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LXXVIII

Nunca o Tanas tão pobre se mostrou
De expedientes como tinha d'antes;
Das artimanhas com que se illustrou
Entre a corja dos outros traficantes.
Nem tanto o grão Tunante arremessou
Pitadas pelas ventas fumegantes,

Na enorme queda d'onde sós puderam
Salvar-se dois que menos pulhas eram.

LXXIX

Quantas esperanças fatuas se tingaram
Com as pastas tão queridas e adoradas!
Quantas noivas as flores desfolharam
De laranjeira ha pouco inda compradas!
Quantos contribuintes se alegraram
Livres d'essas harpias maldiçoadas!
Mas vão-se emfim, e do poleiro descem.
Melhor fôra que nunca cá viessem!

LXXX

Vendo o manhoso aldrubio que tão perto
Do fim do seu desejo se perdia,
Que se lhe fôra o ganhosinho certo
Com que aladroadamente a bolsa enchia;
Confuso de temor, da vida incerto,
Onde nenhum remedio lhe valia,
Corre a casa do Chefe de má morte
E em voz de sovelão diz d'esta sorte:

LXXXI

«Amigo Zé, que tanto pão me déste
A ganhar, e jámais puzeste peias
A quem do alheio se regala e veste;
Protector de famintas alcatéas;
Tu, que em Povoa e Meadas obtiveste
Que de ti se dissessem cousas feias,
E ajudaste as proezas do Raymundo
E as partidas que fez por esse mundo;

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«Se pelos meus recursos ardilosos
Fiz entrar tanta chelpa nos mercados,
E mitigar a sêde aos sequiosos

Com os dinheiros de Londres importados;
No fim de expedientes tão rendosos
Não nos deixes de ti desamparados;

Se o estar comnosco em cima não te offende,
Outra vez lá nos põe, que a cousa rende.

LXXXIII

«Oh ditosos aquelles que puderam
Encher o papo em terras africanas,
E que os mares e febres não temeram
Para lá irem explorar esses bananas!
Mas mais ditosos os que cá souberam
As manhas praticar dos sabios Tanas;
Que a vida, é mais prudente aqui vivel-a
Por onde anda a raposa e os filhos d'ella.»

LXXXIV

Assim dizendo, o ouvido arrepiavam
Os sons esganiçados que ia dando;
As unhas mais e mais lhe negrejavam

Com que outr'ora os guinéos fôra empolgando.
Protestos e promessas não faltavam
Com que o chefe se estava recreando;
O seu desejo é ver se a pasta aferra
Para fazer novo emprestimo em Inglaterra.
LXXXV

Mas o finorio rolha moderava
A furia insana com serena fronte,
E com mansas palavras lhe falava
Sorvendo umas pitadas de simonte.
As causas e motivos lhe apontava
Da mudança, e declara-lhe que conté
Que, se algum dia a sorte se lhe vira,
Elle d'aquelle estado o livra e tira.

LXXXVI

«Estas obras do Fontes são por certo,
Disse; mas esperemos, porque em breve
O caminho nos ha de ser aberto
Que ao poder outra vez nos guie e leve.»>
Isto dizendo, como girio experto,
Sacudiu o peitilho, alvo de neve,
E com maneiras muito affectuosas
Despede o outro, e foi regar as rosas.

LXXXVII

D'ahi a pouco os regeneradores,
Em quem o alto rei tanto se fia,
Do governo tornavam-se senhores
Por astucia que a todos illudia.
Conservar determinam por amores
O poder que de novo lhes volvia,
Fazendo entrar as seducções das bellas
Como arma nas politicas querelas.

LXXXVIII

Assim foi; porque cedo não largaram
As pastas que nas mãos se lhe adormecem.
Novas tricas e manhas inventaram
Com que do erario as arcas emmagrecem.
A penitenciaria edificaram,

Onde muitos á farta se enriquecem,
E que, quando ninguem no mundo a queria,
Como alto invento aqui se introduzia.

LXXXIX

Foi de certo excellente e grande meio
Para saciar a turba rapinante,

Que, por ser cousa feita com asseio,
Talvez não venha a ter um habitante.
E é justo; que, pois deu, segundo creio,
O que tinha que dar, d'aqui em deante
É deixal-a cahir, e que a concerte
Quem com obras inuteis se diverte.

XC

Esta sapientissima assembléa

Muitas que taes façanhas obrar sabe;
N'ellas todos os dias se recreia

Para que mais depressa o bago acabe.
Não sabe a sucia tanto bem se o creia,
Que o dinheiro nos bolsos lhe não cabe;
E contente tambem é quem os manda,
Que pela Europa em viajatas anda.

XCI

D'esta maneira os cofres se exgottavam
Por contentes trazer estes senhores;
Rios de ouro por Tancos se espalhavam
Para abafar das tropas os clamores.
Assim os bons costumes se estragavam
E cahiam em odio os corruptores,
Que, tendo enchido a pança á frandulagem,
Viram-se ao fim sem teca para a viagem.

ХСІІ

Já está o juizo a arder d'estes parceiros,
E a ninguem lembra uma medida boa,
Quando do mais matreiro dos matreiros
A voz no coio retumbando soa.

O que milhões sumiu nos Extrangeiros
Nova mina julgou ver pela proa ;

Disse então mestre Antonio Circassiano: «Dei no vinte, ganhei, se não me engano.

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