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falsa, porque nada é tão natural, tão ordinario, tão commum, como as figuras na linguagem dos homens. Dumarsais observa com razão, que faz-se mais figuras á penna, durante o dia, do que em muitos, todas as academias juntas. Não é preciso arte, para fazer figuras de rhetorica; os discursos mais ordinarios, estão cheios dellas, e sobretudo,os das pessoas que fallam,com menos preparos, e que seguem mais simplesmente as impressões da natureza.

A expressão simples, limita-se á apresentar o pensamento totalmente nú as figuras dão-lhe uma espscie de vestimenta, que o enfeita, e o torna mais sensivel e mais frisante.

Do uso das palavras nasceo, o que se chama estylo figurado. Os rethoricos distinguem figurus de palavras,e figuras de pinsa

mentos.

As figuras de palavras,são as que unicamente tendem as palavras, que se empregam, de tal modo, que se mudar a palavra, a figura desapparece.

As figuras de pensamentos ao contrario, subsistem independentes das palavras, e consistem nó meneio dado ao pensamento. Ha muitas especies de figuras de palavras só fallaremos das mais importantes, e começaremos por aquellas, á que se tem dado o nome de tropos.

Dos tropos.

A palavra tropo é grega, e significa mudança; os tropos são, em verdade, figuras pelas quaes se transportam as palavras, de sua significação propria, para uma significação estranha.

Todas as palavras tem um sentido proprio, e um figurado. O primeiro é aquelle, porque foi a palavra primeiramente empregada; o segundo aquelle, para que se transforma a palavra, por uma especie de comparação. E isso o que se chama tropo.

As expressões figuradas, nasceram em parte da necessidade. Imaginou-se empregal-as, por falta de palavras tomadas em sentido proprio; porém muitas vezes, tambem são fructo da imaginação; gostamos naturalmente de revestir nosso pensamento de imagens sensiveis, e transportamos para objectos methaphisicos e abstractos, o que a principio era real e physico. Mas essas mudanças, que succedem na significação das palavras, não devem ser operadas ao acaso; devem-se fundar sempre em alguma relação de dependencia, de similhança ou de opposição, entre as duas idéas, das quaes uma toma o nome á

outra.

Os principaes tropos, são: a metonymia, synecdoque, antonomasia,methaphora, catachrese, alegoria.

A metonymia (ou mudança de nome) emprega: 1.o a causa pelo effeito; 2.° o effeito pela causa; 3.o o continente pelo conteudo; 4.° o nome do lugar em que uma causa nasce ou se faz, pela causa mesia; 5.° o nome do signal, pela cousa significada; 6.o o nome abstracto, pelo nome concreto.

A synecdoque ou synecdoche, é a que emprega: 1.° o genero pela especie ou a especie pelo genero; 2. um plural por um singular e reciprocamente; 3. um numero certo por um incerto; 4. a parte pelo todo, e o todo pela parte; 5.o o nome da materia, pela cousa que della se fez.

As duas figuras de que acabamos de fallar, são de uso tão fa-miliar, que não ha ninguem que dellas se não sirva a todo o momento, e sem pensar. Em geral, é preciso que seja o uso,que as dicte; devem naturalmente apresentar-se ao espirito, e não chocar-nos pela estranhesa da expressão.

As mudanças de tempo e de pessoas, são tambem synecdoques. Assim o presente, é muitas vezes empregado pelo passado.

A antonomasia, é uma variedade da synecdoque, que consiste em mudar o nome proprio, pelo nome commum e vice-versa.

A metaphora tem lugar, quando se transporta a significação propria d'uma palavra, para uma outra, que só lhe convêm em virtude da comparação, que está no espirito, e que se supprime na expressão. É uma comparação dissimulada.

Além de ser esta figura, uma das mais graciosas, mais brilhantes e mais frequentemente empregadas em todos os generos de composição, quasi que é sobre ella, que se basea nossa linguagem methaphysica. Tudo que se refere ás faculdades d'alma, exprime-se por imagens sensiveis, que não são mais que methaphoras.

A methaphora é muito mais viva, e mais atrevida,que a comparação; e geralmente esta é preparada, e annuncia-se antecipadamente por estas palavras: assim, do mesmo modo, que, como, tal qual,etc. A methaphora, brota de um só traço; está da parte do leitor, perceber a relação por ella creada.

