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Asseveram-me que o teu Plutarco, annunciado na ACTUALIDADE, é o Joaquim de Vasconcellos, que tem batido á porta dos teus antigos inimigos, pedindo factos e calumnias para urdir a tua biographia. Se isto é tão verdade como é verdadeira a pessoa que m'o afiançou, prepara-te para desprezar a affronta, e veste arnez de aço que rebata o ferro do couce. Alguem the perguntou que motivo teve para te provocar; respondeu que apenas te conhecia de vista; eu, porém, se a memoria me não falha, te ouvi dizer que este Joaquim de Vasconcellos foi teu hospede em S. Miguel de Seide, etc.

RESPOSTA

Tens boa memoria. Joaquim de Vasconcellos foi meu hospede em S. Miguel de Seide; mas procedeu honradamente, e logo te direi a razão que tenho para te affirmar que se houve briosamente na hospedagem que lhe dei.

Foi assim o grão caso. Um dia, no anno de 1870, me escreveu de Guimarães o maestro Francisco de Sá Noronha, prevenindo-me que viria a S. Miguel de Seide apresentar-me um seu amigo de grande talento, notavel theorista musical, edu

cado em Allemanha, e litterato de muitas esperanças. Alvoroçou-me a noticia, tanto pela visita do celebre violinista, como pela apresentação de um moço prendado das bellas cousas do coração e do espirito, que todas brotam de seu onde o amor das amenidades litterarias e das deleitações da harmonia lhes aquece os germens.

Em uma alegre manhã de julho chegaram os snrs. Noronha, e Vasconcellos a esta casinha, á volta da qual os sylphos da poesia borboleteam, desde que o visconde de Castilho e Thomaz Ribeiro por aqui estiveram.

Recebi o snr. Joaquim de Vasconcellos com quanta cordealidade e lhaneza cabia nas minhas posses de aldeão. Dei-lhe o lugar de honra na minha mesa. Ouvi-lhe attenciosamente por espaço de dez horas as suas idéas republicanas, sem lh'as impugnar, e as suas theorias sobre musica sem lh'as perceber, e os seus dislates em litteratura sem lh'os contrariar.

Ao cahir da tarde, o snr. Vasconcellos, que não podia demorar-se, fez-me o obsequio de aceitar o meu cavallo, que teve a honra de o levar á estrada do Porto. Ao despedir-se de mim, o meu affavel hospede abraçou-me com effusão de vehementissimo jubilo por me haver conhecido e devido alegres horas tão rapidamente passadas.

BIBLIOTHECA N.o 6.

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Devolveu-se um anno, sem que eu tornasse a vêr o snr. Vasconcellos; não obstante, a imagem d'este cavalheiro, uma vez por outra, acudia ás minhas reminiscencias d'aquelle dia tão litterario, tão cheio de palavras, de systemas, em fim, de mutuas promessas, que me faziam esperar d'aquelle moço alguma cousa menos cruel que um inimigo.

Eis que o snr. Vasconcellos dá á luz um livro de critica á versão do Fausto, pelo snr. visconde de Castilho; e, ainda antes de o lêr, já eu sabia que o meu hospede tão graciosamente recebido, me insultava como escriptor e como homem, enxovalhando-me com vilipendiosas aleivosias, como se não bastasse ao seu injusto rancor malsinar-me de ignorante.

Aqui tens, meu caro amigo, repetido o assignalado successo do advento do snr. Vasconcellos a esta quinta de Seide.

Como elle está escrevendo os escandalos da minha vida, que naturalmente veio espionar quando cá entrou, bom seria que elle dissesse que eu tenho grandes infamias na minha historia lendaria, e uma das mais graúdas foi recebel-o em minha casa.

Falta-me explicar-te onde está o procedimento honroso do snr. Vasconcellos na hospedagem

que lhe dei. Está no seguinte: quando elle sahiu da minha mesa, contaram-se as colheres de prata, e não faltava nenhuma ! Honra lhe seja !

Teu do coração,

Etc.

P. S. Se o snr. Joaquim de Vasconcellos, depois da publicação d'esta carta, entender que me deve pagar o aluguer da cavalgadura, o almoço e o jantar, authoriso a thesoureira das Velhas do Camarão a receber a importancia, e passar recibo.

ESTUPIDO E INFAME

ACTUALIDADE)

Alguns rapazes sem habilidade, nem estudo que lhes supprisse a incapacidade do engenho, appareceram ahi a pinchar na vaza das letras como sapos de lameiro em tarde trovejada de julho. O mais sapo nas verdes podridões, consoante o phrasear colorido do snr. Guerra Junqueiro, é este marau da Actualidade.

Veio de Lisboa assoldadado para a imprensa do Porto, em serviço de um ignobil aventureiro. Pôz o seu pulso á disposição do estomago, e aviltou a probidade de homem no começo da vida publica, prestando-se a dar vaias, - piadas no calão fadista do birbante que o estipendía - a pessoas que pareciam respeital-o com o seu desprezo silencioso.

Fui eu, desde muito, insultado em livros e

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