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Dá-se aqui um nanfragio, do qual sómente D. Isabel escapa vindo ter á praia sobre uma caixa. Logo que se viu em terra, abriu a caixa e encontrou dentro d'ella roupas de homem, disfarça-se e vae dar ao palacio do velho Duque de Guisa offerecendo-se para criado, e dando-se por Irlandez. Madama Margarida filha do Duque enamora-se do creado irlandez; no entanto complicam-se os amores com o apparecimento do Carlos Marquez de la Vibera, que se serve do creado para levar cartas á Duqueza, que as toma como escriptas pela disfarçada D. Isabel. Apparece tambem D. Henrique de Moncada, que não suspeita da existencia de Isabel, e apesar da sua tristeza apaixona-se por Madama Margarida, até que a final se desembrulha toda esta meada; D. Isabel dá-se a conhecer a Henrique de Moncada, e assim se justifica a innocencia de Madama Margarida. Supprimimos a complicação das parodias dos creados que dão sempre ás comedias d'este periodo com uma acção dupla. A comedia Verse y tenerse por muertos foi representada, como se deprehende d'este final, declamado por todos os actores:

Y aqui, discreto auditorio
a vuestras plantas rendido,
el poeta mas moderno

de limosna os pide un victor.

Barbosa Machado quando citou esta Comedia, não se referiu a nenhuma edição avulsa; foi publicada na

Parte treinta y quatro de Comedias, (1) impressa em 1670; n'este volume vem Manoel Freire de Andrade em companhia de D. Gil Enriquez, D. Joseph e D. Diego de Figueiroa, D. Agustin Moreto, João de Mattos Fragoso, D. Juan de Zavaleta, Doctor Mira de Mesina, e um Engenho de Madrid; das doze comedias que se contém n'esta Parte treinta y quatro, diz uma licença: «y aviendolas visto representadas en esta Corte com aprobacion de sus censores, y leidolas de nuevo con toda atencion y cuydado, no hallò mi corto juizio inconveniente para que no se inspriman. Salvo mejor parecer, Madrid, y Junio, 1 de 1669 años. -- Don Juan de Zavaleta.» Pela quadra final da comedia Verse y tenerse por muertos, se conhece que Manoel Freire de Andrade ainda não tinha escripto mais, porque se dá como o poeta mais moderno.

Depois da restauração de Portugal, a comedia da eschola hespanhola serviu para celebrar a independencia; Manoel de Araujo de Castro, natural de Monção, escreve La mayor hazaña de Portugal, impressa em 1645; Barbosa Machado diz que é: «Comedia, de que é argumento a restauração d'esta monarchia em 1640.» (2) Muitos dos militares que batalharam nas guerras da independencia cultivaram a litteratura dramatica, como Dom Francisco Manoel de Mello, Jacintho Cordeiro e Pero Salgado.

(1) De pag. 170 a 212.

(2) Bibl. Lus., t. III, p. 182.

Como todos estes poetas dramaticos portuguezes do seculo XVII, Pedro Salgado, militou nas guerras da fronteira, contra Castella, cujo dominio havia sido banido em 1640; Dom Francisco Manoel de Mello e Jacintho Cordeiro tambem, como elle, aí militaram, e é provavel que se conhecessem. Pedro Salgado era natural da Villa de Peniche, do Patriarchado de Lisboa, e é de suppôr que teria nascido talvez antes de 1620, por isso que em 1644 e 1645, seguia as armas portuguezas que combatiam no Alemtejo contra a invasão castelhana. Elle se achou em Elvas, na occasião, em que o general hespanhol Marquez de Terracusa tentou entrar na cidade, e tomar o forte de Santa Luzia, sendo aí rechaçado, e quasi derrotado, tendo de retirar-se vergonhosamente.

Pedro Salgado ía escrevendo os successos da guerra em dialogos graciosos, a que dava a fórma dramatica, do mesmo modo que Simão Machado fazia ao Cérco de Diu; como Simão Machado, Pedro Salgado escrevia a maior parte d'estes seus dialogos ou comedias politicas em hespanhol; elle representa ainda a eschola nacional de Gil Vicente, mas quasi inteiramente dėsnaturada pela influencia absoluta do theatro hespanhol.

Ainda em 1663, quando veiu o general Schomberg ajudar a defeza de Portugal, Pedro Salgado achou-se tambem na Campanha do Alemtejo, e assistiu á restauração da cidade de Evora. Sobre esta segunda phase da vida de Pedro Salgado, escreveu uma comedia,

que intitulou politica, mas aonde não verbera a impericia e ciume dos generaes da fidalguia portugueza que procuravam comprometter o destemido Schomberg. Em 1663, ainda era conhecido pelo seu primeiro dialogo gracioso de 1645, a que o vulgo chamava o Dialogo gracioso de Terracuça; o povo estava ávido de saber noticias da guerra, e seria esta principalmente a causa da popularidade de Pedro Salgado; como soldado, e de humilde extracção, a sua graça ou jocosidade era sem violencia, e bem comprehendida pelo vulgo. Tempo antes Dom João IV mandou prohibir em Evora o lêr-se as outavas escriptas a proposito da guerra por André Rodrigues de Mattos. Esta circumstancia talvez explique a falta de intenção politica nos dialogos e comedias de Pedro Salgado, aonde abundam as referencias historicas. Pedro Salgado é auctor de muitos outros tratados em abonação do Reyno de Portugal; naturalmente eram relações de milagres e satyras em verso, que andavam então na voga, distinguindo-se sobre todos estes poetas revolucionarios Francisco Lopes livreiro, que acompanhou as guerras da independencia com as suas Sylvas e Romances.

Pedro Salgado escreveu uma Comedia moral e jocosa, fórma hybrida imposta pela censura ecclesiastica. Pela data da impressão dos seus escriptos se vê, que foram os successos da guerra da fronteira que acordaram a sua musa. Eis a ordem das suas composições:

Dialogo gracioso, dividido em tres actos, que con

tém a entrada que o Marquez de Terracusa, General de Castella fez na Campanha da Cidade d'Elvas, tratando de a conquistar e o forte chamado de Santa Lusia, junto á dita cidade, e a retirada que fez até Badajoz com perda de muita gente sua e de reputação. Composto por Pero Salgado, natural da Villa de Peniche, que se achou na occasião. Lisboa, 1645. N'este mesmo anno publicou o: Theatro do Mundo. Comedia moral e jocosa. Em Lisboa. Publicando em 1646, 0:

Hospital do Mundo, segunda parte do Theatro d'elle. Dialogo moral e jocoso.

Quando depois de 1663 publicou a sua ultima comedia politica, Pedro Salgado abona-se como auctor de muitos outros tratados. Cumpre notar que no seculo XVII a palavra tratado designa Auto ou comedia em verso, como vêmos pelo Tratado da Paixão, do Padre Moraes; por tanto Pedro Salgado referia-se ao Theatro do Mundo, e ao Hospital do Mundo, que pela intenção moral mereciam o nome de tratados. O seu ultimo trabalho foi:

A mayor gloria de Portugal, e a affronta mayor de Castella. Comedia Politica, que contem a verdade de tudo o que seccedeu na campanha do Alemtejo este presente anno de 1663, e a gloriosa Restauração da Cidade de Evora, com muitas particularidades dignas de memoria; composta por Pero Salgado, Autor do Dialogo de Terracuça e de muitos outros tratados, que andam impressos em abonação do Reyno de Portugal.

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