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ditos nove mil reis de tença nos livros della e despachar em cada hum anno em parte onde haja d'elles bom pagamento, e por firmeza de todo lhe mandei dar esta minha carta de padrão por mim assignada e assellada com o meu sello pendente. Antonio Pereira a fiz a cinco dias do mez de Fevereiro anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de MDLXXXV, e eu Manoel de Azevedo a fiz escrever.» (Doações de Filippe 1, fl. 132. Na Torre do Tombo.)

Por ventura, esta mercê de 17 de Novembro de 1585 vinha supprir o têrmo do privilegio dos Lusiadas, que motivara a edição dos Piscos, d'esse anno.

Depois de 1585 nada mais se sabe da mãe do poeta, pouco depois extincta pela sua muita edade. A sepultura do poeta começou a representar-se como um logar sagrado, o altar da patria. Mas aonde estava ella? Segundo a tradição, o poeta Diogo Bernardes desejava ser enterrado ao lado de Camões. Outros poetas que tambem estiveram no cativeiro de Africa, como Fernão Alvares de Oriente e Miguel Leitão de Andrada, preoc cupam-se com o logar da sua sepultura, que a tradição indicava em Santa Anna (Adro da Peste) e que elles tomaram pela Egreja de Santa Anna. Dom Gonçalo Coutinho, como amigo de Camões, tratou de assignalar a sua sepultura. No prologo das Rimas, de 1595, o livreiro Estevam Lopes escreve a D. Gonçalo Coutinho: «Mas como não heide exalçar até ao céo a magnifica e heroica obra que v. m. fez em dar sepultura honrada aos ossos de este admiravel varão, que pobre e plebeiamente jaziam no Mosteiro de Santa Anna. Tomar v. m. á sua conta a obrigação commua, não d'este Reino só, mas de toda Espa

nha; e assi recolheu pera si toda a gloria que a toda esta provincia viera, se para tão devida obra se ajuntara. Bastante rasão era esta para suas poesias serem dedicadas ao nome de v. m. e não conhecerem outro... Lisboa, 27 de Fevereiro de 1595.» E Fernão Alvares d'Oriente, na sua Lusitania transformada, (fl. 69 y) refere-se a esta homenagem: << Mas entre todas (estava) a estatua do Princepe dos Poetas da nossa idade, que cantou a larga Navegação dos Lusitanos, a qual se divisava das outras com este letreiro Princepe dos Poetas, titulo que d'ali parece trasladou á sua sepultura um peito illustre e generoso.> Eis o Epitaphio transcripto em 1621, na edi. ção das Rimas (contrafacção de 1607): = Aqui jaz Luiz de Camões Princepe dos Poetas do seu tempo morreu no anno de 1579, esta campa mandou aqui pôr Dom Gonçalo Coutinho na qual se não enterrará pessoa algua.=

Em um Soneto de Luiz Franco falla-se n'esta homenagem:

Di Gonzallo mercê, gentil Coutigno
Per Muse illustre, e arme e avi illustre
Ch' al CAMÕES nella morte fu Mecena.

No prologo biographico de Mariz na edição dos Lusiadas de 1613, ao transcrever este epitaphio, adulterou-o accrescentandolhe: Vivêo pobre e miseravelmente e assi morreo, anno de 1579. Esta deturpação, transcripta em boa fé por todos os biographos, foi notada em 1817 nos Retratos de Varões e Donas.

Tambem Miguel Leitão de Andrade, veiu junto da imaginaria sepultura do Poeta, mandando pôr na parede da egreja de Santa Anna uma tarja de azulejos com uma cruz ao meio, tendo de cada lado uma inscripção e uma figura, a primeira com um ramo verde na mão, a segunda com um livro, tinteiro e penna. Ao pé da cruz lia-se:

