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CXXVI

«Se já nas brutas féras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nos alfarricóques, que sómente
Nas créstas excessivas tem o intento,
Com pequenas creanças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento,
Como co'os asylados já mostraram

Quando as Irmãs crueis lhes arrumaram :

CXXVII

«Ó tu que tens de humano o gesto e o peito, (Se de humano é tosar uma donzella. Bonita como cu sou, por ter sujeito O coração a quem soube vencel-a) A estes pequerruchos tem respeito Pois o não tens á pena escura d'ella : Mova-te a piedade sua e minha,

Pois te não move a culpa que não tinha.

CXXVIII

«E se tens tido grande paciencia,
Cortindo forte e inexcedivel ferro,
Não deixes de usar hoje com clemencia
P'ra quem não commetteu o menor erro.
Mas se não to merece esta innocencia
E teimas em levar-me p'r'o desterro,
Dás prova certa d'alta brejeirice,
E de uma indecorosa galleguice.

CXXIX

«Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre ursos, leopardos, e verei
Se n'elles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei :
Alli c'o amor intrinseco e vontade
N'aquelle por quem morro, criarei
Estas reliquias suas que aqui viste,
Que sejam refrigerio á mamã triste.

CXXX

«Queria perdoar-lhe o saturnino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz velho muito fino,
Diz cousas que o juizo lhe ensaboam.
Com tudo p'r'a acabar tal desatino,
O homem cujas façan has tanto sôam,
Agarrado á mulher n'altos berreiros
Lhe perdoa. È o rei dos cavalheiros!

CXXXI

<«Qual contra a esguia moça Ribeirena,
Consolação da avó ou da mãi velha,
Porque a cousa do jockey a condemna,
Co'o cacete o barbaças se apparelha :
Mas ella muito fresca e mui serena,
(Bem como mulherinha que traz celha)
Declara que o Polido ella precisa,
Se a roubam ao Cupido da galliza:

CXXXII

Taes contra Emilia de olhos tentadores, Que no seu collo e cobiçado tinha As obras com que amor moveu furores N'aquelle que inda mais a fez tortinha; Todos os seus infames detractores, Que a historia não acharam airosinha, Se embespinhavam, fervidos e irosos, Nos futuros exemplos já cuidosos.

CXXXIII

«Bem podéras, José, da vista d'estes,
As scenas esconder d'aquelle dia,
Como alguem que vós já descompozestes
Fez, quando a nympha vio co'o Zé Maria!
Vós noblissimas casas, que pudestes
A voz fanhosa ouvir de tal mumia,
O nome do seu Conde que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes!

CXXXIV

«Assim como a cadella, que fechada
Esteve muito tempo, meiga e bella,
Sendo do cão primeiro maltratada,
Foge de casa, se não ha cautéla,
Para andar com os cães de patuscada:
Tal é a sorumbatica donzella,
Massadora, voluvel, de má venta,
Finalmente uma torta rabugenta.

CXXXV

«As filhas de Lisboa a vida impura
Da tal zarolha sempre censuraram;
E por memoria eterna á creatura,
O caso de contar não se fartaram:
O nome lhe puzeram, que inda dura,
Por sallas que os Gardés alcatifaram.
Vêde que luxo, que soberbas flores
De milagrosa cera; ó que primores!

CXXXVI

«Não correo muito tempo que a vingança
Não visse o Conde das mortaes feridas;
Que em recebendo a sua gorda herança,
Lhe deu prendas muitissimo subidas;
Do marido amizade céga alcança;
Que ambos imigos das honestas vidas,
O concerto fizeram duro e injusto,
Que com Monteiro e Carlos fez Augusto.

CXXXVII

«Foi d'este o proceder escandaloso
De aldrabações, calotes, e adulterios:
Dar socos e pauladas, furioso,
Eram seus capilés e refrigerios.
Dos seus proprios dizendo injustiçoso,
De todos os mais fortes vituperios,
Mais trabalho e desgosto a todos deu,
Que esse que a esposa em serva converteu.

CXXXVIII

«Do façanhudo Augusto nasce o brando,
(Vede da mãe natura o desconcerto!)
Madraço, e sem cuidado algum, Fernando,
Que toda a casa poz em muito aperto:
Que certas companhias procurando
De finos parasitas, vio-se perto
De ficar sem vintem litteralmente;
Como tem succedido a muita gente.

CXXXIX

«Ou foi castigo claro no pingado
De tirar Adelayde a seu marido,
E juntar-se com ella apatetado
D'um falso parecer mal entendido:
Ou foi que o beberrão sujeito e dado
Ao vicio vil, de quem se vio rendido,
Molle se fez e fraco; e bem parece,
Que amor chimfrim os fortes enfraquece.
CXL

«Do peccado tiveram sempre a pena
Muitos, que Deos o quiz e permittio;
Os que foram roubar certa pequena;
E alguns alfandegueiros de assobio:
Pois por quem o pobre Alves se condemna?
Ou quem de Portugal se escapulio
Não ha muito? Bem claro nol-o ensina

Pela esposa o Ferreira audaz, grazina,

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