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Incognito até'li, pois se dos peitos,
E braços maternaes se desprendia,
Findava a dependencia, amor findava,
Ia ao longe buscar pasto, e guarida.

Foi da excelsa razão primeiro ensaio
A affeição paternal, e a lei primeira;
E na mesma caverna o esposo, a esposa,
(Dulcissima união!) co'os tenros filhos
Da humana sociedade a idéia mostram.
Do imperio ou reino o archetypo foi este.

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A Meditação. Auctor José Agostinho de Macedo, Lisboa 1818 Canto 1.o, pag. 24.

GENERO LYRICO

Este genero de poesia era destinado para se cantar, e deriva o seu nome da lyra com que era acompanhado. Hoje a musica emprega-se principalmente nas solemnidades religiosas e nas representações theatraes, sendo poucas as poesias modernas verdadeiramente lyricas, isto é, compostas para serem realmente cantadas fóra do theatro ou da igreja. Todos os paizes tem canções nacionaes de varias especies, mas nestas attende-se mais à musica do que aos versos. Porém como sempre se tem composto poesias, que exprimem os sentimentos do poeta, do mesmo character e tom das rigorosamente lyricas, isto é, das que antigamente se compunham para serem cantadas, taes composições conservaram o nome de lyricas, não obstante serem destinadas a simples recitação e leitura. Modernamente o poema lyrico é a composição poetica, em que o poeta exprime directamente qualquer sentimento, que o affecta.

Na litteratura classica comprehendia o genero lyrico diversas especies, distinctas pela fórma e algumas pelo assumpto, a saber: a Ode, o Epithalamio, a Canção, a Cançoneta; a Endecha, o Romance lyrico, a Lyra, a Cantata e o Dythyrambo.

A Ode é uma especie de poesia lyrica dividida em diversas estrophes, e que exprime sentimentos alegres, elevados ou delicados.

Segundo o objecto e modo de tractar os sentimentos subdivide-se a Ode em sagrada, heroica, philosophica ou moral, e anacreontica.

A Ode sagrada tem por objecto os louvores da Divindade. O metro usado nesta poesia é o endecasyllabo só, ou com o heroico quebrado solto ou rimado, o seu estylo é o sublime.

A Ode heroica celebra as façanhas, o genio e os talentos dos homens notaveis. O seù metro é o endecasyllabo, o heroico quebrado, e ás vezes o quebrado de cinco syllabas. Dá-se-lhe o nome de Pindarica quando tem uma divisão regular de estancias, denominadas Estrophes, Antistrophes e Epodos, observando-se em todas á mesma ordem, numero e qualidade de versos, e disposição de rima que se adoptar para as tres primeiras.

O estylo sublime é o proprio desta especie de poesia.

A Ode philosophica ou moral tracta de assumptos philosophico-moraes, exprimindo os sentimentos que nos inspiram os varios successos da vida, as revoluções da fortuna, a instabilidade das cousas humanas, a cegueira dos homens sobre os seus verdadeiros interesses e prazeres, a pratica das boas acções, etc.

A Ode epodica, e a saphica são poesias philosophico-moraes. O metro usado na Ode epodica é o endecasyllabo e heroico quebrado alternado, rimado ou solto, ou enlaçado e formando estancias iguaes no numero dos versos, rimando uns com outros ou sem rima.

O estylo que lhe compete é o medio.

A Ode saphica não differe da epodica, só a characterisa o ser composta de estancias regulares de quatro versos cada uma, os tres primeiros endecasyllabos saphicos, e o quarto quebrado de cinco syllabas sem rima.

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A Ode anacreontica exprime com mimo e delicadeza as commoções vivas, mas ligeiras e transitorias, quaes são as que nos causam os prazeres physicos da vida e do amor.

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Characterizam esta especie de poesia a sua pequena extensão, a naturalidade dos pensamentos, a belleza das descripções, o agradavel das imagens, e sobretudo a facilidade e melodia da versificação.

O seu estylo é o medio descendo quasi ao tenue, e os versos usados nestas Odes são a redondilha maior, e d'ahi para baixo, sos ou misturados, as mais das vezes rimados, e formando estancias distinctas.

O Epithalamio é um canto nupcial, que celebra a felicidade das vodas ou as qualidades dos noivos. O metro usado nesta especie de poesia é o endecasyllabo só ou misturado com versos de menor

medida solto ou rimado. O seu estylo é o medio, elevando-se mais ou menos segundo a materia o pede.

A Canção tem de ordinario por objecto as situações campestres, e as penas motivadas pelo amor, saudade ou ausencia. Os nossos poetas tem tractado nas canções toda a variedade de assumptos. O seu metro é o endecasyllabo e o heroico-quebrado, ora só, ora misturado, solto ou rimado, terminando por uma ou mais estancias em que o poeta fallando com a canção conclue com um novo pensamento.

O estylo proprio desta especie de poesia é o medio, elevando-se ou descendo segundo a materia de que tracta,

As Canções modernas são pequenas poesias lyricas sobre assumptos populares, e em fórma cantavel.