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Foi achada esta inscripção por Juromenha no Ms. da livraria das Necessidades intitulado: Livro de Diogo de Moura de Sousa o qual elle escreveo de suas curiosidades de muitas e diversas poesias de differentes sujeitos. &. 1638. Ahi se descreve o local da sepultura: «A' entrada da porta principal de Sant'Anna á mão esquerda está a sepultura do famoso poeta Luis de Camões a qual mandou fazer D. Gonçalo Coutinho na qual estão postos estes epitahios. » Transcreve D. Gonçalo Coutinho, o do P.e Matheus Cardoso e pela primeira vez o de Miguel Leitão. Continuando a lenda, Faria e Sousa nos commentarios dos Lusiadas de 1639 allude vagamente á sepultura do Poeta, na Vida que precede as Rimas; diz que fôra enterrado al rincon de la mano esquierda, e D. Gonçalo

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Coutinho, le pasó casi a la mitad de la Iglesia. O chronista Frei Fernando da Soledade. na sua Historia seraphica, de 1709, diz que pelas obras do mosteiro a sepultura ficou dentro da clausura, ou do côro das freiras. Depois, o terremoto de 1755 veiu complicar o problema das pesquizas da imaginaria sepultura. O caracter nacional dos Lusiadas, como o palladio portuguez, impunha-se ás almas mais puras, que não se avergavam ao jugo castelhano, buscando no poema de Camões o lenitivo para a ruina da patria; o velho Bispo de Targa Frei Thomé de Faria traduzia aos outenta annos para latim o livro da gloria portugueza, o Thesouro do Luso, como The chamou Cervantes. João Pinto Ribeiro, o principal fautor da Revolução de 1640, que vindicou a independencia de Portugal, estudava e commentava os Lusiadas.

No começo do seculo XIX já a Epopêa de Camões era acclamada pelo seu espirito uni

1 Em 1805 escrevia o professor A. M. do Couto, nas Memorias sobre a vida de Bocage: «Para ser em tudo quasi parelho em Bocage com Camões, é que o seu enterramento se fez em sepultura indistinctiva sem signal que a designasse, que devera ser nova e descriptiva. A de Camões (por muito pobre) foi priscamente no Adro de Santa Justa, do qual Fr. Luiz de Sousa, ainda no seculo da Casa de Alorna e depois frade dominicano, por ajuste pecuniario o trasladou para o côro de baixo das Freiras de Sant'Anna, mas sem lápida; que será preciso de todo esfolinhar para levar seus ossos ao Pantheon designado (hoje) S. Vicente de Fóra; achando-se talvez seus ossos, por que nenhuns outros ahi foram enterrados... (p. 35.) N'esta tradição confusa ha um vislumbre de verdade: ter Camões sido enterrado em um Adro da Peste, que foi Santa Anna.

versalista. Em uma ficção litteraria Veglie di Tasso, publicada em francez no anno 11 da Republica, e em italiano em 1803, poz-se esta apostrophe na bocca do vate de Sorrento: «Poderá acontecer que o Imperio das Indias saia das mãos dos successores de Manoel, e que a soberba Lisboa não vêja mais chegar ao seu porto os thesouros de Africa e da Asia: mas a primeira gloria das suas immensas conquistas viverá sempre resplandecente no Poema de Camões; as nações mais remotas admirarão nos Lusiadas o valor incrivel de um punhado de homens, que affrontando perigos terriveis, enormes e nunca vistos, e domando populosas nações, levaram ás extremidades do universo as suas virtudes e a religião de seus paes» Tem a importancia de nos mostrar a orientação da critica moderna na comprehensão de Camões.

Pela sua vida, pela sua obra e ainda pelas terriveis circumstancias da época, que se reflectiram na sua morte, Camões sentiu e deu fórma imperecivel á eterna esperança, da forte raça a que pertence o ramo luso. Desde Pinto Ribeiro, Filinto Elysio. Morgado de Matheus, Domingos Sequeira, Bomtempo, e Almeida Garrett, foi glorificando Camões que se tocou a fibra organica para acordar Portugal

1 Pato Moniz considerou este texto como authentico do proprio Tasso; acceitou-o Juromenha, (Obr., 1 157 e 512) e seguimol-o na Hist de Camões, p. 397: Estava porém provado desde 1810, como uma fabricação litteraria em nome de Tasso. (Dr. Storck, Vida, p. 706.)

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