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XCIX

Este juiz que vai todo imponente,
Mettendo medo com o rigor das leis,
Deixa ir pela malha um prepotente
Que em notas falseou contos de réis;
Est'outro absolve a femea que impudente
Um homicidio fez dos mais crueis;
Este compra bom vinho e o povo illude
Vendendo meio de agua em cada almude.

ARGUMENTO DO CANTO NONO

Depois de varias combinações e artimanhas, arranja dinheiro a gentinha para a viagem e ha alegria em toda a parentela; prepara-lhe a mercancia uma festa de arromba; descripção da casa e da festa; bebedeira de crear bicho; demonstrações amorosas de todo o calibre; viagem ao sino.

OUTRO ARGUMENTO

Depois de matutar o heroe magano
Achou emfim onde ferrar o dente,

E no cimo de um monte alto e soberano,
O commercio lhe dá festa excellente:
Aqui, tendo bebido a todo o panno,
Faz diabruras a gaiteira gente;'
E com damas gentís até ser dia
Praticam toda a casta de folia.

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CANTO NONO

I

Não durou muito tempo esta anciedade
Da governança aos sabios directores,
Porque sempre a cruel necessidade
É contraria aos tardígrados longores.
Por outra parte, a grande habilidade,
Que provaram em tempos anteriores,
Não consentira que se detivessem
Em arranjar aquillo que quizessem.

II

Lá no seio do oceano onde alongada
Natura a costa lusa distendeu,

De maritimas gentes habitada

Que vivem do que a pesca só lhes deu, Se vê em varias partes levantada, Segundo o mar entrou ou se encolheu, Uma ou outra marinha em que se afana A pobre gente por matar a esgana.

III

Nem sempre do trabalho duro e ingrato
O fructo na algibeira lhes luzia,
E mais ganhavam se roçassem matto,
No monte trabalhando todo o dia.
Mas o habitual e usado tracto
Outra maneira não lhes consentia
De viver (assim é o fado humano)
Senão junto das aguas do Oceano.

IV

N'esta gente os patuscos que alongavam
Os olhos pelos sitios mais distantes,
Por ver se alguma fonte divisavam
D'onde viessem dinheiros abundantes,
Os luzios põem, e logo machinavam,
Nos expertos bestuntos penetrantes,
Planos que a pobre gente arruinassem
E as arcas do thesouro reforçassem.

V

Batem todos as palmas de contentes Quando se fez o portentoso achado, Que á sucia os meios dá convenientes Para marcharem no caminho usado. Folgam os amigos, folgam os parentes, Já conta cada um com o seu boccado; De bocca em bocca corre o ledo aviso Como de rua em rua o cão com guizo.

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