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CXI

«E não menos co'o tempo se parece
O desejo de ouvir-te o que contares;
Que quem ha, que por fama não conhece
As vergonhas dos nossos singulares?
Não tanto desviado resplandece
De nós o amor chinez para julgares

Que os Furta-cores tem tão rudo peito,
Que não estimem muito um grande feito.

CXII

«Commetteram de Argel os arrogantes
Piratas, roubos mil no Estreito puro;
Tentou Napoleão com seus chibantes,
A terra reduzir ao mór apuro:

Se houve feitos no mundo tão possantes,
Não menos é trabalho grande e duro,
Quanto foi que tal gente commetteu,
0 que os nossos hão feito, almas de breu.

CXIII

«Destruiu a feroz gente romana,
Quanto o Phenicio tinha fabricado,
Com tal brutalidade e furia insana,
Que deixou todo o mundo aparvalhado:
Se tambem com taes obras nos engana
O desejo de um nome avantajado,
Mais razão ha que queira eterna gloria,
Quem faz obras tão dignas de memoria.>>

ARGUMENTO DO CANTO TERCEIRO

Pratica do Lobinho lamiche com o Chefe dos Furta-cores, em que The faz a descripção da Terra dos Tanas: dá-lhe conta dos principios de certos coaitás, e das suas principaes barganterias: feito notavel do Gram Zé: vem á Ullysipo o Gallo pedir uma indemnisação: amores e caso desastrado de D, Torta Emilia: alguns successos de varios Manequins.

OUTRO ARGUMENTO

Dos bons Tanas a terra se descreve;
Do bruno Zé o feito sublimado;
Os principios que certa gente teve;
E os lindos passapés que ha praticado:
De Dona Torta Emilia a falta leve
Se traça, e do seu Conde apaixonado:
De alguns tafues se mostra o modo novo
De embelecar de grande o pobre povo.

CANTO TERCEIRO

I

Cara Chalaça, agora tu me ensina
Como o Lobo cantou dos seus a fama:
Inspira immortal canto de buzina
N'este peito mortal que tanto te ama.
Assi o teu Adonis papafina,

De quem nenes pariste, ó bella dama,
Nunca por quem na cara carmim põe,
Te negue o amor devido, como soe.

II

Põe tu, Nympha, em effeito meu desejo,
Como merece a gente lusitana;

Que veja e saiba o mundo n'este ensejo
Como aqui a marosca corre e mana.
Deixa lá os passados, que já vejo,
Que de raça não são tão soberana,
Senão direi que temes que se esqueça
O nome Caco, que guardar int❜ressa.

III

Promptos estavam todos escutando
O que o astuto Lobo contaria;

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Quando depois de um pouco estar scismando.
Alevantando a tromba, assi dizia:
<<Pedes-me, pois que conte declarando
De minha gente a gram genealogia:

Não me pedes que conte historia estranha ;
Mas fazes-me louvar dos meus a manha.

IV

«Que outrem possa louvar esforço alheio,
Cousa é que se costuma e se deseja;
Mas louvar os meus pingas arreceio
Que louvor tão suspeito mal me esteja;
E para dizer tudo, temo e creio,
Que qualquer longo tempo curto seja:
Mas pois o pedes, meu sabio alforreca,
Irei contra o que devo, e sem dar sécca.

V

«Alem d'isso, o que a tudo emfim me obriga, É não poder mentir no que disser,

Porque de brutos taes, por mais que diga,

Mais me ha-de ficar inda por dizer:

Mas porque n'isto a ordem leve e siga,
Segundo o que desejas de saber,
Primeiro tratarei da larga terra,

Depois de quem na mesma couces ferra.

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