As methaphoras,são defeituosas: 1.° quando ellas são tiradas de objectos baixos, fastidiosos e de cousas triviaes. Seu fim é embellezar,e colorir o estylo.

Ha comtudo certas methaphoras, que se empregam para caracterisar um objecto de odio, de indignação e de desprezo, e cuja energia e verdade, fazem relevar a trivialidade apparente; 2.* quando são forçadas, procuradas, affectadas, apanhadas de longe, e que a relação não é bem natural, nem a comparação assaz sensivel; quando os termos methaphoricos excitam idéas impossiveis de lêr. Para evitar isto,deve-se ter cuidado em não reunir, em um mesmo objecto, muitas methaphoras, que se excluam mutuamente,ou que não tenham relação alguma. E preciso tambem não amontoal-as, ainda mesmo que cada uma seja

clara e exacta, nem dobrar e triplicar a mesma figura, á ponto de acabar por ficar totalmente artificial.

É necessario ainda evitar, que uma phrase seja tomada em sentido litteral, e a outra em um methaphorico; resultaria disto uma desagradavel confusão.

O emprego das methaphoras, é muito frequente nos discursos sustentados, na conversação simples, na prosa,como no verso. Comtudo um estylo, em que esta figura fosse muito repetida, pareceria affectado. Convem saber servir-se a proposito da expressão simples,e núa. Muitas vezes estragam-se os assumptos simples, com um luxo excessivo de figuras poeticas.

Dissemos, que a metonymia e a synedoque, dependem muito do uso; não succede o mesmo com a metaphora. Quanto mais vivo fôr esse tropo,mais agrada e mais sorprehende; differe dos outros tropos sobretudo,em ter por base a comparação, e póde ser multiplicada ate ao infinito, como as relações que a imaginação penetrar e crear. Todavia, ha metaphoras, de tal modo consagradas pelo uso,que se tornariam falsas e ridiculas, querendo substituil-as por termos equivalentes. Quando uma metaphora sem ser dura e nem forçada, tem algum atrevimento ajunta-se-lhe para modifical-a um correctivo.

A allegoria, é uma metaphora continuada.-A metaphora, habitualmente limitta-se a expressão viva,e breve de uma idéa, a alegoria, prolonga-lhe o desenvolvimento completo, ou mesmo apresenta uma serie de idéas, offerecendo sempre o sentido figurado, em vez do sentido proprio. A melhor é aquella, cujo sentido perfeitamente claro, permitte, que com um lance de olhos,se perceba a justeza das relações, que ella estabelece.

Ha alleg rias muito longas: ha mesmo algumas, que formam composições inteiras; os proverbios, as parabolas, as fabulas são verdadeiras allegorias, ou em outros termos,são differentes maneiras de disfarçar e embellezar a verdade.

A catachrese (extensão,imitação) é uma especie de metaphora, a que se recorre pela necessidade, quando não se acha palavra propria na linguagem usual. Outras vezes tambem, é expressão de exigencias de outra natureza.

A periphrase, é um rodeio de palavras para se explicar aquillo,que se podia dizer em poucas. Serve muitas vezes para disfarçar uma idéa penivel, e desagradavel; muitas vezes é empregada como ornamento, para elevar uma idéa simples e com

mum.

Esta figura convêm principalmente á poesia, mas em poesia como em prosa, quando só serve para deliniar uma idéa, é viciosa; é talvez de todas as figuras,a que deve ser menos prodigalisada. A palavra propria, quasi sempre tem a melhor vantagem.

Chama se epitheto,um adjectivo, sem o qual a idéa principal seria sufficientemente expressa, mas que lhe dá mais graça, ou

mais dignidade, ou mais força, ou alguma cousa de mais fino e de mais delicado, ou uma còr mais risonha e mais viva.

O adjectivo, sem o qual a idéa é imcompleta ou vaga, não é um epitheco.

Convêm não accumular os epithetos sem medida, é isso em geral deffeito das imaginações esteris, que preenchem por palavras e accessorios inuteis, a falta de idéas. Os epithetos devem ser justos, necessarios e collocados a proposito. Aquelles que não dão nem vigor, e nem brilho a expressão do pensamento, devem ser proscritos.

