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de tão sublimes obras feneça ou se perca a memoria que deve ser eternisada, mas antes ordeneis lhe alce um padrão a voz dos varões doutos, á qual nem o dente roedor do tempo no seu curso silencioso vale a consummir. E, se daes favor ao merecimento, porque não o haveis de dar á gloria, companheira do merecimento? E se ganhaes por mão a todos os monarchas em generosidade de brios e grandeza de animo, esta vida humana tão breve, tão instavel, que de tão escassas e mingoadas esperanças depende em tão angustiados limites é estreitada, porque a não haveis de prolongar com a carreira immortal de im. marcessivel gloria? Porque não ha-de a memoria de feitos grandiosos transmittir-se aos vossos successores mesmos, para que essas illustres façanhas que jamais encontrarão segundas, lhes aproveitem servindo lhes tambem de ensinamento e norma? Porque não haveis de deixar um como typo a vossos filhos e futuros netos, para que nenhum degenere jamais da perenne e abonada virtude dos seus maiores e a tenham diante dos olhos como traslado para se lhes formar o caracter e educar o coração segundo a principes convém? Finalmente porque não hão-de tambem os outros reis que nascerem sob os desvairados climas do mundo, haver de vós, senão que imitar, ao menos que admirar? Ora fazer extremadas proezas e não lhes dar realce e luz com as lettras o mesmo vale que procrear filhos de peregrina gentileza e não lhes dar sustentação. Não aconteça, não, rei excelso, que essas vossas glorias, tão credoras da immortalidade fiquem escondidas n'aquelle vasto acervo da nossa fragilidade, em que jazem sepultados os trabalhos de todos quantos não houveram os suffragios dos varões de saber prestante. Acordae-vos de Alexandre, acordae-vos de Cesar, os dois nomes principaes que a fastosa antiguidade nos alardeia. De um, assás memorada é a exclamação que soltou ao pé do tumulo de Achilles, chamando afortunado ao mancebo por ter encontrado em Homero o pregoeiro das suas glorias. O segundo, ainda quando estava apercebido para travar combate, e quasi que até no meio do estrondo das pugnas, com tal esmero compunha as memorias dos seus feitos, que nenhuma obra a critica julga por tão bem trabalhada que a purissima elegancia d'aquelle auctor lhe não leve a palma. A estes, logo, vós deveis, ao menos imitar, a estes a quem nos outros respeitos desmesuradamente vos avantajaes. O que vos acabo de dizer, comprehendereis que é a expressão da verdade e não a linguagem da adulação, quando para vós mesmo volverdes os olhos da vossa intelligencia soberana e tiverdes attentamente examinado os formosos titulosjda vossa gloria, magestade e poderio, e considerado reflectidamente a que fastigio estaes subido nas cousas humanas. De feito, ver-vos-heis rei da Lusitania, isto é (para resumir em uma palavra o que entendo), de um povo de romanos de que outr'ora numerosas colonias, segundo a historia refere, se achavam disseminadas n'esta região mais do que em nenhuma outra. Vereis em vós o libertador da Africa, essa terceira divisão do orbe, que desde já, pelos vossos esforços, solta dos ferros dos barbaros, exulta cada vez mais com a esperança de completa liberdade. Vereis em vós tambem o domador d'aquelle vasto e indignado oceano, a cujos primeiros embates o mesmo Hercules, o subjugador do mundo, enfiou. Reconhecereis em vós o defensor da santa fé christà e da verdadeira religião,

