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famoso artista, na opinião do autor da Benedictina Lu

sitana.

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É de

Seria por falta de competência do jesuita? presumir que sim; mas o certo é que as obras perderam com a troca. O arquitecto, mais cheio de conhecimentos técnicos de que o seu antecessor, não tinha entretanto a boa vontade e o interesse próprio de vêr concluida a obra.

Pausada e morosamente foram dirigidos os trabalhos e a tanto chegou a preguiça que o vice-provincial Martim de Melo viu-se obrigado a ordenar que assistissem no colégio quatro religiosos, para trazerem de ôlho o pachorrento Álvares.

A medida foi acertada. Desde que os da Companhia entraram de vigiá-lo, os trabalhos foram luzindo a olhos vistos, embora ainda compassados para a impaciência com que D. Maria de Noronha esperava o seu termo ou pelo menos o acabamento das obras da capela onde desejava colocar o mausoleu, mandado, por ela, construir para os restos mortais do finado marido.

O sumptuoso túmulo era de mármore liso, assente sôbre dois elefantes, tendo na face do caixão um extensíssimo epitafio (1). Era obra perfeitíssima e impor

(1) O epitafio é o seguinte: «Aqui jaz Fernão Telles de Menezes; filho de Braz Telles de Menezes, camareiro-mór, guardamór e capitão dos ginetes do Infante D. Luiz, e de Catharina de Brito sua mulher o qual foi do Conselho de Estado de El Rey Nosso Senhor e governou os estados da India e o reino do Algarve e foi regedor das justiças da Casa da Suplicação e presidente do

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tára à saudosa viúva em cêrca de 3:000 cruzados, dizem os cronistas. Quanto a mim o monumento tumular não prima pelo bom gosto. É uma imensa mole de pedra assente sôbre o dôrso de dois elefantes liliputianos, apezar dos padres Carvalho da Costa e Jorge Cardoso dizerem dêle maravilhas de pasmar (1).

Logo veremos o destino dêste monumento.

A vigilância dos jesuitas que tão bons frutos dera, principiou a não beneficiar o andamento das obras, porque um empecilho poderoso se atravessou de repente no caminho tão bem encetado.

O dinheiro começou a faltar.

Debalde foi que os padres suspenderam o noviciado em Campolide, para que o dinheiro dispendido no sustento dos noviços revertesse a favor da nova casa, e debalde seriam todos os esforços empregados nesse sentido, se não fôra um inesperado auxílio que a Companhia teve.

O capítulo subsequente ocupar-se há dessa nova e próspera fase da Casa de Provação.

Conselho da Índia e partes ultramarinas – E sua mulher D. Maria de Noronha, filha de D. Francisco de Faro, vedor da Fazenda dos reis D. Sebastião e D. Henrique e de D. Maria de Albuquerque, sua primeira mulher; os quais fundaram e dotaram esta casa de provação da Companhia de Jesus e tomaram esta capela-mór para sua sepultura. - Faleceu Fernão Telles de Menezes a xxvi de novembro de MDCV e D. Maria de Noronha a vu de março de

MDCXXIII..

(1) Respectivamente nas suas obras Corographia Portuguesa e Agiologio Lusitano.

CAPÍTULO VIII

SUMÁRIO: Quem era Lourenço Lombardo. - Um mercador aventuroso. Sua inclinação Sua inclinação à vida religiosa. — Desgostos íntimos. Morte de sua filha e de sua mulher. - Determina Lourenço Lombardo entrar para a Companhia de Jesus. — Sua liberal protecção à Casa do Noviciado. - Ultima-se o edifício à sua custa. — Trasladação dos ossos do fundador para a igreja do Noviciado. -Em que se descreve a Casa de Provação. As capelas interiores.-Citam-se algumas telas do novico Domingos da Cunha. O plano do arquitecto Baltazar Álvares.

