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Thracia, compõe-se de 60: a descripção de Naxos, Donysa, Olearo, Paros e das Cycladas em geral, até chegar-se a Creta, compõe-se de 8: a estada em Creta, com a pintura da peste, que Mr. Tissot queria estirada, compõe-se dè 11: a bella descripção da escuridade e alguns phenomenos nauticos, até chegar-se ás Strophades, compõe-se de 18: a fábula das Harpyas, de 54: a continuação da viagem, na qual avistam Zacynthos, Dulichio, Samos, Neritos, Ithaca e reinos Laercios, compõe-se de 6 : a visitação do templo de Apollo em Leucate, a celebração do lustro e dos votos, e a sahida daquelle pôrto, comprehendem 17 Buthroto, encontro de Andromacha, encontro de Heleno, a maviosa pintura da pequena Troia, o festim, a consulta de Enéas quando resolvem partir, compõem-se de 78: a descripção de Scylla e de Carybdis, compõe-se de 23: a despedida saudosa, os presentes de Heleno, os de Andromacha a Iulo, a sua pathetica falla, resposta de Enéas (na qual o poeta allude habilmente ao facto de têr passado Buthroto a ser colonia romana e á fundação de Nicopolis por Augusto), tudo isto compõe-se de 43 : a viagem até enxergarem a Italia, a exploração dos ventos e dos astros por Palinuro, oração de Anchises, desembarque, visitação do templo de Minerva, adoração a Juno segundo os preceitos de Heleno, comprehendem 42, incluída a descripção do porto Salentino: a sahida, o que se passa ao se approximarem de Carybdis, a vista do templo de Juno Lacinia, de Caulon, do Scyllaceu e a do Etna ao longe, contem-se em 20: a chegada a terra dos Cyclópes, pintura do Etna, encontro de Achemenides, caverna de Polyphemo, emfim todo esse magnifico e variado episodio contêm-se em 114: a explicação de Achemenides sobre as differentes paragens, o que vai occorrendo até ao porto de Drépano, mais a conclusão da narrativa, contêm-se em 34: o remate do poeta e a transição para o livro seguinte contêm-se em tres versos. Ora, sommando todos estes em 547, e sendo o livro de 718, segue-se que os reprovados sam 171. Se aos 547 ajuntarmos os que eu provei que foram injustamente censurados, a consequencia he que o livro in da Eneida he bellissimo como todos os outros; e então o leitor apreciará devidamente a crítica de Mr. Villenave, assim concebida: «Mais le tombeau de Polydore (vem Polymnestor por êrro de imprensa), la fable des Harpyes, le touchant épisode de la veuve d'Hector, le tableau de l'Etna et celui des Cyclopes, où le poëte l'emporte sur Homère, surtout la richesse du style et l'harmonie des vers, empêchent de reconnaître ce qui manque trop souvent de grandeur aux peintures et d'éclat à l'imagination (!!!). » Peço ao leitor que repare que as passagens approvadas, e louvadas nesta futil censura, já comprehendem a maior parte do livro.

LIVRO IV.

Já traspassada, em vêas cria a chaga,
E se fina a rainha em cego fogo.

O alto valor do heroe, sua alta origem
Revolve; estampon n'alma o gesto e as fallas;
Do cuidado não dorme, não socega.
A alva espanca do pólo a noite lenta,
Lustrando o mundo a lampada phebéa;
Louca á irmă confidente então se explica:
« Suspensa que visões, Anna, me aterram?
Que hóspede novo aporta ás nossas plagas?
Quam gentil parecer! que acções! que esfôrço!
Creio, nem creio em vão, provêm dos deuses.
Temor vileza argúe. Dos fados jôgo,
Ai! que exhaustas batalhas decantava!
Se em grilhões nupciaes não mais prender-me
Fixo não fôsse em mim, dêsque trahiu-me
Com morte o amor fallaz; ao tóro e fachas
Tedio se não tivesse, eu talvez, Anna,
A esta só culpa succumbir podera.
Depois que o meu Sicheu me foi roubado,
Mão fraterna os penates cruentando,
Este unico abalou-me, eu t'o confesso,
E a vontade impelliu-me titubante:
Sinto os vestigios da primeira chamma.
Mas engula-me o abysmo, antes me arroje
Do Omnipotente um raio ás sombras fundas,
Pallidas sombras do ennoitado inferno,

Que eu te viole, ó Pudor, e as leis te infrinja :
Quem a si conjuntou-me e a flor colheu-me,
Comsigo minha fé sepulto guarde. »

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Cala, e em seu seio as lagrimas borbulham.
E Anna: «O' mais do que a vida irmã dilecta,
Murcharás teu verdor, viuva e triste,

Sem de Venus gozar, sem doces filhos ?
Crês disto a campa cure e a cinza e os manes?
Bem: magoada enjeitaste esposos tyrios,
E ha pouco larbas e outros que em triumphos
Africa nutre pois tambem repugnas
Ao grato amor? Nem onde estás reflectes?
Cá te cérca a pugnaz Getulia invicta,
E a Syrte inhospita e Numidia infrene;
Lá por sequiosa a região deserta,

E á larga soltos os Barceus furentes.

