: trado eminente e guerreiro, que morreu queimado em uma explosão de polvora, quando guarnecia Juromenha, em tempo de D. João Iv, capitaneando os noviços da companhia, cujo reitor era. Outro filho do poeta dos cascos varios, quando D. João Iv o mandava governar Ceuta, passou-se para Philippe Iv; e foi condemnado á morte 1. Teve a mãi de João Soares um primo chamado Damião de Aguiar Ribeiro, que era corregedor em Lisboa, reinando o cardeal. Como sabem, andavam então divididas as opiniões entre D. Antonio e Philippe II, ácerca da successão do throno. Damião de Aguiar era dos mais façanhosos propugnadores por Castella. Succedeu então que um homem do serviço de D. Antonio acutilasse na Padaria um vereador que fallava soltamente no senado contra o filho de Violante Gomes. Foi preso e summariamente condemnado á forca. Á hora em que o réo era levado, soube Damião de Aguiar na rua Nova que, na Ribeira, se ajuntava povo intencionado a tirar-lhe o padecente. Man 1 D. João Soares morreu em 1618, com 33 annos de idade. Escreveu e imprimiu em lingua castelhana: Archimusa de varias rimas y efetos, e La iffanta coronada por el-rei D. Pedro, D. Ignez de Castro, etc. Este poema não devia ser mui lisonjeiro ás tradições de Pero Coelho, avoengo do poeta. dou o corregedor parar o prestito; fez lançar uma corda de uma janella, e alli mesmo ordenou que se enforcasse o homem, para evitar semsaborias. Tão grato lhe ficou por isto o rei de Castella que o nomeou desembargador do paço, e depois chanceller-mór do reino, commendador de S. Matheus de Soure e de S. Cosme de Gondomar, commendas que rendiam 3:500 cruzados. Foi, por tanto, riquissimo, e tão bom homem que fundou o convento das Capuchinhas da Merciana. Instituiu morgadio, comprehendendo uma extensa quinta que ia desde as portas de Santo Antão pela travessa da Annunciada até á chamada calçada de Damião de Aguiar. Casou duas vezes; procreou-se, e fez-se representar entre nós pelos snrs. condes de Povolide, de Valladares, etc. Rebello da Silva não reza bem d'este Damião na Historia de Portugal. Eu não rezo bem d'elle nem por elle; confesso, todavia, que era homem expedito n'isto de enforcar a gente na janella de qualquer cidadão, mediante seis varas de corda. LISBOA Elucidemos a historia do viajante. O mordomo-mor que fugiu era D. João de Mascarenhas, 4.o marquez de Gouvêa, e 7.o conde de Santa Cruz. Tinha 25 annos, e era casado com uma hespanhola, chamada D. Thereza de Moscoso e Aragão, filha do 7.o conde de Altamira. A senhora que fugiu com elle era D. Maria da Penha de França, tambem casada com seu primo-irmão D. Lourenço de Almada, muito moço. Tinham casado em 1722. Em junho de 1723 D. Maria da Penha de França deu á luz uma menina, que se chamou Violante. E, na noite de 11 de novembro de 1724, a esposa, abandonando marido e filha, fugiu com o marquez. Este desastre não foi precedido de ardentes galanteios e grandes resistencias do pudor vencido pela paixão. D. Maria foi de visita ao paço, onde havia sido dama, como sua mãi D. Violante Henriques o fora da rainha D. Maria Sophia de Saboya. Viu o marquez que era galan, audaz, e sem ser milagre, fulminou-o com o relampago da formosura. Fugiram e pararam em Tuy. Não foi em Vigo como diz o viajante. Julgavam-se salvos em terra estrangeira; mas o bispo, por ordem vinda de Madrid, prendeu D. Maria n'um mosteiro; е о marquez fugiu por Hespanha dentro, e mais tarde para Inglaterra. Tanto que em Lisboa se divulgou a prisão da mulher de D. Lourenço de Almada, certo poeta escreveu um soneto gravido de maus versos e boa moral, que diz isto: D'esse claustro a sagrada penitencia Tolera da prisão toda a violencia, Principia a morrer n'essa clausura Mas ah! se em ti, por ultimo conflicto, ... Hei de escrever um livro que ha de chamarse o DESTERRADO. Estes desastres hão de ser esmiuçados compridamente. O Desterrado do meu romance não é o marquez de Gouvêa: é outra casta de personagem. Bem sei que esfrio o interesse do futuro livro, bosquejando-o aqui em poucas linhas. Não importa. A curiosidade do leitor é mais attendivel que as conveniencias mercantis d'uma novella. Como sabem, D. Maria da Penha deixou nos braços do abandonado marido uma filhinha de onze mezes, que se chamou Violante. Esta menina, ahi pelos dezesete annos, amou seu primo D. Luiz Francisco de Assis Sanches de Baena, alcaidemór de Villa do Conde, capitão de cavallos, e uns gentilissimos vinte e nove annos. Na casa dos Almadas, onde D. Luiz fôra creado - porque sua mãi casára em segundas nupcias com D. Luiz José de Almada - havia um D. Antão, que se apaixonára por Violante, que era sua sobrinha. A menina esquivara-se ás caricias do tio, e deixouse arrebatar nos braços do primo D. Luiz, quando uma ordem regia o desterrou para Moncorvo, a rogos de D. Antão de Almada. Os dous fugitivos (que desterro tão semelhante, o de mâi e filha!) esconderam-se e casaram em Zamora; mas |