As allianças de palavras, tendem muito de perto aos epithetos,e aos tropos, com os quaes se confundem à maior parte das vezes. As combinações felizes remoçam, por assim dizer,as palavras empregando-as ; ajuntam algumas vezes a expressão, um pensamento de muita agudez, brilho e energia.

O brilho e a novidade que dão a expressão as combinações de palavras, podem seduzir a irreflexão; é preciso ter cuidado em não fazer dessa reunião, uma farfalhada extravagante; a novidade da expressão deve sempre conciliar-se com a cla-reza, e a justeza do assumpto.

Das figuras de pensamentos.

As figuras de pensamentos,são as que como os tropos, tendem a mudança ou ao emprego das palavras; mas que consistem na peripecia dada a phrase e ao pensamento, e no movimento suggerido pela imaginação ou pela paixão, de sorte que sejam quaes forem as palavras que se empregam, a figura subsiste sempre. Como estas figuras consistem unicamente na maneira de conceber um pensamento, e as de palavras, na maneira de exprimir, segue-se que essas duas especies de palavras,achamse muitas vezes juntas.

As figuras de pensamentos variam até ao infinito, conforme o interesse do momento, conforme uma infinidade de circumstancias,que iufluem mais ou menos, no modo porque somos affectados.

Não exporemos a enfadonha lista, que os rhetoricos fizeram ; contentarnos-hemos em mostrar as mais usadas.

A amplificação é uma maneira de exprimir,que engrandece os objectos, e os diminue.

Engrandecer não é synonimo de exagerar. Amplifica-se

para dar as cousas não uma grandeza ficticia, mas toda sua grandeza real.

Póde-se amplificar de muitos modos.

1. Para a explicação dos detalhes. A simples denominação e á simples exposição dos objectos, substitue-se uma descrição, ou decompõe-se uma idéa, um objecto para apresentar todas as faces, todos os detalhes de que se compõe. O desenvolvimento parece engrandecer o objecto, e torna, mais penetrante o que só faria impressão rapida e ligeira.-2.° para as comparações e para os contrastes, 3.° para um concurso de pensamentos,e de expressões que tendem ao mesmo fim.

Quando se trata de diminuir as cousas,a maneira é a mesma sómente a gradação é que é inversa. Tornamos á repetir aqui; desenvolver e amplificar não é afogar o pensamento em um diluvio de palavras inuteis. Talvez que esta figura exponha mais particularmente aquelles, que a empregam por faltas desta natureza. Se é demasiada enerva o estylo; se é frouxa, torna-se fria e degenera em exclamação vã.

A enumeração, é uma especie de amplificação: tem lugar quando para estabelecer um facto ou uma verdade, se entra em todos os detalhes que se lhe referem; e quando se reune uma multidão de circumstancias que concorrem para o mesmo fim.

A comparação põe á vista as idéas analogas e exprime as relações sensiveis. Esta figura, é um dos mais riços ornamentos do estylo. Ha palavras consagradas ao meneio da comparação como, assim, do mesmo modo que, tal qual,etc.

Ordinariamente tomam-se as comparações de objectos physicos, porque são mais sensiveis, e mais proprios a formar ima

gens.

Em geral esta figura entra na linguagem da imaginação, antes,que na expressão das paixões energicas, que empregam de preferencia a metaphora, comparação resumida, mais viva e mais atrevida.

É inutil ajuntar, que as comparações devem ser justas,claras, sensiveis á tornar mais distincta, e mais frisante a imagem do objecto principal, á não serem prodigalisadas, nem empregada fóra de proposito.

A repetição é uma figura tão natural, que entra a cada instante na linguagem familiar; serve para insistir em uma idéa, ou para dar-lhe graça e força; é muito propria á pintar paixões, cujo effeito é concentrar todas as nossas faculdades em um só objecto. No primeiro caso, confunde-se muitas vezes, com o pleonasmo.

A antithese é um meneio de phrase, que importa ao mesmo tempo a dupla apparição das expressões, e dos pensamentos. Quando a antithese está antes no pensamento,do que na expressão, chama-se opposição.

Esta figura agrada a imaginação, pela precisão e vivacidade

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