e o mais potente arbitro da paz e da guerra contra a perfidia de Mahomet, alagando só com a vossa magestade, aquella pestilencial furia e acabando as guerras mais consideraveis só com o terror do vosso nome, só com a maravilha do vosso valor. E ao mesmo tempo, senhor das chaves de um novo mundo, como que abrangeis em um punhado os seus numerosos golfos e os promontorios e as praias e as ilhas e os portos e as praças e as cidades á beira-mar, e quasi tendes nas vossas mãos nações innumeras, aonde, comtudo, nem a propria fama com as suas azas tão velozes havia até então chegado. E quão grandioso não é ver os reis mais ignotos arderem em desejos de vos visitar, vene. rar as vossas pisadas, e correrem açodados a ajoelhar aos vossos pés e a receberem á porfia das vossas mãos tão poderosas pela fé como pelas armas as aguas purificadoras do baptismo?! e ver, espertados pelo amor de uma virtude jamais ouvida dos antigos seculos, os habitantes dos mais apartados confins da terra acudirem apinhados á vossa presença, e já todo o meio-dia, arrancado do fundo das suas moradas, dar-se pressa a correr venerabundo ante vós, para de mais perto contemplar esse semblante celestial, a auréola de gloria que vos adorna a regia fronte, essa magestade, fiel transumpto da divina?! Com taes grandezas venha alguem pôr em parallelo a tomada de Babylonia, bem que ufana dos seus muros de tijolo, a róta dos barbaros do oriente, já do proprio natural tão fugazes! Venha pôr em parallelo a provocação, não muito esforçada das iras do Scytha nomada, vagando por dilatadas campinas, comtanto que não lance tambem á conta de louvor o assassinato, em meio dos festíns, dos mais caros amigos, nem a adopção de estrangeiros costumes e desdourosas adulações! Ponha em parallelo tambem o vencimento das Gallias a custo subjugadas ao cabo de dez annos, ou outros feitos inferiores a este comtanto que não tenha encomios para o sangue de concidadãos e parentes barbaramente vertido por todo o orbe! Assim que, rei sem par, vós sobre todos (estoure embora a inveja), vós sobre todos sois digno de eternas honras. A vós, primeiro do que a ninguem, devem de ser consagradas as nossas vigilias, quero dizer, as de todos quantos somos sacerdotes das Musas. Por tal razão (se, homem desconhecido, mas a vós mui dedicado, encontro alguma fé junto á vossa pessoa), seja incumbido, eu vos conjuro, a sujeitos idoneos o encargo de pôr em memoria (sem duvida que interinamente), em qualquer lin. gua, em qualquer estylo o assumpto tão ubertoso dos feitos praticados por vós e pelos vossos, obra que, mais tarde, tanto os outros em quem ferve o mesmo enthusiasmo, como tambem nós mesmos, envidando todas as forças, hajamos de polir e aperfeiçoar. Na verdade, pedi, não ha muito, a estes subditos vossos que estão aqui, mancebos de subido talento e elevado caracter, os filhos de Teixeira, vosso Chanceller-mór, que por sua intervenção me fossem ahi copiadas as memorias (se é que existem) dos vossos feitos: prometteram elles desempenhar-se cuidadosamente no encargo em respeito da obrigação que devem ao seu preceptor; todavia não quiz eu faltar a mim proprio, mas assentei de vos endereçar eu mesmo esta carta, rei mui indulgente e clemente, a quem já posso dar tambem o nome de meu, querendo antes poder ser arguido de arrojado, se escrevesse, do que de apoucado de animo, se me conservas

TOMO II.

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se silencioso. No que respeita a minha pessoa, não é, certo, ordinaria a minha condição, mas, na profissão das lettras, tambem alguns crêem que não é de todo inferior a minha reputação. Quasi de menino fui cu criado (e porventura que esta circumstancia virá a proposito) no seio da honesta familia d'aquelle varão illustre, o primeiro personagem na sua tão florente republica, Lourenço de Medicis. Não cedendo a ninguem em dedicação á vossa pessoa, soube elle, fallando-me de vós, accender em mim enthusiasmo tão ardente pelos vossos merecimentos, que dia e noite, eu não largo de pensar no pregão dos vossos feitos, e o mais fervoroso voto que eu agora faço é que me seja outorgada força, poder e finalmente ensejo, para que o vosso nome tão digno de divinos elogios, os testemunhos da vossa piedade, integridade, rectidão, temperança, prudencia, juizo, os da vossa justiça, fortaleza, providencia, liberalidade e grandeza de alma, e emfim os de tantas obras, tantas e tão eximias façanhas vossas, tenham monumentos fieis levantados, ainda que seja por mim, na lingua latina ou grega, de modo que não haja vicissitude de humanos acontecimentos, nem assalto da varia e inconstante fortuna nem vetustade de seculos que valha a extingui-los.

D. João por graça de Deus, rei de Portugal e dos Algarves, d'aquem e d'além mar em Africa, e senhor de Guiné, ao mui douto varão e prezado amigo, Angelo Policiano, saude!

A vossa agradavel carta, que já ha muito li, e, sobretudo o que amiudadas vezes nos tem referido o nosso querido Chanceller-mór João Teixeira, me deu cabal conhecimento de quanto vos interessa a nossa gloria (se em cousas hu manas alguma existe) e quanto desejaes salvar do olvido com as vossas lettras o nosso nome e feitos. Tal vontade, ainda que é uma prova assaz clara de entranhado affecto e summa deferencia, todavia parece-nos que nasce ainda mais da bondade do vosso coração, da agudeza de ingenho e da copia de saber, que miram a alvo mais remontado. Assim que nos sentimos grandemente penhorados de vós, e, quando o tempo e as circumstancias o demandarem, testemunharemos mais amplamente o nosso agradecimento, esperando que não hajaes de vos arrepender da affeição que nos dedicaes. Respondendo em bre ves termos ao assumpto da vossa carta, dir vos-hemos que somos gratos so bremaneira ao offerecimento que tão frequentemente nos fazeis dos vossos serviços e affectuosa diligencia para nos alcançardes a immortalidade, e estimamo-lo. E para pôr em effeito o intento, teremos todo o cuidado de ordenar que a nossa chronica, que, seguindo o uso do nosso reino, mandamos escrever em lingua vernacula, seja composta no idioma toscano ou pelo menos no latim commum, enviando-vol-a depois, o mais depressa que ser possa, para que vós, sem vos afastardes do caminho da verdade, assegurando a nossa memoria, a adorneis com as graças e gravidade do vosso estylo e com a vossa erudição, e a aperfeiçoeis de forma que, ao menos com o auxilio da vossa eloquencia, se torne digna de ser lida. Com effeito, muito releva (e melhor o sabeis) o estylo

