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ARGUMENTO DO CANTO DECIMO

Grande chinfrim no fim da festa; ninguem sabe do que é seu; narração prophetica de Mephistopheles em que passam em revista os mais façanhudos heroes indigenas; ultima despedida da festa; desabafo de mano a mano; mostra o de casa ao hospede todos os seus dominios; descripção das varias partes d'estes e das grandes tratantadas que em todas se praticam; despedida terna e sentimental; vai cada um para sua casa; a scena final passa-se na Ribeira Nova.

OUTRO ARGUMENTO

Exgottados os vinhos e os manjares,
Saem todos chumbados e vinosos;
Conta o Diabo com tetricos esgares

que hão de ainda fazer estes tramposos;
O mano mostra ao mano os mil logares
Onde se fazem roubos espantosos;
E, tendo-se um do outro despedido,
Faz o auctor por fim grande alarido.

CANTO DECIMO

I

Mas já o claro amador da Larisséa
Vinha chegando ás portas orientaes,
E a pouco e pouco a lucida candeia
Se apagava dos celicos fanaes;

Já tinham dado alguns por finda a ceia,
Por não lhes ser possivel comer mais;
Cada um da moafa a custo despertava
E acudia á familia que o chamava;

II

Quando as formosas damas, com os amantes
Em ternissimas falas confidentes,
Aproveitavam os ultimos instantes
Para fazerem juras imprudentes;
Chegava o termo ás valsas delirantes;
Trocavam-se apertões escandescentes;
Nem resistia a feminil fraqueza
Ás doces tentações da natureza.

III

Muitos ainda nas taças crystallinas
Deitavam do licor a viva chamma;
Outros gabavam as feições divinas
Da sua encantadora e gentil dama.
Pelas salas, meninos e meninas
Resmungavam que queriam ir para a cama.
Os creados de farda e galões de ouro
Serviam chocolate e chá pelouro.

IV

O mais experto ao mais dormente anima,
E diz-lhe em tom de voz entre aspero e terno:
«Vamos, rapaz, então que é isso? acima!
Queres que este pagode seja eterno?»
Chama o irmão a irmã, o primo a prima,
Levanta-se balburdia; é um inferno!
E á pressa cada um buscando ia
Os abafos e mantas que trazia.

V

Uns nos casacos de outros se embrulhavam,
Que não andavam claros os espritos.
Alguns mesmo umas calças sobraçavam,
Tomando-as por casacos, os maldictos!
Est'outros os regalos enfiavam

Na cabeça, entre chufas e mil dictos.
Ninguem póde fazer uma pequena
Idéa do que foi aquella scena.

VI

As capas e chapéos foram aos centos
Que se perderam no chinfrim nefando.
Houve protestos, pragas e lamentos,
Mas sem elles o dono foi ficando.
Despejam-se a final os aposentos
E cada qual para casa vai puxando;
E ahi, despindo os sujos atafaes,
Adormecem os brutos animaes.

VII

O caso então notavel succedeu
Que, cahindo no somno mais profundo
Da governança o nobre corypheu,

O mór gajão que Deus deitou ao mundo,
Mephistopheles em sonhos lhe appareceu,
E, arrancando a voz do peito fundo,
Conta-lhe parte da futura historia,

Que eu aqui vou gravar para memoria.

VIII

Merecem tosa de chicote e sôco
Os que ao paiz fizeram o novo estrago
Que contou n'esse sonho o farricoco
Ao pae das velhas e senhor do bago.
Mas eu, que esse recurso não invoco,
Com os meus versos sómente os sóvo e cago;
Porque pela escriptura só pretendo

Ir ensinando aos outros o que apprendo.

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