As Cançonetas, Endechas e Romances lyricos, que se encontram nos nossos classicos, são especies da Canção com fórmas diversas. A Cantata tracta dos mesmos objectos da Canção. Alguns dos nossos poetas tem tractado nellas os mais sublimes assumptos. Tem duas partes, recitativo e aria. No recitativo o poeta narra o assumpto, na aria faz reflexões suggeridas pelo recitativo. O metro proprio do recitativo é o endecasyllabo só ou com o heroico-quebrado, solto ou rimado, e o seu estylo o medio, elevando-se até ao sublime se a materia o pede. O metro da aria é a redondilha maior e d'ahi para baixo, formando de ordinario estancias regulares, quanto ao numero de versos e rima, e o seu estylo o medio, descendo ou elevando-se segundo o pede o assumpto.

A lyra é igual a Canção quanto ao assumpto e estylo, O seu metro é o endecasyllabo, a redondilha maior e d'ahi para baixo, só ou misturado, em pequenas estancias regulares, repetindo-se de ordinario no fim de cada uma dellas, um estribilho, composto de menor numero de versos e quasi sempre mais pequenos.

O Dythyrambo é uma Canção Bachica, e tracta dos louvores do vinho, de Bacho e dos prazeres da meza.

Nesta composição apparece uma affectada desordem, e por isso não tem estancias regulares, e admitte versos de todas as medidas e combinados de varios modos. O seu estylo ora desce, ora se eleva, segundo as idéias que o poeta exprime.

Modernamente o Dythyrambo compõe-se como o antigo de estancias regulares, e de versos de diversas especies, mas usa-se para exprimir sentimentos vivos de admiração, alegria ou indignação, tal é o Dythyrambo de Dellile sobre a immortalidade da alma.

Os poetas lyricos modernos exprimem os sentimentos, que os animam com plena liberdade, sem se sujeitarem ás fórmas classicas, e por isso as suas composições não pódem rigorosamente classificarse pelas especies que ficam referidas.

Na eschola classica o genero elegiaco era dedicado para celebrar assumptos tristes ou para exprimir sentimentos ternos e delicados. Duas são as suas especies: a Elegia, que tem por assumpto os sentimentos dolorosos, tristes ou ternos, que podem dizer-se naturaes e communs a todos os entes moraes; e o Epicedio, que tem por assumpto os prantos ou queixas sobre a morte de alguem.

O metro endecasyllabo é o proprio para ambas as especies, no Epicedio porém emprega-se só ou acompanhado, com rima ou sem ella, na Elegia vem sempre só, rimando alternadamente e formando

tercetos.

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O estylo d'este genero é o medio.

As Elegias modernas são cantos tristes, em que se lamenta alguma desgraça publica ou particular, apenas se distinguem pelo assumpto, e por isso podem considerar-se como uma especie de genero lyrico.

Na litteratura classica genero epigrammatico era aquelle em que ́se tractava em poucos versos rimados um assumpto subtil ou delicado, concluindo com agudeza.

Eram especies deste genero: 0 Epigramma, o Soneto, a Decima e o Madrigal.

O Epigramma proprio é formado de poucos versos da mesma ou de differente medida, nos quaes se enuncia um pensamento engenhoso, delicado, e ás vezes critico e mordente, terminando sempre por uma expressão aguda ou picante.

O metro e rima desta composição poetica são arbitrarios. O seu estylo é o medio.

O Soneto compõe-se de quatorze versos endecasyllabos formando dois quartetos e dois tercetos.

Os seus pensamentos devem ser nobres e elevados, a linguagem viva e melodiosa, e a versificação correcta e perfeita. O estylo desta espécie de poesia deve graduar-se pelos assumptos qué nella se tractarem.

A Decima é uma especie de poesia composta de dez versos, chamados redondilha-maior, consta de um só assumpto, tractado em uma ou mais decimas, acabando cada uma dellas sempre com um pensamento agudo ou delicado. O seu estylo varia segundo o assumpto.

O Madrigal só differe do epigramma em concluir com um conceito menos vivo e agudo, mas sempre delicado. O numero de seus versos costuma ser entre seis e dezesete, de ordinario endecasyllabos e heroico-quebrados entremeados e rimados a arbitrio do poeta.

As composições breves e conceituosas que constituiam o genero epigrammatico são apenas diversas fórmas poeticas applicadas a differentes assumptos, umas podem classificar-se no genero lyrico, outras no genero didactico.

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GENERO LYRICO

COMPOSIÇÕES CLASSICAS

ODE SAGRADA

Traducção do Canto de Ezequiel, Cap. 27

Oh! Tyro, Nau suberba, e poderosa (158)
Que tanto te jactavas

De perfeita, e bellissima estructura!
Tu, que tecida das mais duras faias,
Tu, para cujo masto produziu

O Libano frondente (159)

O cedro mais gentil, que o mundo viu;
Tu, que audaz, e potente

No coração das ondas te ostentavas
Cheia de gloria ufana, e dominavas
Em toda a vastidão do mar profundo.

Dos carvalhos fortissimos de Bassan (160)
Se puliram teus remos vigorosos.
Nos bancos dos remeiros valorosos,
Na tua poppa, oh! Nau, resplendecia
Lucido esmalte de indico marfim.
D'aurea antena pendia a vela immensa,
Que Egypcio linho candido tecia.
A bandeira de purpura luzente
Suberba scintilava,

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