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intento rematar estas reflexões: e em particular se refuta 1.o a minha asserção sobre quatro Documentos abonados pelo mesmo Brito: 2.° se defende contra Flores a sua opinião sobre a Epocha da Conquista de Coimbra por D. Fernando de Leão. Antes de sustentar o que escrevi ácerca daquelles Documentos tenho de rogar ao Author queira ler no Tom. IV. P. I. das minhas Dissert. Chronol. pag. 5, e Tom. II. pag. 157 e seg. o mesmo que no espaço de 24 annos inculquei aos meus Discipulos, para se persuadir da madureza, e imparcialidade, com que sempre procurei tratar os assumptos Diplomaticos: e principiando pelo Salvo Conducto, tenho a repôr, que o não acuso por estranho, sim por desnecessario; e cscuso repetir o que já disse: os Sarracenos logo na Conquista, até por hum Tratado solemne, o concedêrão geral, e mais amplo, que o tal Salvo Conducto; e se quer outro argumento mais intrinseco, póde le-lo no Novo Tratado Diplomatico, Tom. IV. pag. 702, aonde se trata do mesmo Salvo Conducto (que era mais opportuno lavrar-se em Arabe, que em Latim) porêm tambem lembro que appareceo outro que tal, no mesmo idioma. E não presuma o Author como inculca, que os nomes Arabicos, que se encontrão no Livro dos Testamentos de Lorvão, são todos de Mahometanos: os convertidos conservavão os seus nomes;

nismo.

os dos Godos erão mais amoldados ao Christia

Segue-se a Inscripção sobre a Fundação de Lorvão. Sabios Hespanhoes, Francezes, e Italianos, tem tratado da origem, e progressos do Monachato na Hespanha, e especialmente da introducção da Regra de S. Bento nos mesmos Mosteiros: sei o que se tem asseverado a este respeito no nosso Reino: no entanto os Cartorios do Minho não offerecem prova decisiva a este respeito, anterior ao Snr. D. Affonso Henriques.

Para se convencer de fabuloso o que Brito nos dei

xou escripto do Abbade João de Montemor não he necessario mais que le-lo sem prevenção.

Se o Antiquario Mattheus Peixoto attestou da tradição, mais perpetuada ficará para o futuro em quanto naquella Villa se representar annualmente a Farça, que dizem ter sido composta pelo celebre Pina do seculo passado, natural da mesma Villa.

Passo já ao Relatorio da Conquista de Coimbra. Se o Author ainda que fosse tambem casualmente, tivesse lido o que ácerca delle escrevi desde pag. 41 do Tom. I. das Dissert. Chronologicas e Criticas, veria alguma cousa mais que o ipse dixit, que me imputa: veria que não deixei de lembrar-me até do que o poderia abonar. Escuso de repetir o que já disse; mas como o Author affirma, que examinou o Original, applicando os meios Diplomaticos, será bom nos diga se achou algumas regras que desmintão as que escrevi no Tom. IV. das Dissert. Chronol. e Criticas pag. 83 e seguintes, juntando-lhe a Tabella pag. 114. O Relatorio de Lorvão está na mesma letra, e na mesma diffusão que a do Mosteiro de Pendorada, e Cedofeita, e não se abona mais que elles. Á vista do que tenho dito póde conhecer o Author, que sem fundamento suppõe no fim do §. II. de pag. 156, que ou ignoro as Regras da Critica Diplounatica, ou ao menos que dellas abuso.

Se o Author nesta parte me póde chamar adversario, injustamente me póde dar este nome, e juntar-me a Flores, sobre a Epocha da Conquista de Coimbra, e existencia do Bispo Paterno. Quando a pag. 154 li no titulo da Dissertação, que este assumpto o trataria sem novidade logo entendi que era parodia das palavras de Flores con novedad. A expressão a pag. 147-eu me encarrego de ponderar, e resolver as objecções do Sabio Castelhano

e as outras a pag. 159e por isso me importa examinar e combater as suas objecções e ainda as outras a

C

a

pag. 165-Pelo decurso de muitas, e cansadas averiguações... achei etc.-me inflammárão no desejo de ver posto em toda a luz hum assumpto, que me não era estranho; porêm correndo toda a Dissertação só pude vacillar, se do Autografo do Author be que tinha copiado, (ainda que por outra ordem e estilo), o que imprimi em 1810 na 1. Dissertação Chronologica e Critica, e seu Appendice. E como me uniformo tanto em ideas com o Author, quero apontar-lhe mais huma prova da existencia do Bispo Paterno (porque só posteriormente a encontrei). He huma Doação áo Mosteiro de Arouca de 13 das Kal. d'Abril Era 1123 por Gonçalo Zacarias, e outros, em que se lê Regnantem Adefonsus Principem in Galicia, in Colimbria Paternus Episcopus etc. Achava-se no Cartorio do mesmo Mosteiro Gav. 3. Maç. 1. n.o 8. As outras que produz do Livro Preto já estavão aproveitadas desde o anno de 1819 no Tom. IV. P. I. das Dissertações Chronologicas pag. 126 e 127.

