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VI

«Podem-se pôr em longo esquecimento
As cruezas mortaes, que a Lysia vio,
D'esse Telles Jordão, e do cruento
Bastos, quando o Miguel nos dirigio.
Por isso o Cabralão, que o sentimento
De não ser rico ao mundo descobrio,
Faz rebentar no Porto a escarapela,
Dizendo ser Maria a causa d'ella.

VII

<<Maria era a senhora, que casada Está com quem no brio a ninguem cede, Por virtuosa mãe considerada,

E

que

só a ventura dos seus pede.
Com esta voz a invicta alevantada,
Lembrando que esta filha o pai succede,
Suas forças ajunta para as guerras,
Que tiveram lugar nas lusas terras.

VIII

«Vem de toda a provincia ao fresco amigo, Que tanta supisota ha praticado,

Juntar-se muito pulha, muito imigo
Da rainha e da carta declarado;
Mas elle sem temer nenhum perigo,
Só para conseguir seu fim damnado,
De irmão o nome dá a toda a gente,
Que depois a Satan deu de presente.

IX

«Os chabancas na antigua valentia
Ainda confiados, se ajuntavam
Da cabeça de toda a terra fria
Que do soberbo Douro as aguas lavam.
Tambem Braga fiel se apercebia,
Que antigamente os Burros habitavam,
Trazendo por insignias verdadeiras,
Dous cacetes pintados nas bandeiras.

X

«Tambem vem lá da terra do Macedo,
Cidade muito antigua, a quem cercando
O Minho em torno vai suave e ledo,
Que das terras dos Chancas vem manando.
A vós outros tambem não tolhe o medo,
Ó sordidos gallegos, rudo bando,

Que para resistirdes vos armastes,
Aos taes de quem biscoitos já provastes.

ΧΙ

«Tambem movem da guerra as negras furias A gente da Beirinha, que carece

De polidas rasões, e que as injurias
Muito mal dos estranhos compadece.
A terra da gentinha das lamurias,
Que com a grosseria se ennobrece,
Armou d'ella os cachorros moradores
Para ajudar na guerra os estupores.

XII

«Cabral a quem de caco o amor lhe crece,
Como a Samsão Hebreo da guedelha,
Posto que tudo pouco lhe parece,

Co'os chimbeus candongueiros se apparelha:
E não porque destreza lhe fallece
Co'os principaes verdugos se aconselha;
Mas só por ver das bestas as sentenças,
Que sempre houve entre muitas differenças.

XIII

«Não falta com razões quem desconcerte
Da opinião de todos, na vontade,
Em que a maldade antiga se converte
Em desusada, mas fidelidade,
Podendo o medo mais, gelado, inerte,
Que a propria e natural deslealdade:
Dão vivas ao progresso; e se convem,
Ao demo que os carregue os dão tambem.

XIV

«Mas nunca foi que este erro se sentisse
N'um certo Cortabolsas diro: antes,
Posto que em muitos outros claro o visse,
Reprovando as vontades inconstantes,
Áquelles grandes farroupilhas disse,
Com palavras mais duras que elegantes,
A mão na durindana, irado e fulo,
Ameaçando a terra em modo chulo:

XV

«Como da gente Lusa Portugueza

Ha-de haver quem não preze o patrio Marte?
Como d'estas terrinhas, que tão teza

A gente se ha mostrado em toda a parte,
Ha-de sair quem negue ter defeza,
Quem negue a fé, o amor, o esforço e arte
De Cabralista, e por nenhum respeito
O véro Sauro queira ver sujeito?

XVI

«Como? Não sois os mesmos ou parentes
D'aquelles, que debaixo da bandeira

Do Libertador, feros e valentes
Deram cabo da gente caceteira ?
Quando tantas bandeiras, tantas gentes
Fizeram dar ás gambias, de maneira
Que muitissimos burros lhe trouxeram
Prezos, fóra a pechincha que tiveram ?

XVII

«Com quem foram contino sopeados
Estes de quem o estaes agora vós,
Por homens altamente sublimados,
Senão c'os vossos fortes paes e avós?
Pois se com seus descuidos, ou peccados
O Ciniphe em fraqueza tal vos poz,
Torne-vos vossas forças o Pai novo:
Se é certo que co'o Pai se muda o poyo.

XVIII

«Pai tendes tal, que se o valor tiverdes
Igual ao Pai que agora alevantastes,
Amachuca reis tudo o que quizerdes,
Quanto mais a quem já amachucastes:
E se com isto emfim vos não moverdes
D'esse grande cagaço que tomastes,
Atai as mãos, bonecos de sabugo,
Que eu só resistirei ao feio jugo.

XIX

«Eu só co'os meus amigos e com esta,
(Apresenta uma bolsa recheada)
Defenderei da força dura e infesta,
A terra não de todo depennada:
Em virtude do Pai, da patria mesta,
Da lealdade já por vós negada,
Vencerei, não só estes adversarios,
Mas quantos a meu Pai forem contrarios.

XX

«Bem como entre os donzeis appetecidos
Lá no Rocio, heroes de paus e canas,
Já para se entregar, quasi movidos,
A toda a casta suja de parranas,
Macedo tolo os faz, que compellidos
Da bengalinha jurem, que os Bananas
Ricos não deixarão, em quanto vida
Tiverem, e a belleza não perdida :

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