os de Rufras, hoje Ruvo, da banda da Basilicata; os de Batulo e Gelenna, lugares desconhecidos; e os de Abella, perto de Nola, ao norte do Sarno, hoje Avella-Vecchia, fertil nas nozes que della tiraram o nome de avellans. Ufente commandava os de Nersas (e não Nursia, cujos guerreiros eram guiados por Clauso), lugar desconhecido; e tambem os Equicolas, ou Equos, ao sul dos Sabinos e ao norte dos Hernicos, nas montanhas em que nasce o Teverone, bem como as aguas Marcia e Claudia que os Romanos trouxeram á cidade, por um aqueducto de vinte leguas ainda subsistente. - O sacerdote Umbro commandava os de Marrubia, hoje Morrea, capital dos Marsos, ao pé do lago Fucino; povos que passavam por feiticeiros e curadores de cobras, como hoje se dizem muitos pretos no Brazil. Perto ficava o bosque de Angicia, ao occidente do lago Fucino, e junto ao bosque he o moderno Luco. Turno, general em chefe, commandava especialmente os de Ardea, que o poeta chama Argivos, por ter sido fundada pela Argiva Danae, filha de Acrisio; parte dos Auruncos, que habitavam com os Volscos e outros desde o Tibre ao rio Liris, hoje Garigliano; os seus Rutulos, entre o Numico e a cidade de Ancio, que pertencia aos Volscos; os Sicanos, não os da Sicilia, mas um dos povos do Lacio já extinctos, e por isso o poeta os chama veteres ; os Sacranos, povos desconhecidos, sobre os quaes ha conjecturas mais ou menos arriscadas ; e os Labicos, da cidade hoje dita Zagaruolo, o qual deu seu nome á via Labicana, e estava arruinada no tempo de Virgilio. Satura he porção da Lagoa Pontina, que se estende desde o lugar tres tabernas, hoje Cisterna, até Terracina; e recebe dous riachos, o Stura ou Astura, e o Ufente ou Ofanto.
Camilla commandava os seus Volscos. O poeta encerra este livro com a descripção da ligeireza desta raínha, e nos deixa gravada na lembrança tal particularidade, que servirá opportunamente. Nesta descripção chama-se o bastão que ella trazia pastoralem myrtum; que eu traduzi myrteo cajado, omittindo o adjectivo pastoral, porque em portuguez cajado só por si quer dizer o bastão do pastor.
Mal Turno, os cornuos rouco estrepitando, Pendões arvora no laurente alcaçar,
E os brutos afoguêa e incita as armas, Revôlto o Lacio em trepido tumulto Se conjura, e esbraveja a mocidade. Chefes Messapo e Ufente, o atheu Mezencio, Organizando levas, despovoam
Toda a campanha. A requerer o auxílio Do gran' Diomedes, Venulo deputam ; A informar que, abordado ha pouco Enéas, Os vencidos penates recolhendo, Rei se inculcava por querer dos fados; Que attrahe cem povos, e n'Ausonia lavra Seu prestigio. Ao que tenda, e o que resulte Se a fortuna o insuffla, he manifesto Mais a Diomedes que a Latino ou Turno. Derramada a notícia, o Laomedoncio Em cuidados fluctua, e a mente vaga Divide e agita, a meditar em tudo: Como em bacia d'agua o tremulante Raio da Lua ou Sol, repercutido, A regyrar voluvel, monta aos ares Do summo tecto os artesões ferindo.
Noite era; e gados, aves e alimarias, Quando lassos na terra adormeciam, Dos perigos afflicto, á riba Enéas, Tardo repouso aos membros concedendo, Sob o eixo do céo frio recostou-se. Deus do sítio, a surgir do leito ameno, Entre alemos se antolha o Tiberino:
Ao velho tenue bysso um verdoengo Sendal compõe, e o touca umbrosa canna. Ao Teucro falla e o peito lhe mitiga :
⚫ Divo renôvo, que dos Gregos salva Pérgamo eterna á Hesperia nos transportas, Nestas laurentes veigas esperado,
Casa tens certa, certos os penates; Avante! não te assuste a feia guerra: O tumente furor cessou dos deuses. Porque isto um sonho futil não reputes, Em litoreo azinhal grande alva porca Deitada encontrarás parida, e em roda Nella a mamar trinta alvos bacorinhos. Descanso aqui tereis; trinta annos vôltos, Aqui fundando-a Iulo, deste agouro Alba derivará seu claro nome.
