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junctura,fugir-se do ajuntamento de muitas vogaes, mormente das que se não pronunciam sem abrir-se muito a bocca. É defeito gravissimo,a continuação de muitas letras breves, ou muitas longas, e a de muitas lettras e syllabas do mesmo genero, daquellas, que fazem a pronunciação aspera com o s final, de de uma dicção, com o x; bem como se deve evitar a cacophonia, ou disonancia das vozes.

Bem que o estylo periodico e o estylo cortado, sejam ambos empregados habitualmente por escriptores recommendaveis em generos pouco mais ou menos similhantes, deve-se em verdade dizer, que em geral, a natureza do assumpto e das idéas parciaes indicam qual destes dous estylos é melhor empregar particularmente. O pensamento traz d'algum modo comsigo suas partes, seus intervallos, e seus repousos, e como nasce no espirito pouco mais ou menos, com as palavras que o devem enunciar, indica ao menos vagamente a fórma que lhe é analoga. Si o pensamento não é mais que uma precepção simples e isolada, a phrase será simples e isolada; mas se o pensamento é um composto de precepções correspondentes, ligadas por relações reciprocas, é preciso que as expressões, reproduzam as mesmas relações e as mesmas ligações; é isso que fórma o periodo. Nos assumptos de genero moderado, tranquillo e sem paixão, n'aquelles, que pedem mais dignidade e gravidade do que calor e pathetico,se deve usar do estylo periodico naturalmente. O estylo cortado convém mais particularmente á enumeração, á gradação, ás descripções animadas, á accumulação, á argumentação instantanea, e aos movimentos apaixonados. Com tudo, é raro que em uma obra de ceria extensão, uma ou outra destas duas especies de estylo domine exclusivamente. Esta uniformidade tornaria a dicção monotona. É bom fazer uma mistura feliz, que diversifique a marcha, e o movimento do estylo.

As qualidades essenciaes á perfeição d'uma phrase ou d'um periodo, são : clareza, unidadc, força e harmonia.

É impossivel indicar por quantas maneiras uma phrase, póde não ser clara; o modo porque se collocam os adverbios, póde dar lugar a isso.

É preciso ter muito cuidado no modo porque se collocam: 1.° os adjectivos conjunctivos quem, que, qual; 2.° os possessivos, seu, sua, seus, suas ; 3.o os pronomes elle, ella, o, a, os, as, o mais ligeiro erro sobre este ponto, póde obscurecer ou embaraçar o sentido de toda uma phrase.

Os adjectivos conjunctivos, devem-se approximar o mais possivel dos nomes a que se referem. Mas nem sempre se referem ao substantivo, que os prende immediatamente; neste caso não é preciso referir a conjuncção á um substantivo affastado, senão quando as ultimas palavras servem para determinar as precedentes, e não exigem modificação alguma.

Em geral, todas as vezes que n'um primeiro membro d'um periodo, não ba nomes subordinados, os pronomes devem seguir a mesma ordem da subordinação.

2. Si em qualquer especie de composição é precisa a unidade, com mais ponderosa razão é ella necessaria na construcção d'uma phrase, ou d'um periodo; porque uma phrase, é a expressão d'uma proposição; e quando composta de muitos membros, esses membros devem estar tão bem ligados entre si, que o espirito só seja ferido, como d'um unico objecto.

Basta as circumstancias accessorias serem estranhas ao pensamento principal, para que rompam a unidade da phrase, e prejudique a clareza do sen

A synalepha ou symphonis (união de duas vogaes), é um meio de tornar a oração harmoniosa, ajuntando ou confundindo duas vogaes em uma só, por meio de um signal, que supprime a vogal.

Da ordem ou methodo que devem ter as palavras á significarem os pensamentos.

É o methodo ou ordem.que devem ter as palavras no dircurso, uma das condições indispensaveis não só para a harmonia das orações, como para a elegancia e nobreza dos pensamentos. Para isto, não é mister outra cousa, que o gosto no orador ou escriptor,e instrucção variada,e amplo conhecimento do objecto que trata.

tido. O desejo de arredondar um periodo, e de dar-lhe uma especie de brilho, não justifica o emprego de accessorios inuteis.

3.o O que dá força ás phrases e aos periodos, é uma construcção propria a apresentar o sentido da maneira a mais vantajosa, a reproduzir cheia e completamente a impressão que se quer produzir, em dar finalmente a cada palavra, e a cada membro, toda a energia e todo o espirito, de que são susceptiveis.

O primeiro ponto a attingir a esse fim, é cortar todas as palavras, e todos os membros inuteis.

