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na Praça de S. Benedicto cinco escravos, tres dos quaes na tarde de 9 de janeiro do mesmo anno haviam assassinado, na fazenda do Boyanga, a seu senhor o fazendeiro dr. José Antonio Barroso de Siqueira, e dois, quatro dias depois, a seu senhor José Joaquim de Almeida Pinto, fazendeiro no Rio-Preto.

Felizmente, nesta parte da America, onde impera um homem de lettras, que prefere, para vencer as difficuldades do seu arduo officio de reinar, os meios brandos e suasorios do raciocinio e da longanimidade, aos meios violentos da força material e da dura applicação da lei; si não foi ainda riscada do nosso codigo similhante pena, tão raras vezes tem ella sido executada, nas raras vezes que a extrema indulgencia do jury a tem imposto, que de facto quasi que se póde consideral-a abolida.

O Largo do Rosario-cercado de casas por tres lados, tendo no outro a igreja que lhe dá o nome. E' de menores proporções que os precedentes.

O Largo do Pelourinho-situado na rua Beira-rio ou de Pedro 2.°, entre as da Quitanda e do Rosario, é um pequeno alargamento triangular, onde se assentava na epoca do dominio colonial um pelourinho de pedra, que foi em 1856 demolido por ordem da municipalidade e removida a peça principal para o cemiterio, onde a

armaram em cruz.

Possue a cidade os 11 templos seguintes: a Matriz de S. Salvador, a igreja de N. Senhora Mãe dos Homens (levantada por provisão de 28 de maio de 1768), situadas ambas na Praça de S. Salvador; as das ordens terceiras de S. Francisco da Penitencia, levantada por provisão de 28 de novembro de 1769, de N. Senhora do Carmo, de N. Senhora do Rosario, de N. Senhora da Conceição e Bôa Morte (levantada por provisão de 3 de outubro de 1772), de N. Senhora do Terço, e as igrejas de N. Senhora da Lapa, de Santa Iphigenia, de S. Benedicto, todas no perimetro da povoação. Fóra d'essa conta-se a capella de N. Senhora do Rosario do Sacco.43 Si nenhuma d'ellas

A capella de N. Senhora do Rosario e Santa Rita, diz monsenhor Pizarro, e accrescenta: feita por Manoel Rodrigues.

prima pela belleza da architectura Interna e exterior, são pela mór parte bem ornamentadas interiormente, com valiosas obras de talha artisticamente douradas.

Estando bastante arruinada, foi em 1862 reparada a Matriz pelo visconde de Araruama e commendadores João de Almeida Pereira, Julião Ribeiro de Castro e Joaquim Ribeiro de Castro, em tempo do vigario dr. João Carlos Monteiro. Gastaram aquelles benemeritos fieis mais de 60 contos de réis nesse concerto.

Tambem a igreja da Mãe dos Homens, capella annexa á Santa Casa da Misericordia, soffreu reparos consideraveis, por arruinada. Os de que ha muito carecia, começados em 1877, sob a zelosa e solicita administração do snr. tenente-coronel José Joaquim de Moraes, ficaram, graças aos esforços d'este protector dos desvalidos, concluidos este anno de 1881 e o templo foi de novo entregue ao culto divino no dia 30 de junho. Gastaram-se na sua reconstrucção mais de 30:000 réis, dos quaes cerca de 14:000 fornecidos pelo cofre da Santa Casa.

Dos outros edificios publicos da cidade, que devam ser especificados, sobresaem os seguintes:

O paço municipal.- E' um predio espaçoso, soffrivelmente adaptado a seus fins, de solida construcção, de sobrado; foi comprado por 50 contos de réis á familia Araruama. Creio que pertencêra anteriormente ao coronel João Antonio de Barcellos Coutinho. Nelle funccionam o tribunal do jury, a secretaria da Camara, e se celebram as audiencias civeis e criminaes. Nelle existe o nucleo da Bibliotheca Municipal, planta exotica, cultivada em estufa e que parece não se dar bem no nosso clima. De todas as tentativas que se têm feito em Campos para se diffundir o gosto pela leitura dos bons livros, esta é a que mais tem custado a vingar: falta-lhe talvez o bafejo official, sem o qual nada se faz no nosso paiz.

A cadeia. E' um rijo pardieiro de pedra e cal, que attesta a nossa incuria e deshumanidade; porque, pelas suas acanhadas dimensões e constante humidade, impõe aos verdadeiros criminosos maior pena do que a que lhes

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impoz ou ha de impôr a lei, e aos simples indigitados antecipa-lhes a pena ou fal-os ir além d'ella. A sua conservação é uma affronta publica á seriedade da justiça e um diuturno brado á consciencia ultrajada. Não attende ella a nenhuma das grandes medidas postas em pratica pela civilização hodierna para regenerar o delinquente e suavisar-lhe o rigor da sorte adversa, temperando a acção justa da lei com os deveres da humanidade.

Tem-se ha mais de 40 annos tentado substituil-a por outra, edificada em local mais apropriado, com os melhoramentos introduzidos nas detenções modernas. Já no seu Relatorio de 1837 falla o major Bellegarde da exis tencia de mais de um projecto para nova cadeia, calculando em 30 contos a sua construcção, si se quizesse attender ás necessidades do municipio pelo lado da repressão do crime alliada aos principios de humanidade e de justiça. << A actual cadeia, ponderava elle, de nenhuma fórma offerece sufficiente segurança, decencia e commodidade para os presos e detidos que recebe de todos os pontos do termo.»>

Por Portaria de 27 de maio de 1835 mandára-se entregar á camara municipal a quantia de 6:000 com destino á nova cadeia, e por outra de 11 de julho do mesmo anno a de 20:000 mais, a contar d'aquelle mez até ao fim do anno financeiro.

