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acompanhadas das amas e das bonnes, vão correr e brincar nas tardes calmas e perfumadas da primavera ou do verão, e onde os velhos caturras para quem uma réstea de sol, ao domingo, constitui o melhor dos confortativos, vão espairecer e recordar.

À sombra daquele cédro copado ou daquele chorão de ramos pendentes e tristes, sentam-se há anos as mesmas figuras de velhos, características e inconfundíveis, oficiais reformados, funcionários aposentados e tutiquanti. A criançada frequentadora do jardim, muda todos os anos, substitui se, renova-se, altera-se e com ela as amas e as bonnes. Os bons velhos são invariáveis. O guarda já os conhece; fala lhes amigavelmente e uma vez por outra enceta uma conversação.

Uns conheço eu, desde que me entendo, sentados todos os domingos, no mesmo banco, à mesma hora, na mesma posição e, por sinal, conversando no mesmo assunto, como os caturras do cerieiro de Braga, daquele cerieiro da rua Nova onde à noite se reuniam uns pacatos bragueses que, depois de se terem inquirido sôbre as novidades da terra, com as clássicas perguntas do estilo, recolhiam-se ao mais absoluto silêncio, apenas interrompido de quando em quando, por algum freguês que o cerieiro aviava sumàriamente.

Assim se conservavam até que o relógio da loja batia as 8 horas. Então solenemente, precisamente, como que obedecendo a alguma varinha mágica, levantavam-se e despediam-se com breves palavras.

O cerieiro acompanhava-os fora do mostrador e, quando os impagáveis conversadores se afastavam, gritava-lhes, da soleira da porta, com a maior seriedade dêste mnndo:

-Então amanhã venham mais cedo para o ca

vaco.

E vinham. No dia seguinte lá estavam nos mesmos

lugares, fazendo as mesmas costumadas perguntas e despedindo-se à mesma hora.

Tal qual os velhos cavaqueadores que eu conheço, há bons dez anos, naquele banco do jardim, apanhando um bocado de sol todos os domingos de tarde e fazendo entre si, essa eterna pergunta, nunca satisfeita: -¿Então, o que há de novo?

CAPÍTULO V

SUMÁRIO: O Moinho de Vento.

Os ingleses do Prior do Crato.

- As casas de Gonçalo Vaz Coutinho e as cavalariças do Infante D. Manuel. As primeiras edificações. Os fornos

da loiça. Perigos da chita constitucional.

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Alargamento

do Moinho de Vento em 1870. A Horta, o Páteo e a Travessa do conde de Soure. Restos da Opera. - Citam-se alguns moradores. Os arcos do Evaristo e do marquês de Penalva. O Cardal do Longo.- Quem era o Longo. - O abarracamento de Peniche. - Diz-se a quem pertencia o sítio dos Quarteis. — As antigas quintas dos Cardais, Cirurgião-mór e Palmeira. — Mencionam-se os seus proprietários e moradores desde 1650. - A origem do bairro da Praça das Flores. A quinta dos Cabêdos. - Os Cardais. Nomes vários desta rua. - Faz-se uma lista dos seus moradores. O marquês de Pombal e o ministro da Prússia. Uma tecelagem nos Cardais em 1748.- O Seminário Patriarcal e uma fábrica de licores. - O Recolhimento. Quem o fundou e quando. — As Ermidas das Chagas. — A rua e travessa da Palmeira. Designações locais depois de 1755. As travessas de S. José, de Santa Teresa, da Piedade, e da Victória, ruas de S. Francisco, das Adelas e da Quintinha. Citam-se os seus moradores. - A baixa da Cotovia.

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- As ruas da Rigueira e da Conceição. — O largo da Praça Nova. O pastor Ruders entusiasmado. Um malmgard sueco na Praça das Flores. Uma etimologia e um registo de azulejos.

Façamos agora uma breve digressão pelos arredores da praça.

Perto dela, para o lado do nascente, ficam-nos os Moinhos de Vento, local crismado há anos em rua de D. Pedro V. Tal designação é quinhentista e do prin

cípio do século, pelo menos. Miguel Leitão de Andrade cita-a como limite do vasto domínio rural dos Alteros, para as bandas do norte (1) entestando com o cerrado de S. Roque, prazo êste que, em eras mais remotas, fôra doado a S. Mamede-o-Velho por um casal devoto, Martim Lourenço e Sancha Martins, com as terras dos Costas, depois conde, de Soure, o prazo dos Meneses de Tarouca e o de Santa Justa. O aspecto do local fácil me parece de conjecturar: terras de pão, cardais, matos cerrados floridos de estevas, cristas bordadas de piteiras e os moinhos gemedores que aparecem pintados, à feição dos moinhos olandeses, em todas as prespectivas quinhentistas de Lisboa.

Aqui, segundo alguns autores, chegaram as tropas inglêsas de Isabel Tudor, desembarcadas na Ericeira em 24 de junho de 1589, afim de auxiliarem as pretensões do Prior do Crato. Depois de ligeiras escaramuças às portas de Santo Antão e às de Santa Catarina retiraram os invasores e com êles D. António. Foi esta a última tentativa do filho da Pelicana (2).

Eram 16000 de pé e 200 de cavalo os soldados inglêses. Em 30 de junho chegaram a Alvalade. Era dia do Corpo de Deus. Numa Relação coéva, citada por Ribeiro Guimarães, diz-se que o exército chegou até à Boa Vista, Santa Catarina e São Roque onde acampou, e acrescenta e à sexta e sábado houve escaramu

(1) Lisboa Antiga de Castilho, 2.a edição, volume i do Bairro Alto, pág. 20.

(2) Elementos para a Historia do Municipio de Lisboa, tômo 1, págg. 61-63.

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