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CXXXII

Taes contra Ignez os brutos matadores
No collo de alabastro, que sostinha
As obras, com que amor matou de amores,
Aquelle, que despois a fez Rainha,

As espadas banhando, e as brancas flores,
Que ella dos olhos, seus regadas tinha,
Se encarniçavam, férvidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.

CXXXIII

Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquelle dia,
Como da séva mesa de Thyestes,
Quando os filhos por mão de Atreo comia!
Vós, Ŏ concavos valles, que podestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes!

CXXXIV

Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, candida e bella,
Sendo das mãos lascivas maltratada
Da menina, que a trouxe na capella,
O cheiro traz perdido, e a cor murchada:
Tal está morta a pallida donzella,
Seccas do rosto as rosas, e perdida
A branca e viva còr, co'a a doce vida.

A D. Affonso IV succede seu filho D. Pedro I, o qual começa o seu reinado por vingar-se dos matadores de sua esposa D. Ignez

CXXXVI

Não correo muito tempo, que a vingança
Não visse Pedro das mortaes feridas;
Que, em tomando do reino a governança,
A tomou dos fugidos homicidas:

Do outro Pedro cruissimo os alcança;
Que ambos, imigos das humanas vidas,
O concerto fizeram duro e injusto,
Que com Lepido, e Antonio fez Augusto.

CXXXVII

Este castigador foi rigoroso
De latrocinios, mortes, e adulterios:
Fazer nos mãos cruezas, fero e iroso,
Eram os seus mais certos refrigerios:
As cidades guardando justiçoso,
De todos os soberbos vituperios,
Mais ladrões, castigando, á morte deo,
Que o vagabundo Alcides, ou Theseo.

A D. Pedro I succede seu filho D. Fernando I que casou com D, Leonor Telles por elle tirada ́ a seu marido Lourenço da Cunha; e cujo reinado foi desastroso militarmente fallando.

CXXXVIII

Do justo, e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o reino poz em muito aperto;
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defeza, esteve perto
De destruir-se o reino totalmente;
Que hum fraco Rei faz fraca a forte gente.

CXXXIX

Ou foi castigo claro do peccado,
De tirar Leonor a seu marido,
E casar-se com ella, de enlevado
N'hum falso parecer mal entendido:
Ou foi, que o coração sujeito, e dado
Ao vicio vil, de quem se vio rendido,
Molle se fez, e fraco, e bem parece;
Que hum baixo amor os fortes enfraquece.

EXCERPTOS DO CANTO IV

Havendo fallecido El-Rei D. Fernando sem deixar filho varão, o mestre d'Aviz D. João', filho, ainda que não legitimo, d'El-Rei D. Pedro, oppõe-se á Rainha viuva D. Leonor, que mandára acclamar sua filha D. Beatriz, casada com D. João I de Castella, mata o Conde de Ourem, valido de E. Leonor, he acclamado defensor do reino pelo povo de Lisboa (e depois jurado Rei nas Cortes de Coimbra de 1385)

I

Despois de procellosa tempestade,
Nocturna sombra, e sibilante vento,
Traz a manhãa serena claridade,
Esperança de porto, e salvamento:
Aparta o Sol a negra escuridade,
Removendo o temor do pensamento:
Assi no reino forte aconteceo,
Despois que o Rei Fernando falleceo;

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Porque se muito os nossos desejaram,
Quem os damnos e offensas vá vingando
Naquelles, que tão bem se aproveitaram
Do descuido remisso de Fernando;
Despois de pouco tempo o alcançaram,
Joanne sempre illustre alevantando
Por Rei, como de Pedro unico, herdeiro,
(Ainda que bastardo) verdadeiro.

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Ser isto ordenação dos Ceos divina,
Por sinaes muito claros se mostrou,
Quando em Evora a voz de huma menina,
Ante tempo fallando, o nomeou:

E como cousa em fim, que o Ceo destina,
No berço o corpo, e a voz alevantou:
Portugal, Portugal, alçando a mão,
Disse, pelo Rei novo, Dom João.

IV

Alteradas então do Reino as gentes
Co'o odio, que occupado os peitos tinha,
Absolutas cruezas, e evidentes
Faz do povo o furor, por onde vinha:
Matando vão amigos, e parentes
Do adultero Conde, e da Rainha,
Com quem sua incontinencia deshonesta
Mais, despois de viuva, manifesta.

Mas elle em fim, com causa deshonrado,
Diante della a ferro frio morre,
De outros muitos na morte acompanhado;
Que tudo o fogo erguido queima, e corre:
Quem, como Astyanax, precipitado
(Sem lhe valerem ordens) de alta torre,
A quem Ordens, nem aras, nem respeito:
Quem nu por ruas, e em pedaços feito.

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