nou com a Rainha de Sivagy, que governava os Estados de seu marido na minoridade de dois filhos, que delle lhe ficárão, que querendo ella casar com elle, lhe entregaria as_referidas Praças, e a pessoa de Siva Raja. Ajustárão-se na proposta, e para poder cumprir esta segunda o convidou com fingimento de amizade, e pretexto de tratar o ajuste da entrega das Fortalezas, quizesse passar huns dias com elle em Culabo, no que o outro já convinha; mas avisado da traição com que se ordenava este convite, se escusou de ir visitallo, e ajuntando o maior poder a que se extendião as suas forças, desceo com o exercito contra elle. A primeira operação se encaminhou á restauração das Praças que Angriá presidiava, e com effeito havia já tomado algumas. O Vice-Rei aproveitando-se da conjunctura, tratou de persuadir a Siva Raja a continuar a guerra, e a mesma diligencia fez com o Rei de Sindy, que tambem estava queixoso de Angriá, que neste tempo

the havia tomado duas Praças, edestruido muitas povoações. Expedio juntamente por seu Embaixador á Côrte de Agra o Padre José da Silva, da Companhia de Jesus, para persuadir ao Grão-Mogor, entre outras cousas, quizesse ajudar a alliança destes Principes, e mandasse acabar com este inimigo commum, que tão atrevidamente havia profanado o res peito da sua grandeza.

Feitas estas disposições, em muitas das quaes trabalhou tambem o General do Norte D. Lopo José de Almeida, se vio o Vice-Rei precisado a mandar recolher Antonio Cardim Froes, com a Armada que sitiava a barra de Culabo, por lhe che garem noticias, que a do Immamo de Mascate se achava em Surrate porto do Grão-Mogor, e nos tinha tomado hum navio da China de Francisco Xavier Doutel, que alli se achava. Como as forças não erão tantas que se pudessem repartir, quiz obrar com ellas unidas, para com mais effeito poder empregar-se contra hum

inimigo, ainda mais perigoso, e de maior poder que o de Angriá, cujas operações, conforme lhe avisou o General do Norte, não podião na presente conjunctura causar ao Estado algum receio.

Recolheo-se Antonio Cardim Froes, depois de haver tomado duas embarcações, que navegavão para a Fortaleza de Culabo, huma com mantimentos, outra com roupas, e de haver impedido todo o commercio, e provimento áquelle inimigo no decurso de tres mezes, que esteve sobre a sua barra. Mas a incançavel vi gilancia, com que o Vice-Rei se applicava ao estudo da conservação do Estado, discorrendo que a distancia da Armada que hia a Surrate, podia dar atrevimento a Angriá para querer vingar-se, intentando a conquista de alguma das nossas terras, mandou aprestar a fragatinha S. Francisco de Assis, e embarcar nella o Capitão de mar e guerra Manoel Lobato de Faria, ordenando-lhe que passasse ao Norte, e accudisse com ella a toda

a parte, onde julgasse necessaria a sua

assistencia.

Partio o Capitão em Janeiro com vento favoravel, e chegando defronte da barra de Culabo, encontrou quatro palas, e nove galvetas de Angriá, todas bem guarnecidas, e com mais gente da que lhes dava a sua lotação; porque depois se soube lhes ajuntára a de outras embarcações que ficarão desarmadas. Apenas avistárão o nosso navio, fizerão véla sobre elle. O Capitão, que a não ter tanto valor, pudera recear, quando não a qualidade das embarcações, o número dellas sem bandeira (fingindo-se mercantil) se foi amarrando; mas de tal modo, que mostrava não podia navegar, desejando fugir-lhe. Era o seu animo attrahillos mais ao mar, onde pudesse ser senhor do vento, que lhe podia faltar na Costa. Logrou-se esta destreza militar; e tanto que os vio amarrados, voltou sobre elles, e os começou a bater com a sua artilharia tão destra, e tão utilmente, que depois de fazer nelles hum grande es

trago, e lhes haver morto muita gen te, os constrangeo a largar a empre za, fugindo vergonhosamente. O'Capitão os seguio até os metter pela barra de Culabo, e alli se deixou estar tres dias, desafiando os inimigos; mas vendo que ninguem sahia a pedir-lhe satisfação, continuou a sua derrota, e chegou a Baçaim, donde fez aviso do successo ao Vice-Rei, que o estimou muito e por carta lho mandou agradecer; fazendo-o mais singular a circumstancia de não haver perdido Soldado algum na pelėja, sendo muitas as balas com que a Armada inimiga o perseguia.

Entrando no porto de Mormugão obrigada do tempo huma embarcação do Canará sem passaporte, tendo-se-lhe acabado a licença, navegando sem a reformar, havia justificado pretexto para ser tomada por perdida. Considerando porém o Vice-Rei que era proprietario della o Governador de Mangalor valído do Rei de Canará e que convinha aos interesses do Estado dispensar por