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respiração mostra não poder com a carga: o que é um defeito intoleravel; porque o proferir a voz, a que os Gregos chamam phonosis (o proferir, e lançar da voz) deve ser com clareza, e liberdade de espirito.

A pronunciação tem as mesmas qualidades da oração : pois tambem deve ser emendada,clara e ornada.

Emendada, é a que não contêm vicio, nem rusticidade, ou palavra estranha mas sim urbanidade, suavidade na expressão, e naturalidade no som da voz; a que os Gregos chamam orthologia (a recta, e boa pronuncia.)

Clara, é uma expressão de palavras puras, e usadas, e tão manifesta, que todos entendam evitando o vicio de as não proferir inteiras, a que os Latinos chamam Mutitio, ou Mussitutio; (o resmonear, fallar por entre dentes) e o chamado Colostomia; (o vicio da voz, que parece sôa uma concavidade) e junctura.

Ornada, é aquella pronunciação, que se oppõe algum tanto á clareza, e consta de igualdade nos espaços, e som: e de variedade nos transportes da voz, dando aquelles, que pertencem a cada parte da oração; e com os gestos, ou acções convenientes a cada uma: fugindo ao mesmo tempo daquella affectação de voz, que só pertence aos musicus: pois não ha maior deffeito, do que o orador parecer que canta.

DA ACÇÃO.

Acção diz Souto Maior, « é aquelle gesto, que acompanha a voz com tal propriedade, que não só faz completa a pronunciação, mas dá força as razões, orna a oração, move os affectos, e toca o coração dos ouvintes.

Não ha paixão, figura, ou movimento, que não tenha na declamação oratoria seu gesto, e acção correspondente. Muitas vezes um só lance de vista, e um semblante triste, a que os Gregos chamam Hypodra; (o olhar esguelhado, carrancudo, de homem agastado) e uma acção de mãos, e postura do corpo nos penetra, convence, e explica mais, do que o mesmo discurso inteiro: sendo tudo executado com natural prothimia (promptidão, presteza de animo.)

Com um aceno de mãos, e acções do corpo declaramos nós, ainda sem vozes, a nossa vontade dizemos que sim, regeitamos, pedimos, rogamos, chamamos, damos, negamos, copfessamos, reprehendemos, ameaçamos, lastimamos, acudimos, mandamos, duvidamos, amamos,e aborrecemos; e até os mesmos irracionaes com os seus gestos lisongeam, pedem, movem, ameaçam; e mostram a sua alegria, tristeza, ira, e vontade. Muita parte do decoro da oração está na propriedade do gesto

e acção. Por isso Demosthenes costumava compôr as do seu corpo, vendo-se a um espelho: porêm o melhor é o dos bons modellos, e melhores oradores, com quem a mocidade se deve instruir, para seguir o decoroso,e fugir ao viciosɔ.

DO DECOROSO NA ORAÇÃO.

É decoroso o gesto, e acção, diz Souto Maior, que acompanha a voz com aquella naturalidade, que pede o discurso, e seus transportes: v.g. dizendo as cousas alegres, com o rosto alegre, as tristes com face triste: as cousas altas com agelsatia (a severidade do rosto) e acções sublimes: as baixas acções, com humildes.

Devemos primeiro que tudo attender a materia, e genero do discurso, o lugar em que se declama, e diante de quem declamamos. Porque assim como as palavras se devem purificar mais diante do principe,do senado, e magistrado,do que diante do povo da mesma sorte devem ser as acções, e gestos de qualquer parte do corpo.

e

O rosto é das que mais dominam as nossas acções, e explicam os nossos sentimentos: porque com elle mostramos a nossa alegria, tristeza, ira, suavidade, amor, odio, lealdade, facilidade. Pois muitas vezes chega o rosto a negar, o que falsamente se afirma com as palavras e na face conhecemos a falsidade do que ouvimos.

A testa com as suas rugas; as sobrancelhas, com o seu movimento; as faces com a modificação da côr; e os olhos com as suas lagrimas nos manifestam os affectos mais ocultos do nosso coração, e nos fazem certa Metoposcópia (a advinhação pela testa, e cara.)

As mãos são tão necessarias para a perfeita pronunciação, que diz Quintiliano, que as mais partes ajudam; porêm as mãos parece que fallam; porque com ellas explicamos quasi tudo, que podemos dizer: e algumas vezes excedem a voz,como quando o medico com a mão no pulso conhece mais, do que o enfermo póde explicar.

O ponto está em que o gesto e acção acompanhe o verdadeiro sentido da voz, com tal propriedade, que faça a pronunciação completa com um perfeito Schematismo; (figuração, e gesto do corpo, e voz) e não digam as palavras uma cousa, e os gestos, e acções digam outra.

Este dom de engraçados movimentos, em uns é natural,em outros artificial. E como a arte não os póde explicar completa e perfeitamente; o melhor mestre para os ensinar é ver, e ouvir muitas vezes famosos oradores, donde os gestos e acção se aprendam pois é esta uma materia, que tem sempre pas

sado de uns tempos para outros, mais por tradição, do que por escrita.

O corpo deve estar direito com aquella naturalidade, que pede a materia do discurso; de sorte que a Eumorphia (a gentileza, e bom ar do corpo.) corresponda bem á Euglottia: (a eloquencia natural, e facilidade de bem fallar), fazendo os gestos graves, que são devidos ao orador: e evitando aquelles vicios, que só pertencem aos Comedopæos, (o representante de comedias) que exercitam a Schematopeias, (arte de meneios, e figuras), ou Histrionia, (officio, e arte de comediante.

DO QUE É VICIOSO.

É vicioso o gesto, e acção, Souto Maior,que não acompanha a voz com a propriedade, que pede o discurso, e seus transportes:` v.g. dizendo as cousas alegres com semblante triste; as tristes com semblante alegre,e risonho as cousas altas com acções humildes, e encolhidas; e as baixas com acções magnificas, e sublimes. Porque tudo isto é uma pura A symetria, (a desproporção), e faz entre si A symphonia, (a desconsonancia).

Tambem é gesto vicioso ter a cabeça empinada a modo de Cuphologo, (o homem leviano no fallar) como lhe chamam os Gregos; ou demasiadamente carregada, e espantada, como to-cado de Matxismo: (a loucura, a doudice), ter a barba sobre o peito, a testa enrugada, os olhos espantados: assuar e tossir muitas vezes sem causa: morder ou lamber os beiços, ou fallar tambem com elles: ter a boca torta, os hombros encolhidos, o peito demasiadamente aberto, os braços, e mãos estacadas; ou com movimentos demasiados, e antecipados á voz: bater as mãos, fazer pateada ou com ella ferir a testa, o peito, ou coixa. Finalmente são viciosas todas aquellas acções, que, ou por demasiadas, ou por improprias da materia, e lugar, em que se declama, fazem a oração imperfeita, desengraçada, e o orador fastidioso porque muitos, vendo-se com uma natural Polylogia, (a verbosidade, demasia no fallar), adquirem aquella soberba chamada Periautologia; (a soberba, jactancia, vā ostentação), e sem fazerem caso dos bons modelos, e mestres de eloquencia,que lhes sirvam de espelho; ficam sempre Psychrologos, (o que falla fria, e enxabidamente), usando da Pysichrologia; (oração fria, vã, enxabida), e mui contentes e satisfeitos por terem adquirido uma total Morosophia, (a sabedoria louca, ou dos loucos), ou Doxolophia, (a opinião, e fama falsa de sabedoria.)

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