O lócal para a sua edificação, então designado pela commissão incumbida da escolha, foi á rua do Cercado do Furtado, adiante do caminho do Porto da Lancha, onde houvesse 14 braças de frente por 25 a 30 de fundo.

Deve existir no archivo da Municipalidade um relatorio do dr. João Baptista de Lacerda Filho, como relator de uma commissão da qual tambem fiz parte, encarregada pela Camara de visitar as casas de caridade e de detenção do municipio e de dar parecer a respeito d'ellas. Nesse documento, que faz honra ao espirito adiantado que o traçou, estão comprehendidas as mais sans doutrinas que póde o assumpto comportar e inspirar a um homem de coração. O echo da verdade ainda aqui as repete.

Entretanto, aquelle escarneo á civilização do seculo

permanece resupino e lugubre a cubrir-nos de vergonha aos nossos proprios olhos e aos do extranheiro que nos visita!

Possue a cidade de Campos um excellente hospital, o da Santa Casa da Misericordia, cuja fundação data do tempo colonial, tendo principiado por uma pequena casa edificada a esforços do sargento-mór Gregorio Francisco de Miranda, pae do barão da Abbadia, auxiliado naquella meritoria empreza pelo benemerito ancião Jeronymo do Cortume. Por provisão da rainha d. Maria I, de 5 de julho de 1791, foi approvado o compromisso da primitiva Casa da Santa Misericordia que teve a cidade, concedendo-lhe os mesmos privilegios de que gosava a do Rio de Janeiro, como se vê do livro 1° de Accordãos de 18 de dezembro de 1792. Reunidos em meza naquelle dia comprometteram-se os treze primeiros irmãos a cumprir e fazer comprir aquelle compromisso. Presidiu o acto, como juiz da irmandade, o padre Silvestre Fernandes Rocha.

No seu citado relatorio de 1837 refere-se o major Bellegarde a um projecto apresentado por seu irmão o major Pedro de Alcantara Bellegarde, para um novo e mais amplo edificio que devia substituir o primitivo hospital annexo ao templo de N. Senhora Mãe dos Homens, onde está o actual. Esse projecto foi depois alterado pelo major Domingos Monteiro quando iniciou a sua construcção. Concluiu-se em 1840 o lanço esquerdo do edificio, maior que o anteriormente delineado, e já nesse mesmo anno abrigava elle 170 expostos e fora de 40 a 50 o numero de enfermos que a elle recorreram. Segundo o Relatorio geral do brigadeiro Henrique Isidoro Xavier de Brito, presidente da directoria das Obras Publicas da provincia, apresentado em fevereiro de 1841, a receita d'esse pio estabelecimento no anno financeiro de 1839-40 montára a 22:967 720 réis e a despeza a 784 305 réis menos. Tinham parado naquelle ultimo anno as obras.

Reconhecendo-se que era acanhado o predio para conter o grande numero de expostos que recebia e quão pouco conveniente lhes era a visinhança tão immediata do hospital, o provedor commendador José Gomes da

Fonseca Parahyba obtivera o grande edificio abandonado contiguo á igreja da Lapa, em uma das extremas da cidade, para asylo das orphãs. Cedeu-o o presidente da provincia, snr. dr. Ignacio Francisco Silveira da Motta, hoje barão de Villa-Franca, e o bispo diocesano conde de Irajá abriu mão da parte que nelle tinha a mitra, completando assim a doação. Tratou então aquelle provedor de alcançar da caridade publica os fundos pecuniarios precisos para patrimonio do estabelecimento, e a 23 de junho de 1864 inaugurava-se o Asylo das Expostas e Orphas desvalidas no antigo seminario da Lapa. Nesse anno o numero de expostos subira a 124; em 1865-66 fôra de 118; das do sexo feminino existiam no Asylo 20, que recebiam a educação domestica de accôrdo com a posição social que as esperava.

Neste ultimo anno compromissal trataram-se no hospital, que ficou assim separado do Asylo, 481 doentes, dos quaes falleceram 48. No numero geral dos tratados contam-se 72 provindos de S. João da Barra e 57 de S. Fidelis. A receita do hospital fora de 44:575 500 réis, e a despeza de 46:321838 réis, havendo portanto um deficit de 1:746 338 réis.

Aproximando-nos mais dos tempos presentes, visto que não escrevo a historia particular d'esses estabelecimentos, vê-se que no anno financeiro de 1878-79 a despeza orçára por 61:063 523 réis, havendo um saldo a favor do thesoureiro, e portanto contra o hospital, de 11:729 563 réis. Nesta conta comprehende-se tanto este estabelecimento como o Asylo. Trataram-se naquelle 618 doentes, cuja mortalidade fora de 14 por cento. Entraram durante o mesmo exercicio 20 expostos e passaram do anterior 57, total 77. Era provedor da Santa Casa o benemerito tenente-coronel José Joaquim de Moraes. No Asylo existiam no fim do exercicio 34 orphãs, tendo passado do anterior 26, havendo entrado 9, mas uma casou-se.

No anno compromissal de 1879-1880 a receita do hospital e do Asylo fôra tal, que deixára um deficit de 16:944 753, incluindo o do anno antecedente. Só com obras na igreja e no hospital gastaram-se 11:421 135.

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