DISSERTAÇÃO XVI. Contendo breves reflexões á Historia Chronologica e Critica da R. Abbadia de Alcobaça pelo Sr. Fr. Fortunato de S. Boaventura Augustinum memineris et Hieronimum, qui tum se se invicem sincerius diligebant, cum videlicet peracrius in Scripturarum campo decertabant. J. S. R. D. PREFAÇÃO Tarde me chegou á mão a Obra, que dá assumpto a este Opusculo, e mais tarde me foi possivel le-la, e medita-la, por mo impedirem os meus habituaes incommodos: O seu exame me fez lembrar as Reflexões, que offereço ao publico, guiado pelo simples amor da verdade, sem que por huma parte me cegasse o respeito e affecto, que tenho, não só ao Author da Obra, mas ao seu Approvador e Panegirista, como aos dous Campiões da boa causa, que até com risco, se oppuzerão á torrente, e illustrárão a Nação sobre os seus interesses: nem tambem pela outra me pezasse vêr elogiadas as Corporações Regulares, defendidos os seus individuos, sustentadas as suas legitimas Regalias, e Patrimonios; pois ninguem me poderá accusar com verdade de ser de diverso sentimento. Tambem me não podia mover o achar impugnada huma minha opinião a pag. 154 da mesma Obra, quando della vejo poupar-me o Author tantas outras proposições, que ha muito correm impressas, de maior vulto, e até interesse, Tom. IV. Part. II. A contrarias diametralmente ao seu sentir. Se o Author se tivesse satisfeito com o modesto e imparcial juizo, que se faz de Fr. Bernardo de Brito na Introducção da Reimpressão da Monarchia Lusitana pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, e se não cegasse pelo seu Confrade, desempenhando antes a maxima, que inculca na Introducção desta Obra pag. XIII. linh. 40, não teria atacado, não digo huma expressão minha, mas o credito literario de Varões tão respeitaveis, como Mabillon, os Maurienses Authores do Novo Tratado Diplomatico, os Hespanhoes Manrique, Berganza, Ferreras, Florez, Peres Bayer, os seus Cistercienses Fr. Antonio Brandão, Fr. Diogo de Castello Branco, Fr. Manuel de Figueiredo, além de Gaspar Estaço, Diogo de Payva, Manoel Pereira da Silva Leal, Antonio Pereira de Figueiredo, Fr. Joaquim de Santo Agostinho, Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1). Todos estes negárão mais ou menos o credito a Brito, e não merecem a qualificação, que mais que implicitamente lhe faz, e que vejo resumida na Carta Panegyrica do principio da Obra pag. X. nas expressões A memoria de Fr. Bernardo de Brito he victoriosamente vingada dos ultrajes com que, ou a inveja, ou a insipiencia de alguns ignorantes destes ultimos tempos a tem of fendido... he a malevolencia, e soberba quem se atreve a taxar de pouco veridico o mais veridico, e sisudo, dos nossos Historiadores. (1) A estes posso acrescentar o insigne Antonio Caetano do Amaral nas suas Memorias sobre a Historia de Portugal, que desprezando quanto Brito tinha escrito, deu por obscuros os primeiros 36 Seculos do Mundo, por onde elle passcára afouto. Ainda sobre Epocha mais proxima o seu mesmo Confrade Fr. Manoel da Rocha no seu Portugal Renascido, depois de sustentar mais de huma vez a veracidade de Brito, não duvidou a pag. 397 e 398 §. 