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Jonas.

de todas as virtudes, assim a desobediencia é o dispendio e destruição de todas. Adão no paraizo todos sabemos que foi creado em justiça original com todas as virtudes que Deus lhe infundiu na alma. E quanto lhe duraram? Em quanto obedeceu, conservou todas: tanto que desobedeceu perdeu todas. E se isto succede no paraiso, cá fóra que será senão o mesmo? Ponhamo-nos longe d'elle, não só na terra, senão no mar. E Exemplo de que tempestade é aquella que no Mediterraneo levanta as ondas até ás nuvens? Que navio é aquelle que estão batendo e comendo os mares? Que homem é aquelle que lançado ao mar o engole uma balêa? O homem é Jonas, o navio é de uns gentios em que elle navegava, a tempestade furiosa é a que por sua causa se levantou. E quem era este Jonas? Era um propheta do numero dos doze; era um homem de cujo espirito e zelo fiou Deus a missão e conversão de Ninive; era um sancto então reputado por tal e depois canonizado. Pois este homem de tantas virtudes é o que levantou uma tão grande tempestade? Este é o que poz a perigo de se ir a pique o navio? Este é o que mereceu que o lançassem ao mar? Sim, este; porque com todas estas virtudes n'esta mesma occasião foi desobediente. Pelas virtudes mereceu a eleição; pela desobediencia perdeu as virtudes. Os do navio, diz o Texto, que faziam oração aos seus deuses; porque todos eram idolatras; e a tempestade que não levantou a idolatria de tantos gentios, levantou-a a desobediencia de um sancto. Não ha que fazer caso de sanctidades sem obediencia. Muita modestia, muita compostura, muita penitencia, muita edificação, muitas illustrações do céu, muitas prophecias; mas tudo isso sem obediencia é um pouco de vento. Mal disse em dizer: um pouco; é tanto vento que levanta tempestades, que põem a perigo de naufragar o navio e que, se Deus não acudira com um milagre, o propheta se subvertera no mar e Ninive na terra.

IX. Todos estes documentos dictados na eschola d'aquelle Menino de oito dias, que para ser admiração dos doutores não ha de esperar pelos doze annos, são os que ensinam practicamente que para a breve e perfeita renovação do espirito, o voto a que se hão de reduzir todos os votos e a virtude a que se hão de reduzir todas as virtudes é a obediencia. Assim como a circumcisão era a divisa que distinguia os filhos de Abrahão dos outros povos; assim a obediencia é o character. que distingue os filhos de Sancto Ignacio dos outros religiosos. Em outras religiões (diz o Sancto Patriarcha) podemos soffrer que nos façam vantagem nas asperezas que cada uma sanctamente observa; porém na pureza da obediencia desejo, irmãos

VOLUME V

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que

obediencia é distingue os

o character

filhos de Sancto Ignacio.

Fazer tudo por obediencia.

Conclusão.

carissimos, que se assignalem os que n'esta Companhia servem a Deus nosso Senhor; e que n'isto se conheçam os verdadeiros filhos d'ella. Se formos verdadeiros obedientes, seremos verdadeiros filhos da Companhia de Jesus: mas se o não formos, bem nos podemos despedir d'este nome; porque nem elle, nem Sancto Ignacio, nem a Companhia, nem o mesmo mundo, nos conhecerá por filhos seus. Perdeu-se o mundo e o paraiso por falta de obediencia; e só pela obediencia poderá a Companhia salvar o mundo. Oh que paraiso na terra seria amanhã e será este sancto collegio, se todos com grande união entre nós e grande sujeição à obediencia nos resolvermos com toda a applicação, com todo o cuidado, com todas nossas orações e devoções e com um exame mais particular a conseguir a perfeição d'esta só virtude!