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Resta-me sómente tratar da fé historica do Chronista Brito. Entrava cu na adolescencia, quando lia com interesse as suas Obras: por esta occasião um grande Litterato, que merecco os elogios de Flores, ancião respeitavel, e que nascêra ainda no mesmo Seculo em que morreo Brito, me recommendava a sua leitura, como tambem a de Vieira, Sousa etc., como Classicos da lingua, mas ao mesmo tempo me prevenia sobre a fé historica de Brito, considerando a sua Historia de Cister, e Monarchia, em tudo o que não colligio de Documentos authenticos, e authoridades classicas, como huma elegante Novella, estofada de episodios, mais ou menos verosimeis: de algum delles me indicou a origem em hum capricho de familia. A minha idade então, e a falta de opportunos conhecimentos não permittião avaliar a exactidão destas reflexões.

Cheguei a tempo, em que até por dever, tinha de opinar a este respeito. Foi o mesmo Brito, e não menos

Higuera, e Louzada, e os Chronistas Regulares D. Nicoláo, e Purificação, quem me obrigou a tecer a Serie Chronologica de Documentos desde D. Fernando de Leão até o Snr. D. Sancho I., que communiquei, Manuscritos ainda, ao Socio Antonio Caetano do Amaral, e de que o mesmo se quiz aproveitar nas suas memorias: até por isso me animei a publica-los no Tom. III. Part. I. das minhas Dissertações Chronologicas. Á face delles, das minhas indagações, e da leitura das obras que podião illustrar-me, e não menos das Conferencias litterarias com Eruditos, que se comprazião destes assumptos, a quem sempre consultei, e o podem testificar os que ainda vivem, colhi sobre este assumpto o seguinte.

1. Sendo para mim indifferente, que Brito inventasse algumas cousas das que refere, ou as copiasse de outrem, não pode desculpar-se de as ter escrito em tempo, em que hum Sabio Portuguez, e dous Hespanhoes lhe podião servir de norte, para saber o que devia acreditar, ou refugar: 2.° que elle não tinha noções exactas da Chronologia dos Reinados dos Soberanos Leonezes, e primeiros de Portugal, dos Bispos da Peninsula, dos Magnatas mesmo Seculares que figurárão nos Documentos que produz, e disto se póde ver de alguns artigos (outros tenho depois colligido) que notei na Serie Chronologica, que acima lembrei, em que se achão indesculpaveis anachronismos: 3. que elle ignorou alguns usos, e costumes, e as suas verdadeiras, e incontestaveis epochas; de que me basta produzir o exemplo na Carta da Snr." D. Theresa a seu filho em Latim, porque se persuadia que não havia Lingua vulgar naquelle tempo, quando só a Latina se usava nos Documentos publicos, e não nos domesticos e familiares: 4. que elle, Portuguez castiço, ainda mesmo debaixo dos ferros do Cativeiro Hespanhol, se deslumbrou do amor da Patria, e ávida e indiscretamente quiz glorificar a sua Nação, que não precisa mendigar lustres, nem

mesmos equivocos. Destas ponderações conclui, dever unir o seu nome ao de outros nossos Escritores suspeitos para a Historia de Portugal, até porque os Documentos, que produzem, hirião transtornar, por incombinaveis, os mais irrefragaveis testemunhos da mesma, e por isso não duvido applicar-lhe o que já disse Christiano Lupo das Decretaes Isidorianas Quisque eorum natales jam credit legitimos nugas vendere atque fabulas censeatur =(Schol. ad Concil. Tom. IV. pag. 363).

Devo pôr termo a estas reflexões, até para que não desmintão o titulo de breves. Depois de me achar unido ao Author além dos laços da Religião, e da Nação, em cujo serviço o vejo esinerado, pelos de Membro da Universidade de Coimbra, e Socio da Academia de Lisboa, não podia ser o meu intuito neste Opusculo desgosta-lo, assim como protesto que do seu me não reputo nem levemente offendido: antes porque vejo o Author mettido em huma tarefa, que segui com gosto, em quanto as forças mo permittírào, e a que vejo tão poucos affeiçoados, quanto ella ainda em embrião precisa ser tratada por mãos habeis; formo os mais sinceros votos de que nella prosiga felizmente, e colha a Nação os mais relevantes fructos que delle auguro.

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