tante mordazes, em que picava os mandarins do Arquipélago (Anais da Ilha Terceira, de Drummond, tomo III, pág. 254). Ganhou, por isso, desterros e misérias, dos tribunais civis e Inquisição! Vivia últimamente (morreu em 1825) de sermões que compunha e que vendia a padres prégadores! Levou uma vida bastante camoneana, éste pobre filho de pai incógnito!

Numa causa que chamam criminal
Até me acusaram de eu ter feito
Um certo testamento burrical!

De tal obra me argüiram, com efeito;
Q'eu por ela merecia penas duras
Ora vêde se achaes nisto algum geito!

Expuzeram-me a rígidas censuras
De dous colegas seus, e dous frades,
Que disseram contra ela diabruras!

Se quizessem ostentar habilidades
Em tecer uma união de disjuntivos
Não poderiam dizer mais asnidades!...

Uma simples, inocente alegoria,
Era o tal testamento q'èu só fiz

Para destêrro da minha hipocondria.

Maranhão

Bembelide

Aquele lugar que se chama Avis Loco illo q vocat Avýs q iacet int. Stāreñ et Culuchy et Eboram et Elvas et Ablantes, föra entregue em 1211 aos freires-cavaleiros de São Bento de Évora, tali pacto q'in loco suprad.to d'Avys castrum edificatis et populetis (com tal pacto, que um castelo edificassem e povoassem). Destinados a expulsar os inimigos da Cruz e a adicionar territórios à Monarquia, os valentes guerreiros, estavam sendo ali mais necessários onde os moiros infestavam que já nos sítios cristãos de Évora-cidade. Dava-lhes mais el-rei Afonso II uma área em redor (a quási totalidade do Alto-Alentejo) que principiando ao norte, em Ponte-do-Sor, ia à Ponte do Sêda (romana ponte a mais formosa e antiga da Ibéria), a Alter-Pedroso, daí a Arronches (parece coincidir com

a via romana que levava de Lisboa a Mérida; é natural, e pode muito bem êste documento -- Livro I, chancelaria de Afonso III-servir a achar a trajectória da via); e daí, declinando, à Mata de Alcalavícia e Serra de Extremós; e olhando ao sul, descia pelo ribeiro do Almadafe até encontrar a ribeira de Sêda; por ela descendo seguia até à foz do afluente Têra. Éste era o domínio de que o Mestre de Évora, Fernando João, tomára posse em 1213, passando a chamar-se Mestre de Avis. Na iminência se construiu um castelo, e em tôrno dêste núcleo a povoação. Teve foral em 1223 pelo Mestre de Avis, Martim Fernandes.

Dos imensos terrenos de que à Ordem dispunha, ia fundando comendas, tais as de Souzel, Figueira e Cano, aforando ou vendendo, muitas ermidas semeando pelos sertões onde um freire, ermitão celebrava missa e catequisava os raros habitantes de algum recente rincão extorquido aos moiros.

Foi talvez nessa onda que viera à flux a ermida de São Domingos da Bembelide; era um êrmo lugar, região ao sul, através do que rolava a ribeira de Sèda, que aqui tinha o nome de Bembelide. Esta palavra, afectando a comêço uma pequena herdade (hoje a da Vinha, ao sul da de Camões) tornou-se genérica e