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CANTO SETIMO

I

Já cada qual o dente afia e ferra
Na nova presa, e a grei devoradora,
Que as nojentas mandibulas descerra,
D'elles se acerca e ao seu senhor adora.
Ora sus, meus bananas, que na terra
Andais cavando e suando a toda a hora,
Preparai-vos para dar d'aqui em deante
O collo ao jugo e as costas ao tagante.

II

A vós, ó bando de idiotas, digo,
Que tão reles papel fazeis no mundo,
Não digo só n'aquelle mundo antigo
Que antes de vós sulcara o mar profundo;
Mas ainda n'esse outro que com perigo
Ganhastes e de vós foi oriundo,
E que depois de longa obediencia
Deixastes escapar sem resistencia;

III

Vós, portuguezes, n'outro tempo fortes,
Tão poucos como agora ou inda mais;
Vós, que á custa de vossas varias mortes,
As minas para os outros explorais;
Tanta asneira fazeis de tantas sortes,
Que por mais que sueis e que façais,
Haveis de dar a lá a quem vos ha de
Vexar sempre sem dó nem piedade!

IV

Vêdelos Allemães, soberbo gado, Que Bismark aos varaes a custo aguenta, "Sacode a canga pontificia ousado

E quer livre pensar sem agua benta.
Vêdelo grande, rico e illustrado,

E que cada vez mais se eleva e augmenta,
Não por tyrannizar o espirito humano,
Mas por vencer o obscurantismo insano.

V

Vêdelo duro Inglez, que em vossa veia,
Quando enchieis de espanto a christandade,
Vinha matar a sêde, e hoje se arreia
Com o que vosso era só de juro e herdade;
Não já nas boreaes neves se recreia,
A meio mundo impõe sua vontade;
Vai sempre para deante, e não recua,
Porque trabalha, inventa, estuda e sua.

VI

Guardado inda lhe tendes, bem o sei,
Algum poder maritimo e terreste,
Emquanto elle respeita a santa lei
Das gentes e no todo não se investe.
Pois do inquieto Francez que vos direi?
Que ao som da Marselheza, hymno celeste,
O rei que tem, não tarda em derribal-o
Para por leis liberrimas trocal-o.

VII

Vêdelo á busca vai de senhorios,
Apesar do seu ser tão largo e tanto;
De Africa as terras explorando e os rios
Com diligencia tal que causa espanto,
E ensinando aos barbaros gentios
A ler da liberdade o nome santo.
Vêdelo após uma cruenta guerra
Novo Anteu resurgir, tocando a terra.

VIII

Pois que direi d'aquelles que ás delicias
Fugindo, que o vil ocio traz comsigo,
Querem com a lida conquistar divicias,
Esquecidos do seu torpor antigo?
Contra as papaes catholicas nequicias
Fazem do povo todo um inimigo.
Comtigo, Italia, falo, outr'ora immersa
Em vicios mil, e agora tão diversa.

IX

Ó estupidos boçaes, pela ventura
Sois carneiros lanzudos e nutridos,
Em que se ceve a rija dentadura
Dos comilões, da vossa lã vestidos ?
Não vêdes que não ha cavalgadura
Que não tracte de ter-vos opprimidos,
Fazendo-vos cavar a dura terra

Ou os filhos levando-vos para a guerra?

X

Vêdes que teem por uso e por decreto,
Do qual são tão inteiros observantes,
Por um conluio unanime e secreto,
Pôr-vos na condição de mendicantes,
Deixando-vos apenas o esqueleto,
Para terem riquezas abundantes.
Olhai se vos livrais de taes amigos
Que a palha vos dão só, levando os trigos.

ΧΙ

Crêdes acaso que esses senhorios,
Que dão inveja ás gentes europeas,
Indicas terras, africanos rios,
De ouro abundante inextinguiveis veias,
Podem ser vossos, se não tendes brios,
E não hão de passar a mãos alheias?
Se estimulo nenhum já vos levanta,
Ide peregrinar para a terra santa.

XII

Aquellas invenções uteis e novas
Da agricultura, industria e engenharia,
Já vos deviam dar bem claras provas
De que só o trabalho tem valia.
Deixai-vos de cantigas e de trovas,
Lidai, volvei a terra que vos cria,
E já vereis vossa familia rica,
E em terra esta monarchica futrica.

XIII

Padrecas, medalhões e palacianos,
Que estão tirando a pelle ao povo bruto,
Malandros da politica, ciganos,

A quem pagais grandissimo tributo;
Esses de quem servis parabolanos
Sois; toda essa canalha e gado astuto,
Se no honesto labor fosseis constantes,
Teria que ir comer palha para Abrantes.

XIV

Mas não passais d'uns asnos, d'uns jumentos,
Que estais pedindo albarda, ó gente insana;
Que só tendes na lingua atrevimentos,
Mas deixais que vos toquem a pavana;
Dais o vosso dinheiro e dão-vos tentos,
Com que se o povo rude e nescio engana;
Oh quem com bom chicote vos tosara,
A ver se o sangue ao rosto vos chegara!

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