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VI

Oh que maldita sorte a d'esta terra !
Valha-me S. José! Quem tal diria!
Que o bonifrate, o lorpa que mais erra,
São aqui os que tem maior valia.

O rossim que maiores couces ferra,
Tendo acções d'esta, e d'outra companhia,
É nobre, generoso, alto, excellente,
E tão sabio que até pode ser lente!

VII

Veem-se parvos, estupidos chapados,
Sem credito, imprudentes, vergonhosos,
Nos melhores lugares repimpados,
Actos mil praticando escandalosos.
Veem-se outros, pobresinhos muito honrados,
Com 'studos, do trabalho desejosos,
Famintos, mál vestidos, sem que sejam
Attendidos no pouco que desejam.

VIII

Um seringa se vê de cara á banda,
Que ha pouco tempo más noticias dava,
Um capacho da gente mais nefanda
Dá terra, que o ameno Tejo lava;
Vê-se o ephem'ro Carrilho, que demanda
Da parvoice a posição mais brava,
Fugir de alguns rapazes instruidos,
De quem favores teve immerecidos.

IX

E porque? Porque os taes não apanharam
Posta espigada, pelo que viviam
Apouquentados; mas jámais andaram
Feitos rafeiros cães dos que comiam.
Estes taes, que tambem o desprezaram,
(Peço-lhes, ó leitores, que não riam)
Conheceram já tarde este espoleta,
Que traduz chapelet por chapeleta.

X

Mas deixemos a grande nullidade
Do Carrilho; pois é tempo perdido
O fallar de chués que, na verdade,
Não valem cinco réis de arroz fingido.
Vamos aos mazorraes de meia idade;
Aos bisnaus de bigode retorcido;
E a esses grandes casquilhos de patente,
Que, sem saber, em tudo mettem dente.

ΧΙ

A cousa está bem mal afigurada;

Do quadro começar vou a pintura;
Vereis soberbamente debuxada

Sobre tela finissima, essa escura
Chronica verecunda da malvada

Gentinha a quem Erebo em manha apura;

D'esses acatalepticos barões,

Descendentes de estrenuos bordegões.

XII

Ficareis, com certeza, surprendidos
Do que vos vou contar: d'antes julgava
Que o numero dos muito corrompidos
N'esta terra a tal ponto não chegava ;
E que os poucos que havia tão subidos
Não eram na gamberria; assim pensava ;
Porém, hoje acredito firmemente,

Que tudo quanto é rico é impudente.

XIII

Veem-se homens com serviços mil prestados
Á patria, lizos, não com fingimento,
Rotos, nus, e de todos desprezados
N'esta terra, onde os contos dão talento!
Veem-se outros, papelões affeminados,
Só tendo no peccado o pensamento,
Que nunca ao inimigo vendo a fronte,
Recebem honras e dinheiro a monte.

XIV

Um, do bicudo circulo chamado!

É verdade!.... O' meu nobre e grande amigo!
Peço perdão, havia-me olvidado

De Usted. Que talentaço! Que inimigo
Do Progresso, que tanto ha estudado
P'ra provar que cevada não é trigo :
Então, não me esquecia a boa praça,
E de cavallaria!.... Olhem que graça!

XV

Se fossem vivos esses que te viram
De pé descalço, e mergulhado em pranto,
Quando prezo 'p'r'aqui te conduziram
No tempo em que se não comia tanto;
E esses outros tambem que te vestiram
Do tapado galucho o reles manto;
Que a olhar te ensinaram á direita;
Que um dia te prenderam por suspeita:
XVI

E te dissessem: 6 Dona Maria,
Lembras-te do que foste ? Não seriam
Punhaladas, que essa alma soffreria?
Felizmente os que bem te conheciam,
Já a terra os gramou! Hein: que fatia!
Mas haverá dois annos existiam

Ainda alguns, mas vazios de algibeira,
Os que te conheceram laranjeira.

XVII

Quantas vezes, meu fona, te chamavam,
Para que todos claramente vissem
Da maleza os signaes, que enfarruscavam
Esse immundo carão, e p'ra que ouvissem
As muitas bernardices que saltavam
Da tua bocca; ah cão se te sumissem
N'aquelle tempo, fôra mui bem feito;
De que serve um basbaque tão perfeito?

XVIII

N'este paiz um homem não mostrando
Attestado de besta bem quadrada,
Ou outra cousa, não apresentando
Documentos de firma despejada,
Pode crer morrerá arrebentando
Com fome; pois ninguem lhe dará nada.
Hoje até para guarda de secreta

É mister ser tramposo, ou ser pateta.

XIX

Aquelle que a estudar tempo perdeu,
P'ra aqui ganhar o pão de cada dia,
Fez grande asneira; pois o phariseu,
O zote, que só tem velhacaria,
E bons contos de réis possue de seu,
Do homem que tem prestimo e valia
Não faz caso; prefere um outro igual
A si; boto e inclinado para o mal.

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Já no alto persigal com grande pressa,
Como a canalha em tudo andar costuma,
Defendia com força a grande peça

Do tabaco, que cheira e que defuma;
Quando na imprensa outra questão começa,
Grande questão de cachimanha summa,
De fazendas furtadas aos direitos

Por lobinhos nascidos com maus geitos.

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