Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

CLVI

Ou fazendo, que mais, que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante;
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos, e Trudante :
A minha já estimada, e leda Musa,
Fico, que em todo o mundo de vós cante,
De sorte, que Alexandro em vós se veja
Sem á dita de Achilles ter inveja.

ADDITAMENTO

Estancias supprimidas no texto, por descuido de

revisão

CANTO II

XCVIII

De botões d'ouro as mangas vem tomadas,
Onde o Sol reluzindo a vista cega:
As calças soldadescas recamadas
Do metal, que fortuna a tantos nega:
E com pontas do mesmo delicadas
Os golpes do gibão ajunta, e achega:
Ao Italico modo a aurea espada:
Pluma na gorra, hum pouco declinada.
CANTO X

XXIV

Isto fazem os Reis, quando embebidos
N'huma apparencia branda, que os contenta
Dão os premios, de Aiace merecidos,
A lingua de Ulysses fraudulenta:

Mas vingo-me; que os bens mal repartidos,
Por quem só doces sombras apresenta,
Se não os dão a sabios cavalleiros,
Dão-os logo a avarentos lisongeiros.

XXV

Mas tu, de quem ficou tão mal pagado
Hum tal vassallo, ó Rei, só nisto inico,
Se não és para dar-lhe honroso estado,'
He elle para dar-te hum reino rico:
Em quanto fôr o mundo rodeado
Dos Apollineos raios, eu te fico,

Que elle seja entre a gente illustre e claro,
E tu nisto culpado por aváro.

NOTAS AOS EXCERPTOS DO CANTO I

ESTANCIA I. Taprobana. - Antigo nome da ilha de Ceylão, hoje pertencente á India Ingleza.

EST. III. Cessem etc. - Expressão elliptica por: Cessem de ser tão celebradas etc. O sabio Grego a que o poeta aqui allude he Ulysses, rei de Ithaca, cujas navegações cantou Homero no poema intitulado Odyssea. Pelo Troiano entende-se aqui Eneas, principe, que, arrasada Troia, veio á Italia, e cujas navegações e proezas foram cantadas por Virgilio, na maravilhosa epopea latina a Eneida.

Alexandro. Alexandre, como hoje se diz, rei de Macedonia, e o mais afamado dos guerreiros e conquistadores dos tempos antigos.

Trajano.

Imperador romano dos principios do 2.o seculo da nossa era, famoso pela bondade do seu caracter, e pelas suas victorias no oriente.

[ocr errors]
[ocr errors]
[ocr errors]

Neptuno e Marte. Falsos deoses, que presidiam, segundo a fabula, o primeiro ao mar, o segundo á guerra.

Musa. As Musas, segundo a mythologia, presidiam ás lettras, e principalmente á poesia.

EST. IV. Tagides. - Nymphas do Tejo que em latim se diz Ta gus. Nymphas, conforme a fabula eram humas divindades de segunda ordem, que presidiam aos rios, aos bosques, ás fontes, aos montes, e que por isso recebiam diversos nomes. Grandiloquo. O mesmo que elevado, sublime. Phebo. O mesmo que Apollo, deos da poesia. Hippocrene. Fonte na Beocia, perto de Thebas, consagrada ás Musas.

EST. V. Furia. - Entenda-se: furor poetico, estro, enthusiasmo.

-

Avena. Palavra latina, que o poeta mesmo verte logo pelo vocabulo portuguez flauta, entendendo a pastoril. Tuba, o mesmo que trombeta. Por avena entende-se aqui o estylo humilde, bucolico, ou proprio de guardadores de gado; por tuba o estylo remontado heroico.

EST. VI. Antiga liberdade.

Aqui toma-se por indepen dencia, não sujeição a jugo estrangeiro. Mande. Ou a necessidade da rima obrigou o poeta a pôr

[ocr errors]

o verbo mandar no conjunctivo em vez de o pôr no indicativo; ou se o empregou assim de industria, deve tomar-se em significação optativa: como se dissera: Oxalá que todo o mundo reconheça o verdadeiro Deos e lhe obedeça!

EST. VII. Pelo novo e tenro ramo, entende-se o menino rei a quem o poema he dedicado, isto he, D. Sebastião. Pela arvore etc. a linhagem dos monarchas de Portugal. Pela arvore Cesárea, a serie dos imperadores de Allemanha, que pertendian ser successores dos antigos Cesares. Pela christianissima a casa real de França, que gosava do titulo de Christianissima.