Digo d'esta só virtude, porque não é necessario acrescentar de novo cousa alguma, senão fazermos o mesmo que fazemos cada um segundo o seu estado, só por obediencia. O irmão coadjutor na sacristia, na portaria, na enfermaria e nas outras officinas, faça o que costuma trabalhar; mas por obediencia. O sacerdote no altar, no pulpito, no confessionario, nos hospipitaes, nas cadeas, na assistencia, faça o que costuma exercitar; mas por obediencia. O irmão estudante nas grammaticas, nas humanidades, nas philosophias, nas theologias, faça o que costuma estudar; mas por obediencia. Mas por obediencia torno a dizer; e não para ser grande letrado, nem para ser grande prégador, nem para ser mestre, nem para ser lente, nem para ser professo de quatro votos; nem para obter qualquer outro grau ou dignidade na religião: mas só por obediencia. A obediencia é o gráu mais sublime a que se possa chegar. Aos que se applicam a outros meios, ainda que sanctos, para conseguir a perfeição, parece-me que lhes está dizendo Christo, como a Martha: Turbaris erga plurima; perro unum est necessarium. Este unum reduzido á unidade da obediencia é só o necessario: este unum reduzido á unidade da obediencia é o que basta para conseguirmos toda a perfeição do espirito e todo o espirito da perfeição. Assim como reduzimos todos os fins a um só tim, que é Deus, assim havemos de reduzir todos os meios a um só meio, que é a obediencia, obedecendo a Deus em todos os mandamentos, obedecendo a Sancto Ignacio em todas as suas regras e obedecendo ao superior que é a voz de Deus e regra viva em tudo o que dispuzer de nós.

Tal é a renovação que o céu de nós espera no dia de ȧmanua; e nós, não só por ser o proprio dia dedicado para ella, mas por ser o primeiro do anno «e a festa do nome da Compa

nhia. O que resta é que com todo o affecto de nossos corações peçamos aquelle Menino todo poderoso pelas gotinhas do sangue de sua circumcisão e à Sanctissima Mãe pelas copiosas lagrimas, que ella lhe custou, nos concedam em honra de tão soberano mysterio esta mesma resolução muito efficaz, muito verdadeira, muito forte, muito deliberada e muito constante; para que assim como o mesmo Senhor pela sua obediencia mereceu o nome sanctissimo de Jesus; assim nós pela mesma obediencia nos façamos dignos de o servir perpetuamente na Companhia debaixo do mesmo nome: Obedientiam perpetuam in Societate Jesu.

(Ed. ant. tom. 11.o pag. 322, ed. mod. tom. 9.o pag. 61).

SERMÃO DO ESPIRITO SANCTO

PREGADO NA CIDADE DE S. LUIZ DO MARANHÃO,

NA EGREJA DA COMPANHIA DE JESUS,

EM OCCASIÃO QUE PARTIA AO RIO AMAZONAS UMA GRANDE MISSÃO
DOS MESMOS RELIGIOSOS.

OBSERVAÇÃO. Vai trasladado na sua integra este sermão singelo, elegante, practico e repassado do zelo apostolico de Vieira. A peroração é eloquentissima. No numero VI admirarão os humanistas a celebre descripção da estatuaria.

Ille vos docebit omnia quaecumque dixero vobis.

JOAN. XIV.

Pouco fructo ranhão da pala

que tira o Ma

vra de Deus.

A sexta vez é hoje, que no anno presente e nos dois passados me ouvis prégar este mesmo mysterio. Mas não será esta sómente a sexta vez, em que vós e eu experimentamos o pouco fructo com que esta terra responde ao que se devêra esperar de tão continuada cultura. Se a doutrina que se semêa nella fôra nossa, achada estava a causa na fraqueza de nossas razões, no desalento de nossos affectos e na efficacia mal viva de nossas palavras mas não é assim: Sermo quem audistis, non Joan. XIV—24 est meus, sed ejus qui misit me Patris. O sermão que ouvistes não é meu, senão do Eterno Padre, que me mandou ao mundo, diz Christo n'este evangelho, e o mesmo podem dizer todos os prégadores, ao menos os que ouvis d'este logar. Os sermões, as verdades, a doutrina que prégamos, não é nossa, é de Christo. Elle a disse, os evangelistas a escreveram, nós a repetimos. Pois se estas repetições são tantas e tão continuadas, e a doutrina que prégamos não é nossa senão de Christo; como fazem tão poucos progressos nella, e como apren porque o prégadem tão pouco os que a ouvem? Nas palavras que propuz, temos a verdadeira resposta d'esta tão nova admiração. Ille vos docebit omnia quaecumque dixero vobis. O Espirito por dentro.

1 Joan. XIV-26. Dixero, id est, dixi, uti habet graecum originale.

A razão é

dor só diz;

O que ensina é o Espirito Sancto, allumiando

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