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assentes, da mesma forma que os outros, sôbre um rodapé de azulejos.

A capela-mór era toda doirada; tinha um retábulo do mesmo autor e, sôbre o arco dela, o nome do Sal

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Fig. 14 O Noviciado da Cotovia

segundo o gráfico exarado no Roteiro da Agua Livre, feito em 1622
por João Nunes Tinoco

vador do Mundo em lavores de gesso, com raios de oiro em derredor.

Nesta capelinha rezava-se todos os dias uma missa de alva, à qual assistiam todos os noviços e alguns padres da casa professa, para o que havia, encostados à parede fronteira ao altar, uns largos assentos com remates de talha. Bordando as paredes laterais, uns bancos singelos serviam de assento aos noviços para ouvirem as práticas espirituais, que eram diárias. Completavam a ornamentação dois grandes armários doirados para arrecadação dos paramentos, em um dos quais, de grande fundura, se revestia o padre para a celebração da missa (1).

(1) Citado manuscrito B-5-24 da Biblioteca Nacional.

No corredor do andar inferior, que servia a portaria, ficava a outra capela consagrada à Virgem, de menores dimensões do que a primeira. O painel do altar era uma cópia da lendária tela atribuida ao Evangelista S. Lucas. O tecto era de abóboda, ornado de uma simples pintura. Nas paredes estavam quatro quadros representando os quatro doutores da Igreja. O resto da parede, livre de paineis, era coberta de azulejos.

O altar, sob um arco de cantaria, tinha, ao meio de um retábulo de talha, a imagem da Senhor, muito venerada dos noviços. Fronteira ao altar, recolhida sob outro arco de pedra, ficava uma porta larga que abria para a enfermaria, donde os noviços doentes ouviam a missa diária.

A primeira destas capelas ardeu em dezembro de 1731.

A chama de uma vela tombada sôbre os estôfos que ornamentavam um presépio, deu origem ao incêndio.

Os noviços que estavam trabalhando na armação do presépio, tão rápido crescimento tomou o fôgo que a custo se salvaram. Veio abaixo o estuque do tecto, ficaram destruidas diferentes armações e arderam quási todos os quadros de Domingos da Cunha. Orçaram os prejuizos em cêrca de 5:000000 reis (1).

O projecto de Baltazar Álvares nunca se chegou a executar. Dos quatro lanços de corredores, em derredor, que deveria ter o edifício, segundo o primitivo

(1) Manuscrito B-12-33 da Biblioteca Nacional, capítulo VII, pág. 345.

plano, só três se chegaram a concluir e nem tanto era preciso para alojamento dos noviços que, segundo o padre António Franco, viviam mais contentes com o canto de um cubiculo do que os que viviam no mundo em palácios mui grandiosos (1).

O espaçoso páteo interior, que ainda hoje vemos no moderno edifício da Escola Politécnica, é o páteo primitivo do Noviciado a que alude a narração a que me tenho referido. Apenas as duas cisternas características foram suprimidas, há dois anos, no furor de uma obra qualquer. Com isso não ganhou a estética e perdeu a tradição.

Saiamos outra vez fora da clausura e entremos na igreja.

(1) Memoria Historica da Fundação da Casa do Noviciado da Cotovia, no Cartório do Colégio dos Nobres existente na Torre do Tombo, maço 10, capítulo 10.

CAPÍTULO IX

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SUMÁRIO: Descreve-se a igreja do Noviciado. São enumeradas as capelas do templo e apontam-se os seus instituidores. — Citam-se os apontamentos de José Valentim de Freitas e o livro de Gonzaga Pereira. Uma lápide que escapou ao incêndio de 1843. - Onde está actualmente o túmulo dos fundadores. Projecta-se remover o mausoleu. Alguns quadros notáveis da igreja. — Vem a balha o irmão pintor Domingos da Cunha. - Sua tempestuosa mocidade. — Alguns dados biográficos do grande artista. - Celebridade das suas telas. Menciona-se a história milagrosa de um S. Francisco Xavier. Um retrato de el-rei D. João IV. — Enumeram-se alguns despojos do antigo templo - Fala-se da cêrca da Casa de Provação. — A frequente falta de água. — ¡Refere-se um milagre!

O templo do Noviciado da Cotovia, voltado ao sul, era de uma só nave e tinha a forma de cruz. Ao todo possuía nove capelas incluindo a capela-mór consagrada a Nossa Senhora da Assunção, padroeira da casa. No altar desta havia um quadro, representando a Assunção da Virgem assistida dos Apostolos, do pincel de Domingos da Cunha.

O chão era lageado de mármores multicores. Do lado da Epístola havia uma tribuna para oração dos noviços, e do lado do Evangelho, sob um arco de cantaria, o túmulo dos fundadores.

As oito restantes capelas eram as seguintes:

1.a) Capela de Nossa Senhora da Graça.-Ficava no cruzeiro, do lado do Evangelho. Tinha uma imagem,

em vulto, da Virgem, da particular devoção do noviço Domingos da Cunha e, aos lados, sôbre o altar, as imagens de S. José e da Nossa Senhora de Santa Ana, ante as quais ardiam sempre duas velas, todas as terças feiras e nos dias das novenas dos mesmos santos, conforme o legado de José Pereira Santiago (1).

Esta capela fôra instituida, em 1620, pelo cónego. da Sé Zacarias Agostinho da Rocha, que a comprara, por escritura de 3 de agosto dêsse ano, aos padres do Noviciado, dando por ela 150 000 réis, legando-lhe, por sua morte, um juro de 160 000 réis no Almoxarifado de Abrantes. Ao reitor da Casa de Provação e aos seus sucessores ficaram, como administradores da capela, os encargos do pagamento de 30 000 réis a cada um dos três capelães e de 20000 réis para a fábrica e guisamentos, guardando para si os cinco enta

restantes.

O cónego Rocha faleceu a 20 de julho de 1636 e foi sepultado aos pés do altar desta capela, onde se diziam três missas quotidianas por sua alma (2).

O retábulo do altar, foi feito à custa de Manuel Lopes do Lavre, por intercessão do padre João da Fonseca, então reitor do Noviciado e grande devoto da Senhora da Graça.

(1) Cartório do Colégio dos Nobres Livro 154 da Coleção do Ministerio do Reino, pág. 49 verso.

Frei Agostinho de Santa Maria, no seu Santuario Mariano, volume 1, pág. 308, diz desta imagem: He esta Santa Imagem de madeira estofada, e de grande e formosa presença e estatura; com esta santa imagem teem todos os religiosos daquella casa grande devoção.

(2) Livro 154 da Coleção já citada, pág. 41, 41 v.o e 42.

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