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REGRAS DE METRIFICAÇÃO PORTUGUEZA

METROS MAIS USADOS NA POESIA NACIONAL

Verso ou metro, como define o sr. Castilho, é um ajunctamento de palavras, e até, em alguns casos, uma só palavra comprehendendo determinado numero de syllabas, com uma, ou mais pausas obrigadas, de que resulta uma cadencia aprazivel.

Verso metrico é composto de um certo numero de syllaba's de quantidade determinada, distinguindo-se em longas e breves. O verso metrico compõe-se de pés, isto é, de partes compostas de certo numero e determinada ordem e quantidade de syllabas.

Verso syllabico é composto de um certo numero de syllabas com accentos postos em logares determinados.

O verso metrico funda-se na qualidade das syllabas. As nações que tinham linguas sonoras e prosodia fixa, como a Grecia e Roma, adoptaram o verso metrico.

As nações modernas, e entre ellas Portugal, que na pronuncia não fazem sentir a quantidade das syllabas por um modo tão distincto, adoptaram o verso syllabico.

A contagem das syllabas não é para o poeta o mesmo, que para o grammatico.

O grammatico conta por syllabas todos os sons distinctos em que as palavras se podem rigorosamente dividir. O poeta não conta por syllabas as que no correr da pronuncia ou não se percebem inteiramente, ou quasi nada se percebem.

Accento predominante ou pausa é aquella syllaba em que a voz se detem ou insiste mais.

Toda a palavra tem necessariamente um accento predominante. As poucas que parecem ter dous, são compostas.

Cesura é a pausa ou suspensão mais ou menos sensivel que divide um verso em duas partes. É necessaria nos versos compostos, e nos outros serve para lhes variar o andamento.

Rima é a conformidade dos sons finaes de dous ou mais versos desde o ultimo accento predominante.

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A rima é de duas especies: consoante e toante. Quando duas palavras têm os sons finaes perfeitamente conformes desde o accento predominante até á ultima syllaba ha rima consoante, como: valor, furor, arcano, humano, prudentissimo, brandissimo.

Quando os sons finaes de duas palavras só se conformam em ter na pausa, e nas syllabas que se lhes seguem as mesmas vogaes, a rima é toante, como: chá, paz, manto, casco, horrifico, santissimo.

Os nossos poetas usaram pouco as toantes. Em Hespanha ainda

se usam.

As diversas especies de versos distinguem-se pela terminação final, pela posição do accento, e pelo numero de syllabas.

Em quanto á terminação final os versos são: rimados ou soltos. Em quanto á posição do ultimo accento predominante são: agudos os que têm o accento na ultima syllaba, graves ou inteiros os que têm o accento na penultima syllaba, e esdruxulos os que têm o accento na antepenultima syllaba.

Em quanto ao numero de syllabas ha versos desde duas syllabas até quatorze. Cada especie de versos designa-se pelo numero de syllabas, sendo o verso grave ou inteiro; se fôr agudo tem uma syllaba de menos, e se fôr esdruxulo tem uma syllaba de mais, embora o verso seja da mesma especie. Assim o verso endecassyllabo tem onze syllabas, quando é grave ou inteiro, dez quando é agudo, e doze quando é esdruxulo.

Os versos de duas até cinco syllabas têm o accento predominante na penultima syllaba.

Os versos de seis syllabas, ou redondilha menor, têm os accentos na 1.a e 2.a, ou na 3.a e 5.a

Os versos de sete syllabas, ou heroicos quebrados, podem ter os accentos na 1.a e na 6.a, ou na 2.a e na 6a, ou na 3.a e na 6.a, ou na 4.a e na 6.a

Os versos de oito syllabas, ou redondilha maior, podem ter os accentos na 2.a e na 7.a, ou na 3.a e na 7.a, ou na 4.a e na 7.a, ou na 5.a e na 7.a Os versos de nove syllabas são pouco usados, tem os accentos na 4.a e na 8.a

Os versos de dez syllabas têm os accentos na 3.a, 6.a e 9.a

Os versos heroicos, endecassyllabos, ou de onze syllabas podem ter os accentos na 6.a e 10.a, na 4.2, 8.a e 10.a, chamados saphicos, na 4.a, 7.a e 10.a com cesura depois da 5.a

Os versos de doze syllabas, ou versos de arte maior, são compostos de dois de seis syllabas, têm os accentos na 2.a, 5.a, 8.a e 11.a

Os versos de treze syllabas ou alexandrinos são compostos ou de dous versos de sete syllabas, sendo o primeiro agudo, ou illidindo a sua ultima syllaba na primeira da palavra seguinte, ou se formam de um verso grave de sete syllabas, e de outro de seis com accento na 3.a

Os versos de quatorze syllabas compõem-se de dous de sete, dos quaes o primeiro deve ser grave, não illidindo a sua ultima syllaba na seguinte.

O sr. Castilho segue na contagem das syllabas um methodo diverso. Conta por syllabas de um verso as que nelle se proferem até á ultima aguda ou pausa sem se fazer caso de uma syllaba ou das duas syllabas breves, que se possam seguir. Assim o verso heroico, geralmente chamado endecassyllabo ou de onze syllabas, pelo systema do sr. Castilho, é decassyllabo ou de dez syllabas, o de redondilha maior de oito syllabas pelo systema do sr. Castilho é de sete syllabas.

