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ΧΙ

Lindos labios nacarados,
Breves, tumidos, ou antes
Dous rubis, onde volantes
Mil Amores inflorados
Formam ledos á porfia
Os seus favos de ambrozia.

XII

Borrifadas vem com ella
De Marina as meigas vozes,
Que dos males atrozes
Sós dissipam a procella:
Quando as bebem presumidos,
Os meus ávidos ouvidos.

XIII

Ah! não sei como exprimil-a
A amargura de meu peito,
Se amarissimo Despeito
O seu fel nellas instilla;
Devorando dos Amores
Os dulcissimos lavores.

XIV

Torpe susto em mim se ceva; Tinge as faces côr defuncta, E nos meus olhos se ajuncta De Acheronte a densa treva: Té que em trémulo desmaio Do regaço da Dôr cáio.

XV

Ó Marina, vida cara

Da minh'alma, e feliz sorte!
Ó Marina, cruel morte

De minh'alma, e sorte amara;

Como assim, que eu viva, ordenas Em taes gozos, em taes penas?

XVI

Por me dar morte tardia,
Por fazer-me a vida breve,
O teu genio esquivo, e leve
Minha sorte assim varia:
Ah! não mais mudes, ingrata,
De uma vez me adita, ou mata!

Versos do bacharel Domingos Maximiano
Torres, denominado Alfeno Cynthio,
1791-pag. 291.

ENDECHAS

Venturoso dia

Que do Ceu nos veiu,
De mil graças cheio,
Cheio de alegria.
A Aurora rosada,

Nasce em ti mais bella,
E o Sol vem trás ella,
Fazendo-a dourada.

O Ceu nunca avaro,

De estrellas se areia,
A Lua alumeia

Sobre o Tejo claro.
Aves, e animaes

Sem conhecimento
De contentamento
Mostram mil signaes.
Os passaros ledos,
Vestidos de côres,
Cantam teus louvores
Pelos arvoredos.

Qualquer fera perde

Sua fera usança,
E anda fera, e mansa
Pelo prado verde.

Os lobos guerreiros
Nenhum ha que offenda,
Que andam sem contenda
Por entre os cordeiros,
Tudo é mais formoso,
Por bravo que seja,
E tudo festeja
Teu nome ditoso.
As plantas, os montes,
O campo, as boninas,
Aguas crystallinas
Crystallinas fontes.
O valle povoam
Mil pastoras bellas,
Fazendo capellas,
Com que se corôam.
E das semideas
Bellas desta praia,
Não ha qual não saia
Em lêdas choreas.
Os pastores cantam,
Os satyros saltam,
As flôres esmaltam,
As hervas encantam.
Tudo te conheça,
Tudo te festeje,

Tudo te deseje,

Tudo te obedeça.

De ti levantado

Teus louvores conte

O deserto monte,

E o florido prado.

Obras Politicas, Moraes e Metricas do insigne

Portuguez Francisco Rodrigues Lobo, 1723.
Primavera, Floresta ultima, pag. 242.

ROMANCE LYRICO

Chorando lagrimas tristes,
Sobre uma esperança morta
A golpes de um desengano,
Que levou della a victoria:

Soltando ardentes suspiros
Entre lagrimas queixosas,
Juncto do famoso Lis
Se queixava uma pastora.
«Ai! enganosa gloria

Ai! defuncta esperança,

Que quando um bem se alcança,
Já não fica do bem mais que a memoria. »
Sobre um braço se reclina,

Porque as lagrimas que chora
Caiam no saudoso rio,

Que alli tem presas as ondas.
Vê na agua o bello retrato
De que as Nimphas se namoram,
E movidas a tristeza,

Com ella dizendo choram.
<< Ai! enganosa gloria, etc. »
Sabe que communicado
O mal, tambem se melhora,
E o que esconde o coração
Mais lastima, e mais magôa.
<«< Ai! diz, importuna vida,
Quanto a morte melhor fôra,
Que uma tem muitos cuidados,
E outra dera grandes provas.
Ai! enganosa gloria, etc.»

«Enganou-me o tempo avaro
Que como nunca atrás torna,
Dá-lhe pouco de mentir
A quem seus enganos prova,
Víu-me sujeita a ventura
Essa fortuna invejosa,

Vingou-se de um pensamento,
De que nunca foi senhora. »

Ai! enganosa gloria, etc. »
« Fiz fé de minha esperança,
Sustentei-lhe verde a folha,
Vivia de ouvir palavras,

Que sempre tão mal se logram:
Bem paga meu coração
Estas faltas, e estas sobras,
Que umas soffre por amor,
E outras sustenta por honra.
Ai enganosa gloria, etc. >>
«Acabei já de esperar,
E que acabe pouco monta,
Pois se a mim satisfaço
Contento a quem quer que morra:
Vivirei vida sem tela,

E será melhor que as outras,
Que quem perdeu pensamentos
Vive nesta, e morre em todas.
Ai! enganosa gloria, etc. »

Obras Politicas, Moraes e Metricas do insigne
Portuguez Francisco Rodrigues Lobo, 1723.
Romances, 1.a parte, pag. 741

LYRA

Alexandre, (218) Marilia, qual o rio
Que engrossando no inverno tudo arraza,
Na frente das cohortes
Cerca, vence, ábraza

As cidades mais fortes.

Foi na gloria das armas o primeiro;
Morreu na flôr dos annos, e já tinha
Vencido o mundo inteiro.

Mas este bom soldado, cujo nome
Não ha poder algum, que não abata,
Foi, Marilia, sómente

Um ditoso pirata,
Um salteador valente.

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