Não eram senão premios, que reparté Por feitos immoriaes e soberanos
O mundo co'os barões, que esforço e arte Divinos os fizeram, sendo humanos: Que Jupiter, Mercurio, Phebo, e Marte, Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos, Ceres, Pallas, e Juno, com Diana, Todos foram de fraca carne humana.
Mas a fama, trombeta de obras tais, Lhe deo no mundo nomes tão estranhos, De Deoses, Semideoses immortais, Indigetes, Heroicos, e de Magnos, Por isso, ó vós, que as famas estimais, Se quizerdes no mundo ser tamanhos, Despertai já do somno do ocio ignavo, Que o animo de livre faz escravo.
E ponde na cobiça hum freio duro, E na ambição tambem, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vicio da tyrannia infame, e urgente; Porque essas honras vaas, esse ouro puro Verdadeiro valor não dão á gente: Melhor he merece-los, sem os ter, Que possui-los, sem os merecer.
Ou dai na paz as leis iguaes, constantes, Que aos grandes não dem o dos pequenos, Ou vos vesti nas armas rutilantes Contra a lei dos imigos Sarracenos: Fareis os reinos grandes e possantes, E todos tereis mais, e nenhum menos, Possuireis riquezas merecidas,
Com as honras, que illustram tanto as vidas.
E fareis claro o Rei, que tanto amais, Agora co'os conselhos bem cuidados, Agora co'as espadas, que immortais Vos farão, como os vossos já passados: Impossibilidades não façais;
Que, quem quiz, sempre pôde: e numerados Sereis entre os Heroes esclarecidos,
E nesta ilha de Venus recebidos.
Os portuguezes com as Nymphas, suas esposas, se encaminham para os paços de Thetis onde esta deosa lhes da hum sumptuoso banquete
Mas já o claro amador da Larissea Adúltera inclinava os animaes Lá para o grande lago, que rodea Temistitão nos fins Occidentaes: O grande ardor do Sol Favonio enfrea Co'o sôpro, que nos tanques naturaes Encrespa a agua serena, e despertava Os lirios e jasmins, que a calma aggrava.
Quando as formosas nymphas, co'os amantes Pela mão já conformes e contentes, Subiam para os paços radiantes, E de metaes ornados reluzentes, Mandados da Rainha, que abundantes Mesas d'altos manjares excellentes, Lhe tinha apparelhadas, que a fraqueza Restaurem da cansada natureza.
Alli em cadeiras ricas, crystallinas, Se assentam dous e dous, amante, e dama: N'outras á cabeceira, d'ouro finas,
Está co'a bella deosa o claro Gama.
De iguarias suaves e divinas,
A quem não chega a Egypcia antigua fama, Se accumulam os pratos de fulvo ouro, Trazidos Já do Atlantico thesouro.
Os vinhos odoriferos, que acima Estão, não só do Italico Falerno, Mas da Ambrósia, que Jove tanto estima, Com todo o ajuntamento sempiterno, Nos vasos, onde em vão trabalha a lima, Crespas escumas erguem, que no interno Coração movem subita alegria, Saltando co'a mistura d'agua fria.
Mil praticas alegres se tocavam, Risos doces, subtis, e argútos ditos,
Que entre hum, e outro manjar se alevantavam, Despertando os alegres appetitos: Musicos instrumentos não faltavam, Quaes no profundo reino os nus espritos Fizeram descansar da eterna pena, C'huma voz d'huma angelica Sirena.
Para mais solemnidade do banquete offerecido abs Lusos argonautas, huma Sirena, animada de espirito prophetico, canta ao som de instrumentos musicos as principaes façanhas dos Vice-Reis, Governadores e capitães Portuguezes na India.
Cantava a bella nympha, e co'os accentos, Que pelos altos paços vão soando,
Em consonancia igual os instrumentos Suaves vem a hum tempo conformando: Hum subito silencio enfrea os ventos, E faz ir docemente murmurando As aguas, e nas casas naturaes Adormecer os brutos animaes.
Com doce voz está subindo ao ceo Altos barões, que estão por vir ao mundo, Cujas claras ideas vió Proteo
N'hum globo vão, diaphano, rotundo; Que Jupiter em dom iho concedeo Em sonhos, e despois no reino fando Vaticinando o disse, e na memoria Recolheo logo a nympha a clara historia.
Matèria he de cothurno, e não de socco, A, que a nympha aprendeo no immenso lago, Qual lopas não soube, ou Demodoco, Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.
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