Os poetas usam de figuras para alterar o numero das syllabas e mudar a accentuação das palavras.

A aferese tira letras no principio das palavras, a syncope no meio, e a apocope no fim. A prothese augmenta letras no principio das palavras, a epenthese no meio, e a paragoge no fim. A systole abrevia uma syllaba longa, e a diastole alonga uma syllaba breve.

CLASSIFICAÇÃO DAS COMPOSIÇÕES POETICAS

A classificação dos generos das composições poeticas póde fazerse, ou pela fórma das composições, ou pelo objecto, e modo como nellas figura o poeta.

A classificação das composições poeticas geralmente adoptada em nove generos, a saber: epico, dramatico, didactico, descriptivo, elegiaco, lyrico, pastoril, epigrammatico e apologo, funda-se em accidentes de fórma.

J.

Como porém os poetas modernos não adoptaram as fórmas convencionaes da eschola classica, é preferivel a classificação tirada do objecto das composições poeticas e do modo como nellas figura o poeta.

Pelo modo como o poeta figura nas composições poeticas póde a poesia ser pessoal ou subjectiva, quando o poeta exprime em seu

proprio nome as suas idéas e sentimentos; impessoal ou objectiva quando o poeta reproduz directamente todas as circumstancias da acção; mixta quando narra com enthusiasmo o que sabe da humanidade ou da natureza.

São pois tres os generos principaes de composições poeticas, a saber genero lyrico, dramatico, e epico. A estas tres classes se ligam os generos secundarios analogos.

A poesia pessoal ou subjectiva comprehende todas as variedades do genero lyrico, as elegias, as satyras, os sonetos, as decimas, os epigrammas, e os madrigaes.

A poesia impessoal ou objectiva comprehende todas as obras dramaticas, qualquer que seja a fórma dellas, e as poesias pastoris, que pela maior parte são scenas mais ou menos animadas da vida campestre.

A poesia mixta comprehende a epopêia e as composições que a ella se ligam, como: o poema heroico, e o heroi-comico, o romance, o conto, a fabula, o apologo e os poemas didacticos e descriptivos.

Na mesma composição podem junctar-se dous ou mais generos, como por exemplo, em um poema epico ha trechos que pertencem ao genero descriptivo, outros ao genero lyrico. Nesse caso a composição classifica-se no genero que nella predominar.

GENERO EPICO

ESPECIES QUE SE LIGAM Á EPOPEIA

O genero epico na litteratura classica comprehendia o poema epico e o poema heroi-comico.

Poema epico é a narração de uma acção ou empreza illustre. O estylo proprio do genero epico é o sublime.

O verso usado na epopêia portugueza é o endecassyllabo solto, ou rimado, e ordenado pela maior parte em estancias de oito versos cada uma, chamadas oitavas ou oitava rima, rimando nellas os seis primeiros versos alternadamente, e os dous ultimos um com o outro.

Poema heroico é a narração poetica de uma acção menos importante. Segue em tudo o mais as regras do poema epico.

Poema heroi-comico é a narração poetica de uma acção insignificante ou ridicula revestida de todo o apparato da epopeia propria.

O estylo desta poesia eleva-se por momentos á pompa heróica para passar depois por uma queda rapida ao comico proprio do assumpto, quéda que deve ser inesperada sem ser disparatadą.

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Romance é a narração poetica singela de uma acção simples, lastimosa, ou engraçada, e em fórma propria para ser cantada.

No genero narrativo popular ha tres especies: romance, xacara è soláo.

No romance o poeta conta e canta, nelle predomina a fórma epica. Na xacara a narração é feita pelos personagens que o poeta introduz, nella prevalece a fórma dramatica.

O soláo é mais plangente e mais lyrico, lamenta mais do que reconta o facto, tem menos dialogo e mais carpir.

(Garrett — ADOZINDA — pag. 160.)

Estas composições são ordinariamente em versos oitosyllabos, rimados em toantes ou consoantes e formando estancias regulares; ou sem divisão de estancias e com a mesma rima em todos os

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Conto é a narração poetica de uma acção singela, ou sem grandeza, mas interessante, lastimosa ou jocosa.

Fabula é uma narração allegorica, a qual contém uma verdade moral de facil comprehensão.

De ordinario as fabulas, cujos interlocutores são animaes irracio naes ou seres inanimados, chamam-se apologos; se nellas intervem só entes humanos denominam-se parabolas; è dizem-se mixtas quando na narração figuram animaes racionaes, irracionaes, e seres ina nimados.

A narração nas fabulas deve ser breve, a versificação facil, fluente e com a harmonia apropriada ao assumpto, e o estylo natural sem affectação nem agudezas, evitando ao mesmo tempo tudo que possà ser baixo ou grosseiro.

O estylo proprio deste genero é o tenue.

O metro usado nelle é arbitrario desde o verso alexandrino até aos de menor medida.

A fabula, postoque tenha a fórma narrativa ou dramatica, como tem por fim a instrucção moral, póde comprehender-se no genero didactico.

Poema didactico é o que tem por fim instruir, e tracta de communicar directamente conhecimentos uteis.

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