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VI

<Entre o burro gallego, féra feia,
Que ronca, berra, zurra, mas não sente,
E o scismatico mouro, que campeia
Por selvagem, estupido e indolente,
Jaz dos Tanas a terra, a quem rodeja,
Pela parte do Sul, e do Occidente,
Com suas salsas ondas o Oceano,
E pela do Oriente o amigo hispano.

VII

«Da parte donde o dia vem nascendo,
'Stá a terra dos porcos; mas o rio
Que da Alberracim serra vem correndo,
Da Beira-Baixa, impetuoso e frio,

Divide-a ao Norte; e esse mar que horrendo
Vio do luso a grande honra e poderio,
E o vê hoje bastante atrapalhado,

Pelo Occidente a rega dilatado.

VIII

«Lá onde mais debaixo está do polo,
Da coibe e tripa as terras apparecem;
Aquelle abençoado e rico solo,
Cuja pinguinha todos appetecem.
Aqui foi em logar occulto a Apollo,
E quo só certos cabulas conhecem,
Que uma grande porção de brutamontes
Descobriram de parne largas fontes.

IX

«Aqui dos broncos magna quantidade Vivem, que n'outro tempo grande guerra Fizeram, pela atroz rapacidade

Dos que então governavam esta terra:
Mas quem tão fóra estava da verdade,
(Já que o juizo humano tanto erra)
Para que do mais certo se informara,
Ao grande Cabralinho o perguntara.

X

«Agora n'estas partes se nomeia
A terrinha, onde teve grande esfrega
Toda essa burricada que chouteia,
E lições de moral arrota e prega.
Aqui vive um tal Braga Zé Lamprea,
Conhecido por grande céga-réga,
Que refutou Renan, grande magano,
Seu bestunto sem par mostrando ufano.

ΧΙ

«Entre o Porto e Vianna vive estranha
Gente, Beguinos, Tercos e Laponios,
Pés Frescos outro tempo; e na montanha
Buarcos, os habitantes são Bolonios.
Sujeitos a usar do V em banha

São os taes Portuenses e Bragonios,
E outras terras que o Douro e Minho frio
Lavam, e o Lima, Cavado e Ave rio.

XII

<<Entre esse Transtagano, heroe perfeito
Na asneira, e a Andaluzia nossa quʼrida,
Vive o grulha Argarvio, cujo peito
Mal se compara á lingua tão comprida;
E que por atrevido está sujeito

A qualquer fracalhão tirar-lhe a vida;
Pois só quem de prudencia houver arrobas
As pragas soffrerá dos Alfarrobas.

XIII

«Logo do Alemtejo estão as gentes,
A quem de varios rios a agua fria
Lava: e tambem as terras excellentes
Nos costumes, engenhos, e ousadia,
Que crearam os peitos eloquentes,
E os juizos de altiva phantasia,
Com quem tu, Portugal, o ceo penetras,
E não menos por tretas, que por letras!

XIV

«Logo os Beirenses vivem: e no seio
Onde asnidade assaz se praticou,
A soberba Coimbra está no meio

Dos brutos, que mais brutos Deos creou.
Da terra muito fatuo que vem cheio
De sciencias, que lá não estudou,
A cada passo ferra ahi patada
Que é da gente ficar embasbacada!

XV

«Em torno a cerca povo tão ferino,
Como ninguem encontra em outra parte;
N'aquelle bom logar qualquer menino
Sem cheta, bem vivia usando de arte.
Mas depois que queimaram do malino
Lente a porta, e quizeram o gram Marte
Imitar, taes heroes viram-se em pancas:
P'r'a invicta fugiram, dando ás trancas.
XVI

«Leiria alli se vê, que nomeada
Com muitissimas guerras foi no mundo;
Que do Liz e Alcobaça é bem regada,
E do frio Obidos e Arnoia fundo:
Logo então Nazareth tambem fallada
Por um grande milagre, que segundo
Antiguidades contam, mil diabos
Alli mostraram os compridos rabos.

XVII

«Eis aqui se descobre a mais tacanha
Parte, como cabeça á terra toda,
Em cujo senhorio e gloria estranha
Muitas voltas tem dado a fatal roda:
Mas nunca poderá com força, ou manha
Certa gente de bem tirar-lhe a noda,
Que lhe ferrou com tão grande ousadia
A sucia de entrujões que então vivia.

XVIII

«Com o Atlantico entesta, e alli parece
Que quer fechar o grande e soberano
Continente, que tanto se ennobrece
Com a tarefa de um Czar tyranno.
Com povos differentes se engrandece,
Cercados pelas ondas do Oceano,
Todos de tal nobreza, que qualquer
Crê ser o principal: deixal-o crer!

XIX

«Tem muito camafeu chué e avaro,
Cuja boa alma está sempre inquieta;
Muito seringa e estupido preclaro,
Muita gente com typo de pateta;
Tem o velhaco cauto, e o grande e claro
Entrujão, que do mal tocou a meta;
Que arranja de tal modo a comedella,
Que ninguem é capaz de dar por ella.

XX

«Eis aqui, quasi cume da cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba, e o mar começa,
E onde vive muitissimo tyranno.
Este quiz o diabo que empobreça
Dando-lhe p'r'o governo o deshumano
Gentio, tão marruaz, tão indecente,
Que revolta e repugna a toda a gente.

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