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dadeira dinastia tipográfica, cujo tronco foi Pedro Craesbeck, e os Deslandes, que iniciaram outra estirpe de igual nobreza, misturando, ao seu, o sangue dos La Coste.

Sôbre êste assunto já, em outro ponto, se discreteou largamente. A árvore genealógica dos famosos impressores já está suficientemente estudada e comentada, para que eu vá agora, de novo, analisar-lhe o bracejamento dos ramos que chegaram até nossos dias como, em Veneza, os Caldos e, na Olanda, os Elzevires.

Os impressores régios foram, pela sua ordem, os seguintes: Pedro Craesbeck, Lourenço Craesbeck (seu filho), António Álvares, Henrique Valente de Oliveira, António Craesbeck de Melo, Miguel Deslandes, Valentim da Costa Deslandes, Pascoal da Silva e José António da Silva (seu filho) que foi o último (1).

D. João V, como D. Manuel protegeu, de coração a utilíssima arte, mostrando louvável curiosidade em vêr funcionar os prelos que, para êsse fim, algumas vezes foram ao paço em tempo do magnânimo sobe

rano.

Em uma dessas experiências foi que se compôs, à vista de el-rei, um célebre soneto alegórico, da lavra do Conde de Tarouca, o qual, sob o nome de Soneto

(1) A primeira terra portuguesa onde se usou o invento de Gutemberg foi Leiria; o primeiro volume impresso foi o Livro das Trovas do Infante D. Pedro, que não traz data, declarando, porêm, no texto, ter sido impresso nove anos depois do descobrimento. O primeiro que apareceu datado foi a edição dos Prophetas, de 1494.

Extemporâneo, constitue hoje não só uma raridade bibliográfica, senão um documento comprovativo de quanto D. João V se interessava pelo desenvolvimento daquela arte, estimulando os artífices com a sua presença e o seu aplauso.

Opinam alguns que o prelo não fôra dessa vez ao paço, mas sim que fôra el-rei quem visitara a oficina de Valentim Deslandes e que aí se imprimira a poesia.

Em favor, porêm, da primeira hipótese militam argumentos e considerações de maior pêso. A ela se inclina o sr. Dr. Xavier da Cunha, nas suas Impressões Deslandesianas, magnífico livro da especialidade. Eu tambêm vi e tratei o assunto e vou pela ida do prelo ao paço.

O soneto, que abona pouco os talentos do seu autor, é êste :

Neste prelo, Senhor, cada figura

He socorro que a fama tem buscado;
Não cabendo o teu nome no seu brado,
Houve mister valer-se da escritura.

Com razão favoreces quem procura
Deixarte o luzimento retratado,
Obrando o impossivel no treslado
De copiar esplendor em tinta escura.

Hoje exalta este prelo os seus primores,
Pois para te applaudir lhe dás licença,
Que aprendão de ti mesmo a ser maiores.

E não só para credito da imprensa
Mas para fé do excesso dos louvores

Lhe authorizas a prova na presença (1).

(1) Existe êste exemplar do célebre soneto incluido no códice 126 da Biblioteca Nacional, a fl. 13, encabeçando-se com o seguinte letreiro: Sendo servido El-Rey Nosso Senhor de ver o uso de hũa imprensa, se estampou este Soneto Extemporaneo.

Criada em 1768 a Oficina Tipográfica, principiou el-rei D. José, ou antes o seu primeiro ministro e os seus ignorados cooperadores na grande reforma dos estudos, a conceder-lhe privilégios que a amparassem na sua infância e a colocassem em estado de progredir. Era o uso do tempo.

O plano da fundação tinha vistas mais largas do que à primeira vista parece. Não se limitava a criar sómente uma oficina tipográfica, propunha-se a organizar um estabelecimento onde se praticassem todos os processos relativos a esta arte.

Uma das primeiras medidas tomadas pelo governo, a que Pombal presidia, foi a anexação da oficina tipográfica de Miguel Menescal da Costa e da Fábrica de Caractéres de Imprensa de Jean de Villeneuve, impressor da Academia Real de História, oficina que êle há anos fundara em Lisboa e que, por êsse tempo, estava a cargo do Estado, debaixo da direcção da Junta do Comércio (1).

O decreto que promoveu estas anexações, o mesmo que criou a Real Oficina, traz a data de 24 de dezembro de 1768.

A direcção da nova Imprensa, compunha-se de um Director Geral, de nomeação régia, de um Deputado da Junta do Comércio ou das Companhias do Grão Pará e do Maranhão, e de um Administrador, que deveria ser escolhido entre os impressores de maior nomeada.

Como tal instalação motivasse grosso dispêndio, a

(1) Ficava esta fábrica situada na cêrca da confraria do Espírito Santo de S. Sebastião da Pedreira.

carta régia de 7 de fevereiro de 1769 autorizou o empréstimo de quarenta contos pelo cofre da Universidade de Coimbra, e com êste valioso auxílio é que se

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Figura 24.

O antigo edificio da Imprensa Nacional segundo um modêlo de madeira existente nêste estabelecimento do Estado

iniciaram as obras e se pagaram as despesas indispensáveis para o seu funcionamento, entre as quais avultavam os setecentos mil réis da renda anual do solar dos Soares que, para tal fim, fôra alugado.

O pessoal director foi nomeado por decreto de 29 de dezembro de 1768. Nicolau Pagliarini, ficou como Director; Deputado da Junta e Tesoureiro, Bento José de Miranda; Administrador, Miguel Menescal da Costa; Escriturário, Joaquim José Escopezi; e o notável Joa

quim Carneiro da Silva para Mestre da Escola e Abridor de Estampas. (1).

Havia então em Lisboa duas fábricas de tipo, o que era mais do que suficiente se estivessem bem organizadas. Em toda a Inglaterra havia apenas uma (em Londres) e chegava bem para as múltiplas exigências de todas as oficinas tipográficas dèsse país.

Essas duas fábricas, fundadas no reinado anterior, pertenciam, uma à Academia Real de História e a outra à viúva de Henrique José Belingue, português de nação, embora o seu nome atrapalhe um pouco a justificação dessa nacionalidade. Da primeira era mestre Jean de Villeneuve, francês, natural de Besançon, mas português pelo coração, como êle próprio se confessa em um discurso laudatório, dirigido à Junta do Comércio, emoldurado em vinhetas e outros ornatos tipográficos (2).

A fábrica do Belingue, por ocasião do terremoto, sofreu, como a do Villeneuve, consideráveis prejuizos. Em virtude da destruição de grande quantidade de tipo, foi enorme a concorrência dos impressores reclamando os caractéres que lhes faltavam, tornando-se necessária a intervenção do próprio governo para regulamentar êsse fornecimento aos numerosos reclamantes.

Estes e outros acontecimentos, suscitaram, à Junta do Comércio, a ideia da criação de uma escola pública

(1) Noções Historicas, Economicas e Administrativas, etc., por Acúrcio das Neves, pág. 347.

(2) Essa moldura é em forma de portal sobrepujado de um frontão, ao meio do qual se vêem as armas reais. É um curioso espècime de arquitectura tipográfica.

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