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No último quartel do século XVI veio de Flandres tentar fortuna a Portugal, terra então azada a semelhantes empreendimentos, um mercador, de nome Lourenço Lombardo, môço ainda e, como todos os flamengos, esperto e ousado em tratos de mercância (1). Mal chegado ao reino, oferecendo-lhe ensejo de ir negociar a África, embarcou para a Costa da Mina e depois de ter agenciado alguns mil cruzados em escambos vantajosos, voltou ao reino onde casou com uma senhora, filha de um seu compatriota e de uma portuguesa. O nome não sei de memória que o diga.

Contivera-se o seu activíssimo génio na quietação do ano de noivos, como então usava dizer-se. Passado algum tempo, porêm, nem os carinhos da consorte nem

(1) Era natural de Ervens (Antuerpia). O autor do Códice Manuscrito A-4-11, dá-lhe 30 anos, à data da vinda para Portugal.

o balbuciar infantil de duas crianças, vindas ao mundo em bem funesta hora, o puderam prender ao remanso do lar. Era incompatível com o mercador aquela inacção e a India misteriosa chamava-o de longe acenando-lhe com as suas preciosidades e os seus encantos.

Esse país fantástico que as armas portuguesas andavam avassalando, que enchia de glória os seus soldados e de especiárias as suas naus, constituia o sonho doirado do mercador que se sentiu irresistivelmente atraído e fascinado. O cravo das Molucas, o gengibre do Malabar, a canela de Ceilão, as sêdas, os diamantes e as pérolas eram os imans potentíssimos que uniam a mãepátria à colónia, vencendo perigos e distâncias; fonte de inexauríveis riquezas que, depois de encher mais os cofres dos particulares que os do estado, veio a ser a causa primacial da decadência da Índia e da perda da

nossa suzerania.

O mercador não resistiu. O seu génio empreendedor levou-o, por duas vezes, a essa região cujas espécies riquíssimas negociou, angariando avultados. cabedais e deixando fama da sua pericia entre os comércios de Gôa e de Cochim.

Opulento, mas quebrantado dos muitos trabalhos que passara, voltou de vez a Portugal para descançar e fruir em companhia dos filhos, os bens que adquirira e que lhe proporcionariam vida folgada.

Não cuidou êle que o destino se apraz muita vez em contrariar lidimas aspirações. Durante a sua longa ausência ensandecera-lhe o filho e nêste triste estado o veio êle encontrar, inútil para si, para os seus e para a sociedade. Foi êste o primeiro golpe, série de outros

muitos, que sofreu o ousado flamengo com a resignação de que mais tarde soube dar abundantes provas.

Era então Lourenço Lombardo um dos estranjeiros mais ricos que residiam em Lisboa. Êsse oiro, porêm, que ganhara à custa de muitas canceiras, não o entesoirava êle, como muitos, antes pelo contrário o distribuia largamente em esmolas, já pelos necessitados, já por obras pias e casas religiosas, à excepção dos bens que destinava ao património dos filhos em que êle concentrava todas as suas esperanças.

Por êste tempo começou o mercador a frequentar São Roque e a privar com os padres da Companhia. Não sei se o desejo da vida devota e o exemplo dos padres o seduziu ou se o arrastou para ali o desgôsto que tivera pela doidice do filho que enviara para Flandres não sei por que motivo. O que é certo é que, pouco a pouco, entrou a germinar no seu cérebro a ideia de entrar em religião, consolidando e assegurando prèviamente o dote da filha. Para isso iniciou a construção de umas casas no Moinho de Vento (1).

Se ela casasse, pensava o flamengo, ficaria desimpedido de ligações que lhe tolhessem o recolher-se a um mosteiro, pois contava que sua mulher, desgostosa tambêm, quisesse seguí-lo em tal deliberação.

Enganou-se, porêm. A esposa não estava muito fácil em fazer-lhe a vontade e preferia a liberdade à clausura, teimando em que tanto se servia a Deus num mosteiro como cá fora.

(1) Estas casas foram compradas por Roque da Costa Barrero. Em 1717 era dôno delas seu filho Francisco Barreto,

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