Pagina-afbeeldingen
PDF
ePub

janeiro e ia até 15, dia do padroeiro da capella, assentada numa extensa campina, distante 30 k. do povoado ou séde da parochia, 52 da cidade e 12 do mar. O circuito da pequena igreja cubria-se litteralmente de carros de bois, com toldos de couro, resguardadas as duas entradas ou abertas por vistosas colxas de chita, o que tudo fazia um effeito maravilhoso homens e mulheres, domingueiramente vestidos, a pé e á cavallo, cada qual mais garrido e sécio, enchiam de figuras e de ruido a rustica esplanada e proximos arredores. Esse borborinho e convivencia de romeiros provindos de todos os angulos do municipio, que não só da freguezia, aturavam 3 dias e 4. Hoje ainda se faz a festa do santo, mas creio que aquelles devotos accessorios, que lhe davam uma feição especial, caracteristica e encantadora, têm desapparecido. Vai a civilização uniformizando os costumes e fazendo recuar deante do seu carro de triumpho, ou esmagando-as, essas peregrinas usanças de outras eras, apagando-lhes a côr local que as distinguia e tão gracioso relevo lhes davam.

A matriz da freguezia foi fundada em 1710 pelo fazendeiro Sebastião Rebello, em suas terras; d'ella se aproveitavam os moradores circumvisinhos para satisfazerem os preceitos annuaes e usuaes da igreja, até que, no anno de 1753, fallecido o fundador e arruinado o templo, apesar do patrimonio que elle lhe estabelecêra, o renovaram os moradores interessados na sua conservação e requereram a el-rei que o declarasse capella ou freguezia perpetua, desligando-se da de S. Gonçalo o terreno para esse fim necessario; o que lhes foi concedido por alvará de 5 de fevereiro de 1811, em conformidade do qual se lavrou o edital de 24 de abril do mesmo anno, marcando os limites da nova freguezia. Foi seu 1o parocho proprio o p. João Rodrigues de Aguiar.

Tem de superficie 821,96 k. quadrados, com uma população, que em 1880 se compunha de 9,440 pessoas,

da cidade de Campos, devida á elegante penna do dr. José Ferreira Passos. Acompanha-a uma vista de Campos lithographada por Heaton & Rensburg (Rio de Janeiro).

o que equivale a 8 habitantes por kilometro quadrado. D'aquelle total eram livres 5,638, ingenuos 764 e escravos 3,038. Quanto aos livres, incluindo os ingenuos, distribuem-se segundo as profissões em

[blocks in formation]

Os escravos são todos inteiramente ignorantes.

Ha na freguezia 3 escolas, uma publica e duas particu lares para o sexo musculino e uma particular para o feminino. As primeiras tinham matriculados 459 meninos em 1880, contando 39 ingenuos. Não me consta a frequencia que tiveram. As do sexo feminino tinham 573 matriculadas, entre as quaes 142 ingenuas, com a frequencia de 218. Do total de 1,032 alumnos inscriptos, 814 não frequentaram as aulas. Não admira pois que tão avultada seja a proporção dos analphabetos.

Como na precedente, o commercio da freguezia de S. Sebastião faz-se tambem principalmente pela estrada ferrea do seu nome.

§ 4.°

A freguezia de Santo Antonio dos Guarulhos, mais extensa em territorio que as anteriores, deriva o seu nome de uma aldea de indios coroados, mais propriamente denominados Guarús, que se haviam fixado em uma pequena eminencia, na margem septentrional do Parahyba, 3 k. acima da então villa de S. Salvador.

Eram estes indios tão ferozes como os seus parentes, os goytacazes. D'elles relata o general Abreu e Lima na sua Synopsis chronologica que nos annos de 1757 e seguintes fizeram grandes incursões devastadoras pelas capitanias do Rio de Janeiro e Minas-Geraes. O zelo porém e a actividade do p. Angelo Pessanha, distincto campista, conseguiram que fizessem pazes com os portuguezes por um pacto, que foi por elles de tal modo respeitado que, quando, dez annos depois, os botocudos accommetteram o territorio de Minas, no tempo do governo de Luiz Diogo Lobo da Silva, aquelle prestigioso sacerdote chamou-os em auxilio dos Mineiros e elles cahiram com tal impeto sobre os invasores que os destroçaram, obrigando-os a retirarem-se para além do Rio Doce.