Não dubio o vaticino. O modo em summa Te ensinarei de conseguir victória.
Lá d'Arcadia emigrados que de Evandro
Sob a real brandeira aqui vieram,
Do bisavô Pallante por memoria, Em montes assentaram Palantéa :
Com elles anda o Lacio em guerra assídua; O arraial em commum, liga-te a elles.
Eu, por meu rio e margens te ajudando, Farei que a remos a corrente venças. Sus! roga a Juno; assimque os astros caiam, Devoto e supplice, ó de Venus filho, O odio minaz lhe adoça: ao triumphares
Me honres depois. Sou eu que em ampla chêa Premo estas bordas, sulco e adubo as vargens, Aos céos gratissimo, o ceruleo Tibre. Meu paço he cá, de altas cidades mano. >>
Dice, e immergiu-se: a noite a Enéas deixa.
Desperto olhando ao lucido oriente,
Nas côvas palmas, como he uso, apanha Do licor fluvial, dest' arte orando:
« Nymphas, laurentes nymphas, geradoras Dos mananciaes, com santa vêa ó Tibre, Recebei vós a Enéas, resguardai-me.
Qualquer que seja a fonte, ou lago ou solo, Donde formoso nasças e onde as nossas Penas, rio cornígero, apiadas, Sempre terás meu culto, offrendas sempre, Tu das aguas hespericas monarca. Assim me valhas e os augurios firmes. >> Da frota escolhe então biremes duas, E de armas e remeiros as fornece. Subito, oh maravilha! entre arvoredos, Deitada em verde ribanceira, avistam Com sua alva ninhada uma alva porca ; E a ti, maxima Juno, o pio Enéas Com todo o parto a immola e te offerece. Durante a noite amaina o inchado Tibre, E em tacito remanso refluindo, Qual tanque fica-se ou lagoa estôfa, Que não obste ao remar. Crenado o pinho, Com propício rumor, no equoreo plaino Ligeiro se deslisa; e a onda e o bosque Arnezes a fulgir de longe estranha, Estranha os bucos a nadar pintados. Afadigando á voga a noite e o dia, E os estirões e as vóltas alcançando, Sob a folhuda abobada, cortavam No aquoso espelho as verdejantes ramas.
Igneo o Sol meridiano, he quando enxergam Uns muros, um castello e tectos raros, De Evandro haver mesquinho; que a pujança Romana elevou tanto e aos céos o iguala: Viram proas e ao burgo se approximam.
Acaso o arcade rei, n'um luco em face,
O Amphitryonio festejava e os divos. Solemne, o sen Pallante, a flor dos jovens, Pobre senado, o incenso ministravam, Em cruor tepido a fumar as aras. Surdir vendo os baixéis pela espessura, E o nauta aos mudos remos debruçar-se, Das mesas todos erguem-se assustados. Veda romper-se o rito o audaz Pallante; Saca uma lança e voa, e de afastado Outeiro: « O que tentar vos fórça, ó moços, Ignotas vias?' de que partes vindes?
Quem sois? onde ides? paz quereis ou guerra? Maneando Enéas da alterosa pôpa Fausta oliva, responde: « Phrygios dardos Te apresento e inimigos dos Latinos, Que em barbara aggressão nos repulsaram. Saiba teu rei que os principaes Troianos Lhe vem pedir junção e apoio de armas. » Logo a tal nome attonito Pallante : « Salta, e a meu pae dirige-te em pessoa; Quem sejas, te agasalha em nossos lares. >> E a mão lhe aperta, cordial o abraça.
Trasposto o rio, ao bosque se encaminham; E amigavel o padre: «Optimo Evandro, Timbre dos Graios, a fortuna enseja Que, ennastrado este ramo, eu te supplique; Certo não te hei receio por Arcadio. Chefe acheu, dos Atrídas consanguíneo : Meu gôsto e leal peito, oragos santos, Parentesco de avós, tua alta fama, Por fatídico impulso, a ti me enlaçam. Dardano, de Ilio autor, de Electra nado,
Para os Troas passou-se, a Grecia o affirma ; Do estellifero Atlante Electra he prole :
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