Portugal, por terem fallado contra a voz de Castella.

O Cardeal faleceu em 31 de Janeiro de 1580, chasqueado pelo povo de Santarem como traidor infame nas suas cantigas. Antes do seu falecimento, escrevia na vespera a Philippe II o repellente Christovam de Moura:

1 Memoria historica pertencente ao Cardeal-Rei. Ms. de Bicker, extractado pelo archivista Freire de Oliveira.

«Tudo hade ter remedio; e quando outra cousa fôra, os Governadores fal-a-hão boa, se lhe obedecerem; por que de cinco temos quatro, como V. M. sabe, e por taes apontados; e o Arcebispo (D. Jorge de Almeida) disse-me hontem que lhe desse mais couraças... na Comarca de Lisboa temos de quatro Regedores (Vereadores) tres, contando o novo, que El Rei nomeou; e assim depois que elle entrou está aquillo melhor. >>

Os cinco Governadores do Reino, mandaram em 4 de Fevereiro de 1580 embaixadores a Roma, Castella, França e Inglaterra a dar noticia do falecimento do Cardeal, resolvendo dirigirem-se ao Papa para interceder junto de Philippe II para que não entrasse em Portugal com mão armada, esperando pelo que elles Governadores e as Côrtes, que deviam reunir em Setubal, decidissem. As projectadas Côrtes foram dissolvidas em 15 de Março de 1580. Em 21 de Março foram procurados os Governadores e Defensores do Reino pelo Duque de Ossuna e Christovam de Moura, o principal agente de Philippe II em Lisboa, e juntamente dois Letrados, que como: «embaixadores de Castella fizeram uma pratica, apontando algumas rasões por parte de El Rei de Castella sobre a successão d'estes Reinos, e nos deixaram Apontamentos e uma Carta de S. M.» «Sobre a mesma substancia fallaram e deram outra Carta e Apontamentos aos Prelados, e outra aos Nobres... » (Carta de Almeirim, de 24 de Março.)

A pretexto de alterações da ordem publica, trataram os Governadores e Defensores do Reino de afastar de Lisboa todos os in

fluentes do partido nacional: «Por cumprir muito para a quietação e defensão das cidades e villas acastelladas estarem n'ellas os Alcaides móres, lhe mandamos que cada um se fosse á sua Alcadaria para dar ordem na fortificação d'ella; e algumas de que não havia Alcaides móres, ou não eram capazes para defensão d'ellas, provemos do taes pessoas como para isso se requeria.» (Cart. cit.) Dom Diogo de Menezes foi afastado para a Capitania geral da Provincia de Alemtejo; Dom Duarte de Menezes para a do reino do Algarve; Antonio Moniz Barreto para capitão general da Comarca de Setubal. Tambem foram afastados, Fernão da Silveira para o governo da Torre de S. Vicente de Belem; Ruy Lourenço de Tavora para a de S. Sebastião de Caparica; Tristão Vaz da Veiga para a Torre de San Gião; D. Antonio para a de Cascaes; D. Manoel de Portugal, D. Diogo de Castello Branco e Fernão da Silva foram afastados a pretexto de irem examinar estas torres.

N'este lance tambem D. Francisco de Almeida, o amigo intimo de Camões, dos tempos da India, fôra afastado para o commando da Capitania general da Comarca da Lamego. Foi por tanto depois de 24 de Março de 1580, que escreveu Camões a celebre Carta dirigida a D. Francisco de Almeida, a qual se perdeu em Madrid, e de que se conservou o fragmento impresso na edição dos Lusiadas de 1626, onde o livreiro Craesbeck escreve de Camões: <adoecendo no tempo das alterações, n'esta cidade de Lisboa, e estando o senhor Dom Francisco por Capitão general da Comarca de

Lamego, se despediu d'elle por carta, (que é a ultima que sabemos sua) da qual acabarei esta com trasladar algumas regras para que veja este reino o muito que deve á sua memoria: queixa-se pois de estar opprimido da doença, de necessidades, e de tristeza de vêr a Portugal dividido em tantos bandos, e depois de particularisar cada cousa d'estas, diz as seguintes palavras: Em fim, acabarei a vida...» Juntando os dois fragmentos d'esta memoravel carta de Camões, como procedeu Juromenha, faz-se uma nitida ideia da situação de Camões em fins de Março de 1580 : «Quem ouviu dizer nunca que em hum tão pequeno leito, quizesse a fortuna representar tão grandes desaventuras? E eu, como se ellas não bastassem, me ponho ainda da sua parte; porque procurar resistir a tantos males, pareceria especie de desavergonhamento. E assi acabarei a vida, e verão todos que fui tão affeiçoado á minha patria, que não sómente me contentei de morrer n'ella, mas de morrer com ella. >>>

Vê-se por esta carta, que Camões estava ainda em sua casa; mas tendo os Governadores do Reino dado ordens terminantes para que todos os doentes fossem pelo Provedormór da Saude mandados recolher a barracões fóra de Lisboa, e exercendo-se esta violencia administrativa para expulsar da cidade os partidarios da independencia nacional, Camões foi tambem envolvido n'esta malvadez do partido castelhano, e arrastado á chamada Casa dos Doentes (estabelecida em 23 de Julho de 1520) em que os feridos da peste ficassem incommunicaveis até com os parentes. >>

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