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XCI

Não eram senão premios, que reparté
Por feitos immoriaes e soberanos

O mundo co'os barões, que esforço e arte
Divinos os fizeram, sendo humanos:
Que Jupiter, Mercurio, Phebo, e Marte,
Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos,
Ceres, Pallas, e Juno, com Diana,
Todos foram de fraca carne humana.

XCII

Mas a fama, trombeta de obras tais,
Lhe deo no mundo nomes tão estranhos,
De Deoses, Semideoses immortais,
Indigetes, Heroicos, e de Magnos,
Por isso, ó vós, que as famas estimais,
Se quizerdes no mundo ser tamanhos,
Despertai já do somno do ocio ignavo,
Que o animo de livre faz escravo.

XCIII

E ponde na cobiça hum freio duro,
E na ambição tambem, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Vicio da tyrannia infame, e urgente;
Porque essas honras vaas, esse ouro puro
Verdadeiro valor não dão á gente:
Melhor he merece-los, sem os ter,
Que possui-los, sem os merecer.

XCIV

Ou dai na paz as leis iguaes, constantes,
Que aos grandes não dem o dos pequenos,
Ou vos vesti nas armas rutilantes
Contra a lei dos imigos Sarracenos:
Fareis os reinos grandes e possantes,
E todos tereis mais, e nenhum menos,
Possuireis riquezas merecidas,

Com as honras, que illustram tanto as vidas.

XCV

E fareis claro o Rei, que tanto amais,
Agora co'os conselhos bem cuidados,
Agora co'as espadas, que immortais
Vos farão, como os vossos já passados:
Impossibilidades não façais;

Que, quem quiz, sempre pôde: e numerados
Sereis entre os Heroes esclarecidos,

E nesta ilha de Venus recebidos.

EXCERPTOS DO CANTO X

Os portuguezes com as Nymphas, suas esposas, se encaminham para os paços de Thetis onde esta deosa lhes da hum sumptuoso banquete

I

Mas já o claro amador da Larissea
Adúltera inclinava os animaes
Lá para o grande lago, que rodea
Temistitão nos fins Occidentaes:
O grande ardor do Sol Favonio enfrea
Co'o sôpro, que nos tanques naturaes
Encrespa a agua serena, e despertava
Os lirios e jasmins, que a calma aggrava.

II

Quando as formosas nymphas, co'os amantes
Pela mão já conformes e contentes,
Subiam para os paços radiantes,
E de metaes ornados reluzentes,
Mandados da Rainha, que abundantes
Mesas d'altos manjares excellentes,
Lhe tinha apparelhadas, que a fraqueza
Restaurem da cansada natureza.

Alli em cadeiras ricas, crystallinas,
Se assentam dous e dous, amante, e dama:
N'outras á cabeceira, d'ouro finas,

Está co'a bella deosa o claro Gama.

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III

De iguarias suaves e divinas,

A quem não chega a Egypcia antigua fama,
Se accumulam os pratos de fulvo ouro,
Trazidos Já do Atlantico thesouro.

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Os vinhos odoriferos, que acima
Estão, não só do Italico Falerno,
Mas da Ambrósia, que Jove tanto estima,
Com todo o ajuntamento sempiterno,
Nos vasos, onde em vão trabalha a lima,
Crespas escumas erguem, que no interno
Coração movem subita alegria,
Saltando co'a mistura d'agua fria.

V

Mil praticas alegres se tocavam,
Risos doces, subtis, e argútos ditos,

Que entre hum, e outro manjar se alevantavam,
Despertando os alegres appetitos:
Musicos instrumentos não faltavam,
Quaes no profundo reino os nus espritos
Fizeram descansar da eterna pena,
C'huma voz d'huma angelica Sirena.

Para mais solemnidade do banquete offerecido abs Lusos argonautas, huma Sirena, animada de espirito prophetico, canta ao som de instrumentos musicos as principaes façanhas dos Vice-Reis, Governadores e capitães Portuguezes na India.

VI

Cantava a bella nympha, e co'os accentos,
Que pelos altos paços vão soando,

Em consonancia igual os instrumentos
Suaves vem a hum tempo conformando:
Hum subito silencio enfrea os ventos,
E faz ir docemente murmurando
As aguas, e nas casas naturaes
Adormecer os brutos animaes.

VII

Com doce voz está subindo ao ceo
Altos barões, que estão por vir ao mundo,
Cujas claras ideas vió Proteo

N'hum globo vão, diaphano, rotundo;
Que Jupiter em dom iho concedeo
Em sonhos, e despois no reino fando
Vaticinando o disse, e na memoria
Recolheo logo a nympha a clara historia.

VIII

Matèria he de cothurno, e não de socco,
A, que a nympha aprendeo no immenso lago,
Qual lopas não soube, ou Demodoco,
Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.

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