Depois,é necessario cvitar o emprego de mui frequentes palavras, que servem para ligar as phrases, ou os membros das phrases, como mas, si, logo, porque, etc. Estas palavras e outras analogas, repetem-se muitas vezes; servem para juntar os membros d'um periodo, e encadear o raciocinio; mas multiplical-as, é enlanguecer o discurso.

Póde-se fazer de passagem uma nota particular, sobre a conjuncção e; ainda que seu emprego ordinario seja ligar as palavras ou os membros da phrase, ha occasiões em que cortando-se a phrase, torna-se mais rapida. Algumas vezes tambem a repetição della, tem particularmente o effeito de separar de algum modo as palavras, e tornal-as mais distinctas.

Uma regra importante que se deve observar ainda, é a de collocar as palavras essenciaes no lugar em que ellas podem produzir mais effeito. A expressão posto em seu lugar, é uma das primeiras regras, e uma das mais difficeis da arte de escrever. Entretanto, nada se póde prescrever a esse respeito. Em geral, é no principio ou no fim dos periodos, nos repousos indicados pelos differentes golpes das phrases, que se devem collocar as palavras que se quer fazer sobresahir e que exprimem idéas, em que se quer fixar a attenção do leitor. Isto muitas vezes conduz á inversões; é preciso evitar todas as palavras que são forçadas, e que o uso reprova.

| Dos numeros, periodos, membros é incizos.

O numero ou é poetico,conforme diz Soto Maior,a que os Gregos chamavam rhythimo (numero,solfa, harmonia) e os Latinos metro,ou oratorio, a que os Gregos chamavam puthmos, (solfa) e os Latinos prosa (oração directa, solta).

O numero, tanto é usado na prosa, como no verso, sómente com a differença, que o verso, tem um certo numero e medida de syllabas, e a mesma cadencia; em quanto que na oratoria, deve ser variado com periodos, membros e inciss.

O Periodo (clausula, rodeio comprehensão) é uma oração composta de partes tão ligadas, que estando o sentido suspenso na primeira, fica completo na segunda. Para que o periodo, seja perfeito, deve conter duas partes: a 1. é o que chamavam os Gregos Protaze (proposição, principio) ou antecedente, que é a parte que contêm o sentido principal, porêm suspenso e imperfeito 2. é a que chamavam os Gregos Apodoze (consequente) ou conclusão, que é a que contêm o sentido perfeito ou conclusão do sentido como que se verá neste exemplo-se fechar os olhos as luzes do Evangelho é uma conhecida e manifesta desordem (antecedente); maior é ser persuadido desta doutrina, e viver como quem não duvida della ser falsa (consequente).

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O periodo, póde ser regular e irregular: o regular, é o que não excede de quatro membros ; e o irregular, é o que consta de mais de quatro membros. O periodo ou é simples, ou composto: o periodo simples é aquelle, que tem uma circunducção menor, e o pensamento como encadeado, fazendo um só sentido exemplo-Quando os doutos e sabios erram, que devemos nós esperar do vulgo?

O periodo composto, é o que tem maior circunducção, e se compõe de membros e incisos, e contêm mais de um pensa→ mento,como nesta passagem de Cicero fallando dos parrecidasAssim vivem de sorte, que não respiram; assim morrem de tal modo, que ficam sem sepultura: são lançados nas ondas, sem que nunca se lavem; são tão precipitados, que nem depois de mortos descançam nos penhascos.

O periodo compõe-se de membros e incizos, articulo ou secção, ou circundução; membro do periodo, é uma proposição, que faz uma oração perfeita; mas o sentido imperfeito, suspenso e dependente de outras partes, que completam o periodo, como no primeiro exemplo acima. Incizo, secção ou articulo, é um pensamento em poucas palavras, divididas por virgulas, ou a parte de um membro,que tambem inclui um certo sentido, como veremos nos exemplos da dedução dos incisos.

O membro póde ser simples,e composio; o simples, é o mesmo que uma proposição logica, sem ter incisos, nem circundução;

ou é uma oração, que exprime um sentido perfeito,e indepen dente, como todo o homem por natureza deseja e apetece o bem. O membro composto, é o que exprime mais de um sentido ; e consta de incisos, ou de circundução; como por exemplo; todo o homem deseja o bem; mas nem todos o querem obrar: circundução é a justa grandeza, que liga os extremos do periodo entre si; o que se faz com certas particulas, que prendem os membros e lhe suspendem o sentido, até se completar no fim do periodo. As particulas, pela maior parte são—não sómente; ainda que, posto que, assim como; mas tambem,não menos; se,ou, quando, mais, menos, tanto, quanto, porque etc. O periodo de dous membros é assim :-ainda que todo o homem deseja e apetece o bem, nem todos mostram nas obras o illustre da sua natureza. O periodo de tres membros é o seguinte-ainda que todo o homem deseja, e apetece o bem, por ser impresso na alma o clarissimo dote da razão, nem todos mostram nas obras o illustre de sua natureza. O periodo de quatro membros é assim:-ainda que todo o homem deseja e apetece o bem, por ter impresso na alma o clarissimo dote de razão, nem todos mostram nas obras o illustre da sua nobreza, quando a desordenada paixão desta escurece a luz daquella.

