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trabalho, e estudo, com que este judicioso Escriptor tratou estas cousas. Mas parando pela desordem dos tempos (assim costumam chamar á negligencia, e incuria dos homens) a impressao dos Commentarios de Faria na oitava Ecloga de Luis de Camões; chegando aqui, nos achámos embaraçados, e suspensos, sem ter hum Exemplar (tendo muitos, e de differentes Edições) livre de erros, de que nos podessemos valer, e que nos servisse de norte na conferencia dos versos a que chamam menores; das Cartas, Comedias, etc. do Poeta, que ainda nos restavam. Nesta consternaçao, e perplexidade, lembrando-nos de que na Livraria do Real Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, se conservavam os Originaes dos Commentarios do mesmo Manoel de Faria e Sousa, que em outro tempo, naõ sem hum consideravel emolumento nosso, haviamos tido por diversas vezes nas nossas mãos, procurámos ao Reverendissimo Senhor Fr. Vicente Barbosa, benemerito filho de Santo Agostinho, e da estimação dos Sabios, e ao presente di

gnissimo Bibliothecario daquella insigne Bibliotheca; o qual, certificado do que pertendiamos, ponderando as cousas á luz de huma recta razao, convencido de que o bem commum se deve sempre preferir ao particular; com huma benignidade propria da sua pessoa, e do seu caracter; e tendo tambem hum claro conhecimento do muito que o Público, e a Naçao interessa em semelhantes descobrimentos, condescendendo com os nossos rogos, nos facilitou o extrahirmos huma cópia do que alli se achasse de mais, e podia contribuir para o complemento desta nossa Ediçao; tanto de Obras pertencentes a Luis de Camões, como ao mesmo Manoel de Faria e Sousa seu Commentador.

Naõ he explicavel o contentamento que entaō tivemos, e ainda hoje temos, vendo que depois de passarem dous seculos, por diligencia nossa, appareciam Obras de Luis de Camões nao impressas; e que depois de tantas, e taō multiplicadas Edições, sahe desta nossa Officina huma, que (sem jactancia) mais que todas

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as antecedentes ha de acreditar a illustre memoria do nosso Poeta. Será eterno o agradecimento em que a Republica Litteraria fica a este sabio Religioso; e o seu louvavel zelo ficarà tambem servindo de documento áquelles, que com huma pertinaz avareza, inconsideradamente conservam ( para ninguem ver, e para o tempo consumir) no pó e no esquecimento, Manuscriptos de homens insignes, e que toda a sua vida trabalháram para utilizar a Republica, e a Patria, com monumentos de erudiçao, e de doutrina: sem se desenganarem de que esta fanatica soffreguidao, longe de lhes aproveitar, tem sido a causa da irreparavel perda de preciosos Originaes dos Barros, dos Coutos, dos Barretos, dos mesmos Farias, e de outros innumeraveis, estragados pela voracidade do tempo.

Mas deixando por ora de fallar desta desordenada, e perniciosa teima, (naõ practicada das Nações cultas, e eruditas) e voltando aos Manuscripts do incansavel Faria, nelles achámos as sete Eclogas, de que já acima fizemos

mençao, e aqui damos neste terceiro Tomo : cinco usurpadas (e impressas, aindaque com muita differença ) pelo plagiario Bernardes, e duas nunca impressas até ao presente. Em varios lugares dos seus Commentarios impressos affirma, e prova Manoel de Faria, que Luis de Camões compuzera mais de oito Eclogas; o que tambem nos instigou a fazer toda a diligencia para conseguirmos o ver os referidos. Originaes. Expondo a Sextina III., diz sobre a primeira Estancia : « El assunto desta Sex«tina és el mismo de la Egloga XV., que el « Poeta escriviò a la muerte de su querida Na<< tercia; y en essa Egloga se hallaran todos los « terminos que se ven usados en esta Sextina. >> Aqui mesmo sobre a 2. Estancia diz : « Todo « esto se vè en la Eglega XV. »

Commentando o primeiro verso da Ecloga VIII. faz o mesmo Faria mençaõ da Ecloga IX. No Discurso, que nos Commentarios impressos precede ás oito Eclogas, pag. 160., col. 2., num. 6., fallando de Luis de Camões diz: « Fue su contiemporaneo Diego Bernardes,

a.

«< que publicò muchas Eglogas, razonables en « lo rustico, las que pueden ser suyas; por« que las màs dellas usurpò el a Luis de Ca« mões; como lo mostrarè largamente en un Discurso, que precederà a la nona. » Nao só neste Discurso em muitos outros lugares dos Commentarios aos Sonetos, e sobre as Oi→ tavas a Santa Ursula, (usurpadas a Luis de Camões por este mesmo versejador) põe Manoel de Faria patente o plagio de Bernardes. Tambem achámos este Discurso, que Faria diz que havia de preceder á Ecloga IX., o qual damos aqui gostosamente ao Público, para que se veja a animosidade com que o bom Bernardes se aproveitou do trabalho alheio, para vender como proprio. E para que nao perca nada na nossa traducçao, ou nos digam se traduzio menos fielmente, irá na mesma energia Castelhana, em que seu Author o escreveo. Aqui conheceráo os nossos Leitores, que nao tem todo o conhecimento necessario em materia de estylos, o quanto atégora vivêram enganados com os Poemas de Diogo Bernardes. Tam

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