Das guerras que direi que em Tyro engrossam ?
Das ameaças do irmão? Divino auspicio,
Mercê de Juno, esta arribada julgo
Das quilhas de llion. Como a cidade
Verás crescer? com tal consórcio, quantos
Reinos pular? A que auge irá das armas
Teucras a glória punica ajudada?
Venia, irmã, pede aos céos, e abençoados
Os sacrificios, o hóspede agasalha;

De o retêr causas tece, até que as ondas

A invernada embraveça e Orion chuvoso,

E, em destrôço os baixéis, embrusque o tempo. »
Com taes razões lhe atiça o interno incendio,

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E alenta de esperança o ânimo dubio,

E desata o pudor. Primeiro correm

Aos delubros, e a paz nas aras catam :
Bimas ovelhas rituaes degollam

A'legifera Ceres, mais a Phebo

E ao pae Lieu, mormente a Juno, guarda
Dos vinculos jugaes. Taça na dextra,
Por entre os cornos de alvadia vaca

Verte-a Dido pulcherrima, ou dos deuses

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60

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Passêa em face pelas aras pingues;
Sagra o dia a oblações; consulta, as rezes
Pelos peitos abertas, respirantes
Entranhas, congoxosa. Ai! nescios vates!
Delubros, votos, á paixão que montam?
Roe as medullas molle flamma, e a chaga
No amago vive tacita. A raínha
Arde insana, e infeliz vaga a cidade;
Qual cerva, a quem de sibilante setta,
A atirar o pastor nos cressios bosques,
Varou de longe incauta, e inscio o volatil
Farpão lhe prega e deixa: ella na fuga
Discorre as selvas e dictéas matas;
A lethal canna ao lado se lhe aferra.
Ora o guia entre as obras, e as riquezas
Tyrias e prestes a cidade ostenta :
Vai fallar, e se atalha a voz troncando;
Ora, o Sol descahindo, á mesa os casos
D'Ilio outravez sem tino ouvir demanda,
E da narrante bôca outravez pende.
Já retirados, quando á Lua obscura
Encolher toca o lume e somno infundem
Cadentes astros, só na vacua sala

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Mesta ao sofá se encosta em que elle esteve :
N'ausencia o escuta e o vê n'ausencia; ou tendo
No gremio Ascanio, enleva-se na imagem
Do pae, como illudindo o amor infando.

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Nem medram tôrres, nem se exerce em armas

A mocidade; os portos não concertam,
Nem, defensas da guerra, os baluartes;
Impendentes merlões, fábricas param;
Já não labora a máchina altaneira.

Tantoque a persentiu da peste iscada,
Sem á paixão a fama obstar, Saturnia,
Cara esposa de Jove, nestes termos

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Commette a Venus : « Tu e o teu menino,
Certo, eximio louvor e espolios amplos
Ganhais e gran' renome, a ser vencida
Uma mulher por dolo de dous numes!
Não me escapou, receaste os nossos muros,
D'alta Carthago a estancia te he suspeita.
Onde isto irá? tantas contendas onde?
Porque antes não firmamos paz eterna
E ajustes conjugaes? Lograste o intento:
Ama Dido, o furor nos ossos prende.
Os povos em commum, partindo o auspicio
Rejamos pois servir marido phrygio,
Com seus Tyrios dotar-te, se lhe outorgue.»>
Venus, sentindo-a cavillar, da Italia
Porque o reino transfira ás margens libyas,
Retorque assim: «Quem ha que a tal se furte,
Ou doudo queira guerrear comtigo?

Seja o que lembras, se a fortuna o approva.
Mas traz-me o fado incerta se he do gôsto
De Jupiter manter n'uma cidade
Com os de Troia os Tyrios, ou lhe apraza
Os povos confundir ou federal-os.
Es consorte com preces a ti cabe
Tentar seu pensamento. Anda, eu te sigo.

<< Tómo isso a mim, replíca a real Juno:
De effeituar o que urge ao plano attende..
A miserrima Dido ir com Enéas
Caçar propõe-se, mal Titan no oriente,
O orbe arraiando, crástino desponte.
Eu com basto granizo atro chuveiro,
No açodar-se o tropel de alãos e tralhas
Cingindo a mata, soltarei das nuvens,
Crebros trovões estremecendo o pólo.
Derramada a companha, ha de abafal-a

Noite opáca: o Troiano ir-se-á com Dido

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