em que é recontado cada feito, embora illustre. Porquanto, assim como a experiencia mostra que as comidas melhores de natureza, se houve menos aceio em as guisar, são avisadamente engeitadas, assim a historia, se lhe fallecem as devidas galas e donaire proprio, havemol-a por sem merito e merecedora de que a engeitem. Defeitos d'esta ordem, porém, não ha que receial-os, se fôrdes vós, sujeito de tão subidas partes e tão versado em todas as boas lettras, quem haja de tomar a peito a historia dos nossos feitos. Esta é pois a nossa intenção. Resta, Angelo amigo, que aos filhos do nosso Chanceller-mór, fidalgos da nossa casa, consagreis os maiores disvelos. Sem duvida que a vossa bondade não havia mister recommendação para assim o fazerdes espontaneamente, comtudo, encarecidamente vos rogamos que por nosso respeito tenha ainda algum augmento o vosso zelo. E na verdade a elles deveis toda a gratidão, porque o pae e os filhos, aquelle com os louvores, estes com os testemunhos provadissimos do vosso saber, não cessam de vos exaltar, fallando-nos de vós, e de fazer chegar até estes confins da terra, a fama do vosso nome, o que não faz pouco em prol da vossa gloria e reputação. Mas aos proprios mancebos nós damos os emboras, por lhes ter cabido o viver em tempo em que da fonte abundante da vossa sciencia possam beber alguma instrucção, para que, servindo primeiro a Deus e depois a nós, hajam de merecer e conquistar tanto a bemaventurança celeste, como a terrestre.

De Lisboa, aos 23 dias do mez de Outubro de 1491.

1739) POLO (GASPAR GIL).

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E. La Diana enamorada, cinco libros que prosiguen los VII de Jorge de Montemayor por · Madrid, en la imprenta de D. Antonio de Sancha, 1778, 8.o, 523 pag. Nueva impression con notas al canto de Turia. Madrid, 1802.

É mui interessante o prologo, que precede esta obra, mas não me foi possivel traduzil-o por não ter um exemplar á minha disposição. O certo é que Jorge de Monte Mayor, (assassinado no Piemonte), é um dos portuguezes que mais honra nos dão no estrangeiro.

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E.

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Maresciallo duca di Saldanha e l'Antéomeopathie, ó difeza expositiva della dottrina di Hahnemann. Roma. 1864.

1742) PORTUGAL: A review of the causes, tendency and progress of the revolution, which commenced in Oporto, 1720, etc. London, 1821, in 8.o

1743) PORTUGAL erinnerungen aus dem Jahre, 1842. Mainz. 1843. 8.°

1744) POUGINS (CHARLES). - Membro do Instituto Real de França,

e auctor do Thesouro d'Origens e do Diccionaro grammatical da lingua Fran

ceza.

Faz os maiores elogios ao Diccionario da lingua Portugueza publicado pela Academia Real das Sciencias, e diz: «Vous imiter (fallando da nossa Academia) vous suivre, c'est le moyen de ne point errer» - M. da Academia Real das Sciencias de Lisboa, vol., VI, parte 1, pag. XIX.

1745) PRIMATO (IL) DEL ROMANO PONTEFICE difeso contra il libro intitolado Della Potestá dei vescovi circa le dispense, dal Pe. Antonio Pereira, e tradotto in ital. nel 1767. Ravenna 1769, 12.o

1746) PROCÉDURES CURIEUSES DE L'INQUISITION DE PORTUGAL contre les francs maçons dans la vallée de Josaphat. 1793, 8.

* 1747) PYRARD (F. DE LAVAL).

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E. — Voyage contenant sa navigation aux Indes Orientales, Maldives, Moluques, et au Brésil. Paris, L. Billaine, 1679.

As viagens de Pyrard são mui frequentemente citadas na Historia Natural de Buffon. A traducção d'estas viagens, que se publicou em Goa, é trabalho do Ex. Sr. Joaquim Heliodoro da Cunha Rivara.

1 Malte-Brun.-Geographie, vol I. pag. 138.

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