Oh que maldita sorte a d'esta terra ! Valha-me S. José! Quem tal diria! Que o bonifrate, o lorpa que mais erra, São aqui os que tem maior valia.
O rossim que maiores couces ferra, Tendo acções d'esta, e d'outra companhia, É nobre, generoso, alto, excellente, E tão sabio que até pode ser lente!
Veem-se parvos, estupidos chapados, Sem credito, imprudentes, vergonhosos, Nos melhores lugares repimpados, Actos mil praticando escandalosos. Veem-se outros, pobresinhos muito honrados, Com 'studos, do trabalho desejosos, Famintos, mál vestidos, sem que sejam Attendidos no pouco que desejam.
Um seringa se vê de cara á banda, Que ha pouco tempo más noticias dava, Um capacho da gente mais nefanda Dá terra, que o ameno Tejo lava; Vê-se o ephem'ro Carrilho, que demanda Da parvoice a posição mais brava, Fugir de alguns rapazes instruidos, De quem favores teve immerecidos.
E porque? Porque os taes não apanharam Posta espigada, pelo que viviam Apouquentados; mas jámais andaram Feitos rafeiros cães dos que comiam. Estes taes, que tambem o desprezaram, (Peço-lhes, ó leitores, que não riam) Conheceram já tarde este espoleta, Que traduz chapelet por chapeleta.
Mas deixemos a grande nullidade Do Carrilho; pois é tempo perdido O fallar de chués que, na verdade, Não valem cinco réis de arroz fingido. Vamos aos mazorraes de meia idade; Aos bisnaus de bigode retorcido; E a esses grandes casquilhos de patente, Que, sem saber, em tudo mettem dente.
A cousa está bem mal afigurada;
Do quadro começar vou a pintura; Vereis soberbamente debuxada
Sobre tela finissima, essa escura Chronica verecunda da malvada
Gentinha a quem Erebo em manha apura;
D'esses acatalepticos barões,
Descendentes de estrenuos bordegões.
Ficareis, com certeza, surprendidos Do que vos vou contar: d'antes julgava Que o numero dos muito corrompidos N'esta terra a tal ponto não chegava ; E que os poucos que havia tão subidos Não eram na gamberria; assim pensava ; Porém, hoje acredito firmemente,
Que tudo quanto é rico é impudente.
Veem-se homens com serviços mil prestados Á patria, lizos, não com fingimento, Rotos, nus, e de todos desprezados N'esta terra, onde os contos dão talento! Veem-se outros, papelões affeminados, Só tendo no peccado o pensamento, Que nunca ao inimigo vendo a fronte, Recebem honras e dinheiro a monte.
Um, do bicudo circulo chamado!
É verdade!.... O' meu nobre e grande amigo! Peço perdão, havia-me olvidado
De Usted. Que talentaço! Que inimigo Do Progresso, que tanto ha estudado P'ra provar que cevada não é trigo : Então, não me esquecia a boa praça, E de cavallaria!.... Olhem que graça!
Se fossem vivos esses que te viram De pé descalço, e mergulhado em pranto, Quando prezo 'p'r'aqui te conduziram No tempo em que se não comia tanto; E esses outros tambem que te vestiram Do tapado galucho o reles manto; Que a olhar te ensinaram á direita; Que um dia te prenderam por suspeita: XVI
E te dissessem: 6 Dona Maria, Lembras-te do que foste ? Não seriam Punhaladas, que essa alma soffreria? Felizmente os que bem te conheciam, Já a terra os gramou! Hein: que fatia! Mas haverá dois annos existiam
Ainda alguns, mas vazios de algibeira, Os que te conheceram laranjeira.
Quantas vezes, meu fona, te chamavam, Para que todos claramente vissem Da maleza os signaes, que enfarruscavam Esse immundo carão, e p'ra que ouvissem As muitas bernardices que saltavam Da tua bocca; ah cão se te sumissem N'aquelle tempo, fôra mui bem feito; De que serve um basbaque tão perfeito?
N'este paiz um homem não mostrando Attestado de besta bem quadrada, Ou outra cousa, não apresentando Documentos de firma despejada, Pode crer morrerá arrebentando Com fome; pois ninguem lhe dará nada. Hoje até para guarda de secreta
É mister ser tramposo, ou ser pateta.
Aquelle que a estudar tempo perdeu, P'ra aqui ganhar o pão de cada dia, Fez grande asneira; pois o phariseu, O zote, que só tem velhacaria, E bons contos de réis possue de seu, Do homem que tem prestimo e valia Não faz caso; prefere um outro igual A si; boto e inclinado para o mal.
Já no alto persigal com grande pressa, Como a canalha em tudo andar costuma, Defendia com força a grande peça
Do tabaco, que cheira e que defuma; Quando na imprensa outra questão começa, Grande questão de cachimanha summa, De fazendas furtadas aos direitos
Por lobinhos nascidos com maus geitos.
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