Da séde da antiga Aldea, nome este que ainda conserva, apenas subsistem as ruinas da primitiva capella, que ali levantára o p. Angelo Pessanha para congregar os indios, capella que, ainda depois da remoção d'estes para S. Fidelis, serviu de matriz até aó anno de 1874. Já antes de 1841 estava ella arruinada, segundo informa no seu Relatorio d'esse anno o major Galdino Justiniano da Silva Pimentel, chefe da 4. secção das Obras Publicas da Provincia, restando apenas de pé as paredes da frente e lateraes, cheias de fendas e desaprumadas. Notas que tenho dão-n'a como tendo desabado em 1832. Estas ruinas serviam desde então de cemiterio, passando os officios divinos a celebrarem-se provisoriamente em uma casa immediata, acanhada e mal construida apenas a cruz solitaria e tosca que a encimava dizia aos que passavam que ali estava a matriz de uma populosa, vasta rica freguezia. Si a grandeza da religião do Christo em

e

16

P. II-VOL. XLIX

nada se amesquinhava com tal tabernaculo, pois que o seu instituidor nascêra em um estabulo, a grandeza do culto externo, que exige a religião do Estado, sentia-se de certo rebaixada. Este estado de cousas prolongou-se até 1874, em que, a esforços do actual vigario, o conego Joaquim José Pacheco Guimarães, se concluiu a edificação da nova matriz, alguns kilometros abaixo da primitiva, do mesmo lado, fronteira á cidade. Esse templo foi aberto ao culto nos dias 6,7 e 8 de setembro do referido anno. A proposito d'elle dizia eu na Lux!, contemporanea do facto:

<< Si a edificação da egreja tão perto assim da cidade attende ou não ás necessidades espirituaes mais urgentes da população da extensa freguezia, apesar da sua recentissima divisão em tres-na de Guarulhos propriamente dita, na de Santo Antonio dos Cachoeiros e na de N. Senhora da Conceição do Travessão, decidam os competentes ».

Esse novo templo tem as convenientes proporções para o piedoso fim a que se destina; mas não se distingue, como obra d'arte, nem pelo aspecto externo, nem por suas decorações interiores.

Não obstante a sua divisão, ainda é esta parochia a mais extensa do municipio, pois apresenta uma superficie de 800,88 k. quadrados. Possue 3.088 casas habitadas e 354 deshabitadas.

Defronte da cidade tem a parochia um pequeno povoado de cêrca de 200 casas, na extensão de 2 kilometros, sobre a orla esquerda do Parahyba, povoado que da comporta do mallogrado canal do Nogueira se prolonga rio acima até a foz do Muriahé, de onde tende para o Travessão. Nesse espaço está a nova matriz.

Pela ponte de ferro que atravessa o Parahyba envia a freguezia á cidade, dos seus productos agricolas e industriaes os que vão pela Estrada de Ferro de Carangola ou pelo rio Muriahé.

Cêrca de 50 metros da margem do Parahyba vê-se a estação central da ferreo-via de Carangola, em territorio da parochia e quasi em frente à ponte.

Ha na freguezia de Guarulhos, no lugar denominado Lagoa das Pedras, outro pequeno povoado.

Ha ainda outro nucleo de povoação no Travessão, provido de uma capella consagrada á N. Senhora da Conceição do Nogueira.

A importante estrada de ferro acima referida percorre de um extremo a outro toda a freguezia. Já d'ella e de suas estações se tratou em outra parte d'esta memoria.

A população da parochia se compõe de 14,309 habitantes. D'estes são livres 6,484 (contando com 290 ingenuos), isto é, 8 habitantes livres por k. quadrado, e escravos 7,825. Segundo o cultivo intellectual, sabem lêr 1,356 e são analphabetos 5,128, sem metter em linha de conta a população captiva. Todos estes dados e os seguintes se referem ao anno de 1880.

Mantem-se na freguezia duas escolas publicas para o sexo masculino e uma para o feminino. Estavam em 1880 matriculados 537 alumnos, incluindo 99 ingenuos, nas primeiras; nas segundas a matricula era de 410, incluidas 24 ingenuas. A matricula total era, como se vê, de 947, mas 823 não concorriam ás aulas !

O terreno da freguezia de Santo Antonio dos Guarulhos, que é na sua quasi totalidade montanhoso e arenoargilloso, principalmente no Sertão do Nogueira, presta-se, no alto Muriahé, á cultura do café, que já tem sido exportado nestes ultimos tempos em não pequena proporção. No Nogueira dá bem a mandioca, que é alli cultivada em larga escala. Comquanto estejam as suas mattas em grande parte devastadas, d'ellas se extrahem ainda annualmente perto de 100 duzias de taboado de peroba.

Tem esta freguezia 61 fabricas ou engenhos de assucar, que é o sen principal ramo de agricultura; d'estas merecem especial menção a da snra. viscondessa do Muriahé; a da Sapucaia, do snr. barão de Santa Rita; a de Santa Rosa, do dr. Paulo Francisco da Costa Vianna; a de Sant' Anna, do snr. Francisco Ferreira Saturnino Braga, dirigida por seu digno filho F. F. Saturnino Braga Junior; a de S. José, do snr. Antonio Francisco Torres Junior, que tambem possue um bello estabelecimento para a distillação do alcool, montado por Pascal Roussoulières;

« VorigeDoorgaan »