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EXCERPTOS DO CANTO X

Os portuguezes com as Nymphas, suas esposas, se encaminham para os paços de Thetis onde esta deosa lhes da hum sumptuoso banquete

I

Mas já o claro amador da Larissea
Adúltera inclinava os animaes
Lá para o grande lago, que rodea
Temistitão nos fins Occidentaes:
O grande ardor do Sol Favonio enfrea
Co'o sôpro, que nos tanques naturaes
Encrespa a agua serena, e despertava
Os lirios e jasmins, que a calma aggrava.

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Quando as formosas nymphas, co'os amantes
Pela mão já conformes e contentes,

Subiam para os paços radiantes,

E de metaes ornados reluzentes,
Mandados da Rainha, que abundantes
Mesas d'altos manjares excellentes,
Lhe tinha apparelhadas, que a fraqueza
Restaurem da cansada natureza.

III

Alli em cadeiras ricas, crystallinas,
Se assentam dous e dous, amante, e dama:
N'outras á cabeceira, d'ouro finas,
Está co'a bella deosa o claro Gama.

De iguarias suaves e divinas,

A quem não chega a Egypcia antigua fama,
Se accumulam os pratos de fulvo ouro,
Trazidos já do Atlantico thesouro.

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Os vinhos odoriferos, que acima
Estão, não só do Italico Falerno,
Mas da Ambrósia, que Jove tanto estima,
Com todo o ajuntamento sempiterno,
Nos vasos, onde em vão trabalha a lima,
Crespas escumas erguem, que no interno
Coração movem subita alegria,
Saltando co'a mistura d'agua fria.

Mil praticas alegres se tocavam,
Risos doces, subtis, e argútos ditos,
Que entre hum, e outro manjar se alevantavam,
Despertando os alegres appetitos:

Musicos instrumentos não faltavam,

Quaes no profundo reino os nus espritos

Fizeram descansar da eterna pena,

C'huma voz d'huma angelica Sirena.

Para mais solemnidade do banquete offerepido abs Lusos argonautas, huma Sirena, animada de espirito prophetico, canta ao som de instrumentos musicos as principa es façanhas dos Vice-Reis, Governadores e capitães Portuguezes na India.

VI

Cantava a bella nympha, e co'os accentos,
Que pelos altos paços vão soando,

Em consonancia igual os instrumentos
Suaves vem a hum tempo conformando:
Hum subito silencio enfrea os ventos,
E faz ir docemente murmurando
As aguas, e nas casas naturaes
Adormecer os brutos animaes.

VII

Com doce voz está subindo ao ceo
Altos barões, que estão por vir ao mundo,
Cujas claras ideas vió Proteo

N'hum globo vão, diaphano, rotundo;
Que Jupiter em dom iho concedeo
Em sonhos, e despois no reino fando
Vaticinando o disse, e na memoria
Recolheo logo a nympha a clara historia.

VIII

Matèria he de cothurno, e não de socco,
A, que a nympha aprendeo no immenso lago,
Qual lopas não soube, ou Demodoco,
Entre os Pheaces hum, outro em Cartbago.

O vate estando proximo a concluir o seu poema, c invoca pela ultima vez a Musa dos versos heroicos e maviosamente se lastima de seus des. gostos

VIII

Aqui, minha Calliope, te invoco

Neste trabalho extremo; porque em pago
Me tornes, do que escrevo, e em vão pretendo
O gosto de escrever, que vou perdendo.

IX

Vão os annos descendo, e já do estio
Ha pouco que passar até o outono:
A fortuna me faz o engenho frio,
Do qual já não me jacto, nem me abono:
Os desgostos me vão levando ao rio
Do negro esquecimento, e eterno sono:
Mas, tu me dá, que cumpra, ó grão Rainha
Das Musas, co'o que quero á nação minha!

Começa a Sirena a sua canção prophetica, celebrando as maravilhosas proezas de Fernão Pacheco Pereira, cognominado o Achilles Lusitano

X

Cantava a bella deosa, que viriam
Do Tejo pelo mar, que o Gama abrira,
Armadas, que as ribeiras venceriam,
Por onde o Oceano Indico suspira:
E que os gentios Reis, que não dariam
A cerviz sua ao jugo, o ferro e ira
Provariam do braço duro e forte,
Até render-se a elle, ou logo à morte:

XI

Cantava d'hum, que tem nos Malabres
Do summo sacerdocio a dignidade,
Que, só por não quebrar co'os singulares
Barões os nós, que dera, d'amizade,
Soffrerá suas cidades, e lugares,

Com ferro, incendios, ira, e crueldade,
Vêr destruir do Samorim potente,
Que taes odios terá co'a nova gente.

XII

E canta, como lá se embarcaria
Em Belem o remedio deste dano,
Sem saber o que em si ao mar traria,
O grão Pacheco, Achilles Lusitano:

0

pezo sentirão, quando entraria,

O curvo lenho, e o fervido Oceano,

Quando mais n'agua os troncos, que gemerem, Contra sua natureza se metterem.

XIII

Mas já chegado aos fins Orientaes,
E deixado em ajuda do gentio
Rei de Cochim com poucos naturaes,
Nos braços do salgado e curvo rio,
Desbaratará os Naires infernaes
No passo Cambalão, tornando frio
De espanto o ardor immenso do Oriente.
Que verá tanto obrar tão pouca gente.

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