[ocr errors]

Vede-o no vosso escudo etc. Allude á batalha do campo de Ourique, e ás sagradas quinas, ou chagas de Christo, que figu ram no escudo das armas de Portugal, o que tem relação com a apparição de Nosso Senhor Jesu Christo a D. Affonso Henriques antes daquella memoravel batalha. A apparição está bem longe de ser hum dogma de fé: he uma tradição piedosa, e nada mais. O documento capital com que antigamente se pertendia provar aquella insigne mercê feita ao primeiro de nossos reis, he evidentemente espurio, e forjado por hum impostor não menos imperito que impudente.

EST. VIII. Ismaelita. - Entende-se o mouro, descendente, como se pretende, de Ismael filho de Abraham e da escrava Agar. Turco, povo mahometano, de origem Tartara.

Sancto rio. O Ganges, que os gentios do Indostão tem por sagrado.

EST. IX. Inteira idade. A idade adta.

EST. XI. Rodamonte, Rogeiro e Orlando, paladinos ou cavalleiros errantes, muito celebres nos romances antigos de cavallarias, e nos poemas italianos de Boiardo e de Ariosto.

EST. XII. Nuno. D. Nuno Alvares Pereira. O condestavel, a quem deveu em grande parte a coroa El-Rei D. João I, bem como Portugal a sua independencia em 1383. Egas. Egas Moniz, aio de D. Affonso Henriques. D. Fuas Roupinho a quem se attribuem grandes façanhas por terra e por mar, no reinado de D. Affonso Henriques. Homero. O principe dos poetas epicos de todas as nações. Doze Pares. Doze esforçadissimos cavalleiros muito celebres na fabulosa historia de Carlos Magno. Doze de Inglaterra. Os doze portuguezes que venceram em Londres os doze inglezes, em desagravo de doze damas daquella

corte, segundo a tradição elegantemente historiada pelo nosso poeta no 6.o canto dos Lusiadas. Gama. D. Vasco da Gama, o principal heroe deste poema.

EST. VIII. Carlos Rei de França. - Carlos Magno, rei dos Francos, e imperador coroado no anno 800 da nossa era. Cesar. Caio Julio Cesar, vencedor das Gallias, dictador perpetuo, primeiro dos imperadores romanos que governaram como soberanos. Os Reis de Portugal mencionados nesta estancia são, D. Affonso Henriques, D. João 1.o, D. João 2.o, D. Affonso 4.° e D. Affonso 5.o

EST. XIV. Pacheco Diogo Pacheco Pereira, heroe que se immortalisou reinando D. Manuel. Almeidas. D. Francisco, e seu filho D. Lourenço. Albuquerque. O grande Affonso de Albuquerque. Castro. O famoso vice-rei D. João de Castro.

EST. XVI. Exicio. - Destruição, ruina. Thethys. Esposa do Oceano, e mãi das nymphas oceaninas.

EST. XVII. Olympica morada. - Entende-se o aqui ceo empyreo. O Olympo, era um monte entre a Macedonia e a Pharsalia, que os antigos pagãos diziam ser a morada de Jupiter e da mór parte dos outros deoses. Dos dous Avós. O paterno, afamado na paz, foi D. João III; o materno, celebre pelas suas victorias, D. Carlos 5.°

[ocr errors]

EST. XVIII. Argonautas.- Jasão e seus companheiros, antiquissimos navegadores, os quaes foram a Colchos, na nau Argos, á conquista do velo de ouro. Poeticamente dá-se tambem o nome de Argonautas, aos navegadores que comettem empresas longiquas e arrisca das.

EST. XIX. Gado de Próteo. As phocas ou os phocas. Próeo, semi-deos marinho, e propheta.

Via lactea.-Região no ceo, a que o vulgo chama estrada de S. Thiago. Tonante, epitheto de Jupiter, como quem dissesse trovejador.

Neto do velho Atlante.

Mercurio, falso deos, mensageiro

de Jupiter..

EST. XXI. Os que habitam etc. Designam-se aqui os quatro pontos cardinaes do mundo, pela ordem seguinte: Norte, Sul, Oriente, Occidente.

[ocr errors]

EST. XXII. Padre. -O mesmo que pai. Tem mais dignidade, e por isso Camões usa deste vocabulo muitas vezes. Vulcano.Filho deJupiter, para quem forjava os raios ajudado pelosCyclopes.

« VorigeDoorgaan »