Os periodos tambem pódem ser ligados sem ser com particulas, como por exemplo com paz, e quietação o mesmo pouco sobeja; e com guerra, e discordia ainda o muito falta.

Póde ser ligado o periodo com particula, como neste exemplo-assim como o pouco sobeja, com paz e quitação; da mesma sorte, o muito falta com guerra, e discordia.

Todo o periodo, consta de membros e incisos; mas nem toda a oração, que consta de membros e incisos é periodo. Quando exprimimos uma sentença, por membros enlaçados entre si, e que conspiram para o mesmo sentido, chama-se um periodo ou oração ligada. Quando pronunciamos um pensamento por membros soltos e independentes, de modo que cada um delles se possa entender separado da idéa principal, chama-se oração solta. Souto Maior, a quem seguimos, que mui bem tratou desta parte da elocução,exemplifica a dedução dos membros do modo -seguinte:

«Vio-se o homem senhor absoluto: a terra, o mar, os ven«tos, as aves tudo governa : com um simples aceno tudo vem «a seus pés estende simplesmente o septro, tudo dobra o << joelho as suas mesmas paixões não ousam resistir-lhe e << sómente deseja, o que muito quer desejar. »

DEDUÇÃO DE MEMBROS, E INCIZOS.

«Que maior inimigo pode ter a alma, do que o peccado, em <«< que está submergida? Ella grita para se ver livre; mas o ty<<< ranno cada vez mais a liga: quer dar vozes, para que lhe acu

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«dam; porém elle se esforça em tapar-lhe a bocca: ella se affli<< ge; o alento lhe falta, já quer deixal-o; mas nada póde sem Divina Graça. »

DEDUÇÃO DE INCISOS.

<<< O navio salta; uns mastros vergam; outros estalam, <<leme se arranca, as vellas se rompem, os relampagos cegam, <<< os trovões atemorisam; e a mesma agulha perde o go

«verno. >>

A dedução, ou circundução periodica faz-se de tantos modos, quantos são as particulas, com que se podem variar os membros. Exemplo de um modo, com que o padre Vieira, para dizer, que Portugal devia chorar os seus peccados, vendo que DEOS irado castigava os da Hespanha; dilata este pensamento com muitos, na fórma seguinte.

<< Se a monarchia famosa das Hespanhas; se aquella, que << ha pouco dominava o mundo, assim a castiga DEOS por seus « peccados; se lhe não vale á Hespanha seu dilatado imperio; << se senão sustenta nos estribos da sua grandeza; se tantos es<<< critos espalhados pelo mundo a não defendem, se tantas fro«tas, e tantos milhões a não socorrem; se tantas orações (que << é mais) se tanto Culto Divino, se tantas penitencias, e sacri<<ficios não bastam a ter mão no braço irado da Divina justiça, << se tanto provocam a DEOS os peccados de Hespanha; porque << não teme Portugal os seus ? porque os não chora, porque os << não geme? »

Exemplo de outro modo de dilatar o pensamento, de uma alma ser feliz, tanto que serve a DEOS deveras; por uma circundação periodica, na seguinte fórma.

« Quando a alma, nutrida pelo racional leite da Divina <<< graça, começa a sahir da infancia da natureza; quando a luz « da razão, illustrada com outra superior luz do Espirito Santo <<< lhe abre os olhos, quando o sangue Divino corrobora o co« ração, e lhe dá força natural, para se vencer a si mesmo. « Então é que muda de linguagem, de pensamentos, e de affe« ctos, então é que a tristeza se converte em alegria, e os ge<<< midos em canções; então os males já são bens, as persegui<<ções, delicias, as honras, pezo, as riquezas, espinhos, e os « deleites tormentos. >>

REGRAS PARA FORMAR OS PERIODOS.

Devem os membros do periodo ser iguaes: porque os muitos desiguaes fazem o periodo disforme, improprio, e desengraçado; e fica sendo uma cacalogia (ou pratica ruim.)

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