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dicar-se a esse trabalho, como aliás desejava. Estas satisfações, dadas a um Publico illustrado, talvez que a alguem pareçam impertinentes; mas não o tem parecido assim ao Autor, que, como é de razão, conhece, e justamente aprecia as attenções e respeitos, que ao mesmo illustrado Publico são devidos.

Agora, como em recompensa deste trabalho, emprehendido para honra da Nação Portugueza; ¿porque não será concedido ao seu Autor o acrescentar aqui, que foi a este Escripto que elle devêo a benigna affeição, com que o honrou o illustre Prelado, Reformador Reitor da Universidade atrás nomeado, de cuja affeição verdadeiramente paternal foi tambem um dos resultados a nomeação, que por sua Portaria, expedida em 2 de Novembro de 1814, delle fèz para Substituto Interino das duas Cadeiras, de Rhetorica e Poetica, e de Historia e Antiguidades do Real Collegio das Artes da Universidade de Coimbra, com os vencimentos e graduação competentes? e por Officio de 21 de Agosto de 1816 a Proposta delle feita a SUA MAGESTADE para Professor Proprietario da Cadeira de Historia e Antiguidades do mesmo Real Collegio Proposta que foi confirmada pelo Soberano na Côrte do Rio de Janeiro em 30 de Abril de 1817?

Assim que por tão honrado titulo, como esse tal ou qual credito litterario, que o presente Escripto lhe fèz grangear no conceito d'aquelle muito digno Prelado Academico,

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verdadeiro Protector das Letras, e dos seus affeiçoados Cultores; e não já a surdas manobras, empenhos e baixezas, improprias de um caracter franco e independente, qual o seu, ou a quaesquer outros escondidos motivos, como desassizadamente então sonharam alguns espiritos de baixissima estôfa, foi que o Autor devêo o Emprego honroso de Professor Publico na Universidade de Coimbra. E seja-lhe permittido acrescentar ainda mais (pois as circunstancias, que, passados alguns annos " occorreram, o obrigam ainda hoje em dia, afim de acudir pela sua injuriada reputação, a escrever o que a modestia ordenava ficasse sepultado no silencio) que foi tal o conceito que o Autor deveo áquelle Prelado illustre que não duvidou de asseverar por differentes vezes, e em presença de pessoas diversas, as quaes, como vivas ainda, o poderão desmentir, se é que nisto falta á verdade: Que pela nomeação, que delle fizera para Professor da Cadeira de Historia e Antiguidades do Real Collegio das Artes da Universidade, hia ser verdadeira e effectivamente creada aquella Cadeira; por quanto, tendo ella já de existencia acima de quarenta annos, ainda até aquelle tempo não havia sido regida conforme ao espirito da sua creação, Fique agora ao juizo das pessoas de boa intelligencia, e de sãa imparcialidade, e que sabem, por havel-o presenciado, qual o methodo e assíduos desvelos, empregados constantemente pelo Autor deste Escripto na regencia effectiva d'aquella Ca

deira desde o principio do anno lectivo de 1815 até o de 1824, o decidirem, se a opinião do Ex.mo Prelado foi, ou não verificada pela prática do Professor na regencia da sua Cadeira,

O Autor, depois de assim ter pretendido desaggravar-se, como é de razão, das injurias contra elle vibradas em tempo, e que até hoje (verdade é, já tarde) tem estado sem resposta; vai proseguir no que entende lhe cumpre fazer chegar ao conhecimento do publico, ácerca do presente Escripto.

Duas forão as razões principaes, que o impelliram a escrever sôbre este assumpto: Primeira o esquecimento, ou se quer desleixo, em que vía jazer com grande dissabor seu esta parte tão importante e tão rica da nossa Historia (1), quando outras nações, por ventura não melhor aquinhoadas, do que a Portugueza, neste genero de gloria, porêm de certo menos incuriosas, do que nós, em fazerem valer os seus titulos de honrada reputação, possuiam já ha muito as suas Historias Litterarias, e dellas algumas escriptas com a maior perfeição, que póde exigir-se neste genero de composições; tendo levantado por este modo aos seus respectivos ingenhos e talen

(1) No anno de 1814, em que o Autor começou a escrever as suas Memorias historicas, não tinha apparecido ainda o Resumo da Historia Litteraria de Por tugal, escripto por Mr. Ferdinand Denis, e só impres so no anno de 1896; nem de tal assumpto se haveria talvez occupado ainda este illustre Litterato,

tos um padrão mais honroso, do que os lavrados para immortalizarem acções guerreiras, compradas sempre á custa das lagrimas e do sangue da Humanidade, e mais duravel e permanente, do que se fosse construido de marmores e de bronzes: A segunda e não menos ponderosa razão, que movêo o Autor a escrever algumas Memorias sobre a Historia Litteraria da sua nação, foi o ver com quão pouco respeito differentes escriptores extrangei ros se haviam intromettido a falar da nossa Litteratura, e até o descredito, que sôbre ella tinham pretendido lançar, como foram entre outros, um Heuman (1), um Jugler (2), um Voltaire (3), um Link (4), um Du Chatelet (5), um Pedro Carrere (6) &c. Todavia é dever de justiça o declarar, que se houve pennas extrangeiras, que, intromettendose incompetentemente, e sem conhecimento da materia, a escrever şôbre o Litterario de Portugal, destillaram sobre elle veneno e fel; não faltaram tambem outras, que, melhor informadas, mais esclarecidas, ou mais imparciaes, tem escripto ácerca deste mesmo

(1) In Conspect. Reipubl. Litter. cap. 4.

(2) Bibliot. Histor. Litter. de Jena, 1752. cap. 5. §. 7. (3) Siècle de Louis XIV. chap. 38.

(4) Voyage en Portugal Tom. 1. cap. 20, e Tom. 2. cap. 38.

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(5) Voyage du ci-devant Duc de Chatelet en Portugal... &c. Tom. 2. cap. 15.

(6) Voyage en Portugal, et particulièrement à Lisbonne, ou Tableau Moral, Civil, Politique...., à Paris 1798 (An. VI.).

assumpto com a exacção devida, e dando oś merecidos louvores á Litteratura Portugueza, assim antiga, como moderna, do que podem servir de louvavel exemplo os nomes de Delaporte (1), de Bourgoing (2), de Sané (3), de Ferdinand Denis (4), de Simonde de Sismondi (5) &c.

Ora que extrangeiros, alguns dos quaes nos trataram, e observaram de perto, e que, por sua diuturna morada entre nós, tem podido entrar nos vastos e ricamente variados depositos de todas as Sciencias e Boas-Artes, desde longo tempo cultivadas em Portugal; que taes extrangeiros, ou meros viajantes, ou entre nós domiciliados, ajuizassem tão baixamente da nossa Litteratura; e que alguns delles, passando os seus juízos a escripto, diffundissem por toda Europa tão errada opinião; eis o que a honra e o brio de Portuguêz não tem permittido ao Autor o olhar sem grande dissabor, e sem que se sentisse animado de uma nobre indignação.

Muito ha estava elle convencido da le

(1) Le Voyageur Français... &c. Tom. XV., Lettre 187 e 189.

(2) Notas e Supplemento ao cap. 15. da Viagem de Chatelet a Portugal, Paris An. VI. 2. Tom. de 8. gr.

(3) Introduction à la Poésie Lyrique Portugaise, ou Choix des odes de Francisco Manoel, traduites en Fran gais... &c.

(4) Résumé de l'Histoire Littéraire de Portugal.... par Ferdinand Denis, Paris 1826.

(5) De la Littérature du Midi de l'Europe, chap. 26...30.

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