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CV

Todos d'elle se mostram muito amigos;
Mas debaixo o veneno vem coberto;
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Oh grandes e gravissimos perigos!
Oh caminho de Caco sempre incerto!
Que aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a cousa tão pouca segurança !

CVI

No mar tanta tormenta, e tanto damno,
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra tanto roubo, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um Lusitano
Que não tem a vergonha inda perdida?
Que não se arme contra elle o mais pequeno

Dos Comilões, que gera este terreno?!

ARGUMENTO DO CANTO SEGUNDO

Seguindo os impulsos do seu magnanimo coração pretende o Chefe dos Probos destruir os Traficantes: dispõe-lhes ardis debaixo de fingida amizade: apparece a Carlota ao Gram Zé e intercede pelos Medalhões: elle lhe promette favorecel-os, e lhe refere, como em prophecia, algumas caranguejolas dos mesmos: em sonhos apparece um Genio maligno ao Lobo, e lhe adverte que evite o perigo que lhe está sobranceiro; levam ancoras, chega a Desfaçatez, cujo rei o recebe e hospeda benignamente.

OUTRO ARGUMENTO

Dar o Chefe leal o fim prepara
Aos Traficantes com mortal engano :
Apparece a Carlota, a frota ampara,
E a fallar sobe ao Gram Zé deshumano:
Este os casos futuros lhe declara:

Apparece um máo Génio ao Lobo insano :
Chega a Desfaçatez a impura gente,
E o Rei torpe a recebe alegremente.

CANTO SEGUNDO

I

Já n'este tempo o adultero pateta,
Que as melhores esp'ranças vai nutrindo
De chegar breve á desejada meta

De Sauro, onde imagina um goso infindo,
Co'os outros ratazanas de secreta
Conversava, esfregava as mãos sorrrindo,
Quando os da ratoeira começaram

A olhar para o que os lobos lhe entregaram.

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D'entre elles um que está encarregado

De lhe atirar sem dó, assi dizia :

Ỏ petiz valoroso, que cortado

Tens do alto Peculato, a farta via,
Tudo da opposição alvoroçado
Da vinda tua, tem tanta alegria,
Que não deseja mais que agasalhar-te ;
(E agora aqui p'ra nós a pel' tirar-te).

III

E porque tudo está mui desejoso
De examinar essa obra nomeada,
Te roga que não 'stejas receioso;
Porque o que se disser, não vale nada.
O que temos visto é muito engenhoso,
A logração está bem disfarçada;

Tu, meu pandilha, em tão grande alcavala,
Has de apanhar maquia em grande escala...

IV

Do emprestimo tambem grossa fatia
Te resultou, insigne meliante:

De todos os que has feito, qual seria
O que te não rendeu chelpa bastante?
Oh Lobo da minha alma, és hoje em dia
Marcado por finissimo tratante;
Acredita, meu grande animalejo,
De assim comer bastantes tem desejo.

V

O Lobo então sorrindo-se responde,
As palavras do melro agradecendo,
E diz, que para não ouvir se esconde,
Pois alguem alli não lhe conhecendo
O genio, tocar póde um ponto onde

A cousa é séria; e porque em fim, temendo
Certo varão muitissimo illustrado,

Entende o pôr-se a andar mais acertado.

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