370 explicar-se deste modo = Brito como se o estivesse vendo, e observando-lhe os passos diz:.... mas como Brito ponha esta invasão logo depois do anno 982, não me admiro de que visse a entrada de Almançor, e os seus progressos com os mesmos olhos. Para defender victoriosamente Brito, que tem sido atacado com razões positivas, o deve ser, destruindo huma por huma essas razões, e he o que ainda não tenho lido: talvez que as minhas reflexões, resumindo as idéas, que sobre este assumpto, e outros correlativos, tenho ha muito publicado, possão mostrar que não basta escrever a Historia em boa frase, mas, que he necessario que o fundo della seja exacto. A pag. XVI, e seguintes. Fazendo o Author o Elogio de Fr. Manoel dos Santos, declara a pag. XVIII. não deixa de reconhecer os seus defeitos; por isso lhe nota um caracter inquieto, e insofrido, causa principal dos seus desgostos: lembra-se do obstaculo que achou na Abbadeça de Lorvão para examinar o seu Cartorio: teria elle desculpa de formar disto queixa; mas nenhum da indecencia com que a pag. 403 linha 2." do Tomo VIII. da Monarch. Lus. Liv. 22. Cap. 11 se exprime ácerca do Cartorio do Mosteiro d'Evora == Eu ainda não vi o Archivo do seu Mosteiro, nem os Padres do nosso Governo, por seus caprichos notoriamente sinistros me derão a commodidade necessaria de o poder ver. He ainda mais digno de nota quanto se acha por elle escrito no Tit, VIII pag. 167 e seguintes da Alcob. Illustr., sobre a Sentença proferida no Reinado do Snr. D. Affonso IV. em virtude do Edicto Geral contra as Regalias de Alcobaça, sendo as suas expressões principalmente a pag. 168 Col. 1. e 174 Col. 1., indignas de hum Vassallo, de hum Christão, e de hum Religioso, e de que as approvasse qualquer Censor, para se imprimir. Pede a razão que eu mostre o pouco fundamento do arrazoado de Fr. Manoel dos Santos sobre este assumpto, resumindo o que sobre o Edicto Geral se acha impresso A. contrarias diametralmente ao seu sentir. Se o Author se tivesse satisfeito com o modesto e imparcial juizo, que se faz de Fr. Bernardo de Brito na Introducção da Reimpressão da Monarchia Lusitana pela Academia Real das Sciencias de Lisboa, e se não cegasse pelo seu Confrade, desempenhando antes a maxima, que inculca na Introducção desta Obra pag. XIII. linh. 40, não teria atacado, não digo huma expressão minha, mas o credito literario de Varões tão respeitaveis, como Mabillon, os Maurienses Authores do Novo Tratado Diplomatico, os Hespanhoes Manrique, Berganza, Ferreras, Florez, Peres Bayer, os seus Cistercienses Fr. Antonio Brandão, Fr. Diogo de Castello Branco, Fr. Manuel de Figueiredo, além de Gaspar Estaço, Diogo de Payva, Manoel Pereira da Silva Leal, Antonio Pereira de Figueiredo, Fr. Joaquim de Santo Agostinho, Fr. Joaquim de Santa Rosa de Viterbo (1). Todos estes negárão mais ou menos o credito a Brito, e não merecem a qualificação, que mais que implicitamente lhe faz, e que vejo resumida na Carta Panegyrica do principio da Obra pag. X. nas expressões-A memoria de Fr. Bernardo de Brito he victoriosamente vingada dos ultrajes com que, ou a inveja, ou a insipiencia de alguns ignorantes destes ultimos tempos a tem of fendido... he a malevolencia, e soberba quem se atreve a taxar de pouco veridico o mais veridico, e sisudo, dos nossos Historiadores. (1) A estes posso acrescentar o insigne Antonio Caetano do Amaral nas suas Memorias sobre a Historia de Portugal, que desprezando quanto Brito tinha escrito, deu por obscuros os primeiros 36 Seculos do Mundo, por onde elle passeára afouto. Ainda sobre Epocha mais proxima o seu mesmo Confrade Fr. Manoel da Rocha no seu Portugal Renascido, depois de sustentar mais de huma vez a veracidade de Brito, não duvidou a pag. 397 e 398 §. 370 explicar-se deste modo Brito_como se o estivesse vendo, e observando-lhe os passos diz:.... mas como Brito ponha esta invasão logo depois do anno 982, não me admiro de que visse a entrada de Almançor, e os seus progressos com os mesmos olhos. |